Eu vou ser titia de novo!

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Melissa:
Depois de dar meu recado para Clara e reconquistar o coração da Mancha Verde, fui direto para os bastidores do Allianz Parque. Cada parte do meu corpo ainda vibrava com a adrenalina do momento. Fechei os olhos por um instante e respirei fundo, tentando acalmar a mente. Sabia que a luta mais difícil não tinha sido aquela com Clara. Agora, eu precisava preparar as meninas para o verdadeiro desafio: vencer o Santos.

Quando entrei no vestiário, encontrei as jogadoras sentadas, algumas com as cabeças baixas. A tensão no ar era quase palpável, mas aquilo precisava mudar. Bati palmas, chamando a atenção delas.
— Bora, guerreiras! — anunciei, com a voz firme. — Quero energia lá em cima! Hoje não é só um jogo, é sobre honra. O Santos tá vindo com tudo, mas aqui é Palmeiras! E aqui ninguém abaixa a cabeça!

Circulava entre elas, dando toques nos ombros e distribuindo sorrisos para aliviar o clima. Mas, de repente, senti que tinha algo errado. No canto da sala, Alessandra - minha amiga de longa data e esposa do Scarpa - estava sentada, pálida, segurando o estômago e respirando com dificuldade.

Aproximei-me rápido, o coração disparado.
— Ale, o que tá pegando? Tá tudo bem? — perguntei, agachando ao lado dela.

Ela tentou sorrir, mas estava claro que não era sincero.
— Tô bem, Mel... Só meio enjoada.

Eu conhecia aquela cara. Alessandra mentindo pra mim? Não mesmo. Cruzei os braços, encarando-a com um olhar firme.
— Ale, para com isso. Eu te conheço. O que tá acontecendo?

Antes que ela pudesse responder, Lívia, uma das companheiras de time, soltou uma bomba:
— Mel, ela precisa te contar a verdade.

Meus olhos foram de Lívia para Alessandra.
— O que você tá escondendo? Fala logo! — exigi, com a paciência se esvaindo.

Alessandra suspirou profundamente, como quem carrega o peso do mundo.
— Mel... Eu tô grávida.

A notícia me pegou como um tapa na cara. Fiquei alguns segundos em silêncio, tentando digerir aquilo.
— Como é que é?! — exclamei, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. — Grávida? Você ficou maluca? Como veio pra esse jogo sabendo disso?

Levantei de supetão, passando as mãos pelo cabelo, tentando controlar a mistura de preocupação e raiva que subia pelo meu peito.
— Ale, você tem noção do risco? Se alguém te der uma entrada mais forte, pode machucar você e o bebê!

Ela mordeu o lábio, visivelmente cansada.
— Eu só descobri ontem... Não consegui deixar o time na mão assim, de última hora.

Bufei, frustrada.
— De última hora? Isso aqui não é só futebol agora. É sobre você e essa criança! Você devia estar em casa, descansando, e não metida num clássico desses!

Alessandra abaixou a cabeça, arrependida.
— Eu sei, Mel... Mas precisava estar aqui. Não ia conseguir deixar vocês sozinhas.

Respirei fundo e me ajoelhei ao lado dela de novo, desta vez mais calma.
— Eu entendo, amiga... Mas não posso deixar você entrar em campo desse jeito. Nem por você, nem pelo bebê.

Ela me olhou com um misto de cansaço e gratidão. Pela primeira vez naquela noite, vi um sorriso sincero aparecer em seus lábios.
— Então... você vai ser titia de novo.

A raiva se dissolveu, e meu coração se encheu de alegria. Abracei Alessandra com força.
— E eu vou mimar esse bebê mais que tudo, pode apostar!

Depois do abraço apertado, levantei e virei para o time, batendo palmas de novo.
— Certo, meninas! Agora que temos uma futura mamãe entre nós, quero ainda mais garra nesse jogo. Hoje a gente joga por nós e pela Alessandra. Vamos fazer valer a pena!

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