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Vitória Almeida

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Vitória Almeida

Garoto conhece garota, garota acaba com um coração partido. Quantas vezes você já ouviu essa história? Eu tenho uma dessas. E ela veio acompanhada de uma maldita frase patética, clichê, que me fez sorrir como uma idiota:

— Se você me der o seu número, todos os meus gols do campeonato serão seus.

Foi bem ali que me apaixonei. No gramado do CT, enquanto tirava fotos dos jogadores, e pulava de susto por uma de suas cantadas baratas. Encarando-me com os olhos castanhos brilhantes, cabelo perfeitamente penteado para trás e aquele maldito sorriso.

Hoje em dia não existe uma alma se quer que goste de futebol e não conheça Richard Ríos. Mas eu? Eu o conheci quando ele assinou contrato com o Flamengo, eu estava lá, eu tirei suas fotos, eu participei da sua coletiva de imprensa, eu estava presente nos jogos, nos treinos.

Sempre tive uma queda por ele. Céus, eu não era idiota, quem não se interessaria por aquele cara? Mas eu não queria ser apenas mais uma e ainda assim, fui. Ele me surpreendia quando me encontrava, repetindo que sua promessa estava de pé. Eu lutava para não cair pelos seus encantos, porque os garotos maus de intenções perversas são perigosos, mas os bons de sorrisos fáceis são hipnotizantes e o Richard estava em algum lugar pelo meio.

Por isso era difícil demais resistir, ele sabia fazer uma garota se sentir bem. Então, semanas depois de sorrisos trocados pelo CT e gargalhadas roubadas pelos corredores, eu entreguei meu número. Ele cumpriu sua promessa e fez todos seus gols serem meus. Por meses.
Conheci o menino por trás da marra. O garoto que corava quando éramos só nós dois na cama, sorrindo em silêncio, com todos os “eu te amo” ditos e não ditos.

Diziam que eu era apenas seu passatempo e que o Richard dormia com
todas. Diziam que eu tinha fodido metade dos caras dos times em que eu
trabalhava. Nada disso parecia nos importar. Tínhamos a verdade clara
quando éramos nós dois juntos e nada mais. Meus lençóis, de repente, tinham o seu perfume. Eu ficava sorrindo contra a janela, esperando que ele aparecesse.

Eu fui sua. Ele fez questão de gritar isso para todo mundo ouvir. Mas, eventualmente, chegou o plot-twist previsível para quem é expert
na vida real: Richard seria emprestado e eu ainda tinha muito para trabalhar, se quisesse conquistar os meus sonhos. Era uma chance mínima, quase impossível, mas eu não queria desistir ainda.

Na noite anterior a que tudo ruiu, eu me aninhei em seu peito, triste por pensar que namoraríamos a distância e olhando nos seus olhos, brilhantes e tão lindos, eu acreditei nele. Acreditei mesmo, e prometi que seria sua casa e poderia sempre voltar para mim, prometi com palavras, beijos, toques e movimentos pecaminosos dentro do meu quarto.

No dia seguinte, terminamos. 9 meses depois, na maca de um hospital, eu encarava dois olhos idênticos aos dele, tentando desesperadamente não chorar por ser tão burra. Por ter acreditado nos contos de fadas, quando a vida inteira fui ensinada a sonhar com os pés no chão e lutar por cada maldita merda na minha vida, já que nada se ganha fácil, mas tudo se vai em um sopro.

Eu estava chorando quando precisava ficar feliz por ela. Por meu pequeno milagre. Tão pequena, tão linda e tão minha. Minha mãe se sentou na beira da maca, acendendo a vela em um cupcake, a única coisa que conseguimos comprar para o meu aniversário. E, agora, aniversário dela também. Eu a assoprei e fiz um pedido, odiando as lágrimas que deslizaram sobre meu rosto e caíram na criaturinha nos meus braços. Eu pedi para aquela ser a última vez que eu choraria por Richard Ríos Montoya.

O timing irritante fez o pedido perder o sentido no instante seguinte. Porque o noticiário na televisão mostrou o novo contratado de um time. O pai da minha filha. O cara que sorria, não parecendo sequer lembrar que dia era aquele. O meu dia. O dia que deveria estar conosco, se fosse o homem por quem me apaixonei. Mas ele não era.

Minha mãe desligou a televisão. Eu peguei o celular, precisando de um motivo para lembrar que odiá-lo deveria ser, sempre, um mecanismo de sobrevivência. E ali estava o motivo: a foto do teste de gravidez, após inúmeras ligações, esperando por uma resposta. E ela veio.

“Como vou saber que é meu?”

Olhei para o minha filha, de fato, ela jamais seria de um covarde. Ela seria
de uma mulher corajosa e forte o suficiente para jamais implorar pelo amor de um pai que não a quis.

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