Foi um prazer, capitã

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Melissa:
A primeira noite na casa nova. Sozinha. No meio de caixas e malas espalhadas, o silêncio era a única coisa que fazia companhia. Londres parecia enorme, fria, e eu? Pequena. Mas não era medo. Era aquele tipo de sensação que vem quando você sabe que está começando de novo - uma mistura de empolgação com saudade apertada.

Comecei a desfazer as malas como se estivesse colocando a vida em ordem. Roupas, sapatos, acessórios... Cada peça que eu pegava parecia carregar uma memória do Palmeiras, dos treinos, das resenhas. O casaco verde, por exemplo... Ah, isso me fez travar por uns segundos. Lembrei dos meninos, das piadas e das manhãs tumultuadas. Suspirei e falei sozinha, rindo da minha própria melancolia:

- Quem vai aparecer na minha casa todo dia agora? Quem vai me chamar de "estressada" nos treinos?

Eu sabia que Londres tinha suas promessas, mas também sabia que não seria fácil. Deixar para trás pessoas que marcaram cada fase da minha jornada era doloroso. Mas, enfim... A vida segue, né? E se tem uma coisa que aprendi jogando, é que a gente precisa sempre olhar pra frente.

Enquanto eu organizava a última mala, uma sensação de vazio começou a se instalar em mim. A cada peça que guardava, uma parte do meu coração parecia ficar para trás. Lembrei-me das longas conversas com Alice e Ana Laura sobre nossos sonhos, da risada alta da Lívia que sempre iluminava nossos treinos e das provocações que tornavam nossa amizade tão especial. Aquele silêncio em volta era tão opressivo, tão distante da barulheira que eu estava acostumada.

A mesa na sala, ainda vazia, parecia um reflexo do meu estado emocional. Olhei para ela e me vi ali, em meio a memórias e incertezas, como se esperasse por algo ou alguém que nunca chegaria. A saudade começou a se acumular, apertando meu peito. Era como se eu estivesse jogando uma partida sem saber as regras, sozinha em um campo que não era o meu.

Com a respiração entrecortada, lembrei do dia em que decidi ir para o Palmeiras, como se tivesse me jogado em um sonho. A ideia de deixar o Brasil e tudo o que conhecia para trás era assustadora, mas ao mesmo tempo cheia de possibilidades. Fechei os olhos e tentei recordar o cheiro da grama do campo, as vozes dos meus amigos e a vibração das vitórias. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, mas eu a sequei rapidamente. Não queria me permitir cair na tristeza.

-Vamos lá, Melissa. Murmurei para mim mesma, forçando um sorriso. Você não está sozinha. Você só precisa se adaptar.

Respirei fundo e me lembrei das novas colegas de time do Chelsea. O time estava repleto de talentos, e eu esperava que elas fossem legais e me aceitassem bem. Não as conhecia ainda, mas tinha a esperança de que, assim como os meus amigos, elas também se tornariam uma nova família. O futebol era o que nos unia, e as conexões que eu faria poderiam, quem sabe, ajudar a suavizar essa saudade.

Levantei-me e fui até a janela, observando a movimentação do lado de fora. As pessoas passavam apressadas, cada uma com seu próprio mundo, seus próprios problemas e sonhos. A vida continuava, e eu precisava acompanhar o ritmo. Um pequeno sorriso se formou nos meus lábios enquanto eu pensava nas risadas que viriam, nas jogadas em equipe e nos momentos de descontração.

Decidi que, assim que o dia amanhecesse, iria ter o meu primeiro treino no CT do Chelsea e depois me aventurar pela cidade, conhecer novos lugares, experimentar a culinária local e, claro, me preparar mentalmente para o meu primeiro jogo com o time. Isso tudo poderia ser o começo de algo maravilhoso.

Com essa nova determinação, voltei para o meu trabalho. Olhei para as caixas com renovado vigor e continuei a desfazê-las, agora com uma sensação leve. Afinal, cada peça era uma parte da minha história, e eu ainda tinha muito a escrever. O medo e a saudade estavam lá, mas agora havia uma nova perspectiva, uma esperança de que, em Londres, eu poderia encontrar o que tanto buscava: um novo lar, novos amigos e, quem sabe, novas aventuras.

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