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Vitória Almeida

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Vitória Almeida

A primeira coisa que minha mãe me disse, naquele hospital, quando Maju dormiu nos meus braços pela primeira vez, foi que eu entenderia que nada na vida é cem por cento concreto ou imutável quando se trata do amor, principalmente pelos nossos filhos. Que eu entenderia o que era ser mãe, finalmente.

Só entendo o que ela disse agora. Eu jurei, naquele quarto, que nunca mais queria ver Richard novamente. Que ele nunca chegaria perto da Maju. Mas era mentira e, no fundo, eu sabia. Cada foto que tirei durante a gravidez e depois, cada vídeo que gravei, desenho que ela fez… Tudo. Absolutamente tudo, no fundo, tinha uma dose ínfima de esperança que, algum dia, haveria alguém que se interessaria em ser pai dela e em descobrir tudo sobre seus primeiros anos. Talvez, até mesmo, ele.

Minha mãe se questionava se a história estava correta. Se o garoto doce que ela conheceu tinha mesmo se negado a ser
pai. E me dizia que, se em algum momento, ele mudasse de ideia, eu
deveria considerar. Eu estalava a língua para o assunto, mas… Aqui estou eu, cogitando em dar uma chance de ouvi-lo, depois que o Diego nos trouxe em casa eu nem consegui me concentrar direto no nosso jantar de aniversário que já era tradição desde que Malu nasceu, e meus pais sempre vinham do Rio e passavam alguns dias com nós duas.

Depois do jantar, tomei um banho e deitei sozinha já que a minha filha me trocava facilmente quando os avós estavam aqui. Encaro a tela do celular enquanto brigo internamente entre mandar ou não, aquela mensagem que eu digitei e apaguei não sei quantas vezes. E então finalmente aperto o botão de enviar.

Pedi que me encontrasse em um restaurante próximo ao CT, a maioria dos jogadores, comissão técnica e funcionários de ambos os times frequentavam aquele lugar, então não levantaria suspeitas se nos vissem juntos.

...

— Obrigado por aceitar me ouvir Vi. — Ele diz assim que senta na mesa, fiz questão de sair de casa cedo antes que a Maju tivesse acordada.

— Eu só quero encerrar esse assunto de uma vez por todas.

— Se passaram quase 5 anos Vitória eu não sou o único culpado aqui.

— De novo Richard? Foi você que a rejeitou, você sabia da gravidez.

— Porra Vitória, você terminou comigo do nada, depois de todas as promessas que fizemos, e dias depois estava agarrada com outro, como acha que eu me senti ?

— Agarrada com outro ? Pelo amor Richard, eu sempre deixei claro que o único jogador que eu fiquei foi você.

— Eu vi as fotos Vitória.

— Que porra de fotos você está falando ?

— Eu recebi várias fotos de você abraçada com o Vinicius logo depois que você terminou comigo e dias antes de me mandar a foto do teste, eu estava magoado por ter sido trocado e com raiva eu sei que não justifica mas foi só por isso que eu mandei aquela mensagem.

— Eu não faço ideia do que você está falando Richard, eu nunca fiquei com o Vinícius ele sempre foi meu amigo, antes mesmo de você chegar no time.

— Se aquelas fotos eram mentiras porque você terminou comigo então?

— Porque você mentiu, você me traiu.

— O que ? Eu nunca te traí Vitória.

Diferente dele eu guardo absolutamente tudo, então procuro no celular a foto que recebi anos atrás e mostro pra ele, que encara o celular por um tempo antes de devolver.

— Eu lembro desse dia, e posso te garantir que não aconteceu nada. Elas invadiram o quarto, o time pressionou para que eu me divertisse e eu disse
que namorava, sei que pelo ângulo
realmente parece que eu tava beijando, mas, eu só me abaixei para perguntar se ela estava bem, eu te dou a minha palavra que não aconteceu nada. No outro dia quando eu acordei as suas mensagens terminando comigo estavam lá.

Ele faz questão de manter o contato visual. Eu luto para fazer o mesmo,
mas sou honesta.

— Preciso de tempo para acreditar.

— Eu entendo.

— Passei quase cinco anos com uma versão sólida na minha cabeça…

— Eu entendo, e quero que saiba que eu nunca te traí, Vitória.

— Queria acreditar em você — confesso.

Ele suspira, derrotado.

— Um dia, você vai — ele promete, mais para si do que para mim.

Mordo o canto da boca, cansada. Melhor puxar o band-aid de uma vez, não?

— O que disse para ela ?

— Que você foi embora. Que não estava pronto para ser pai e foi embora, mas o problema jamais foi ela. Ela nunca fez nada de errado. É que alguns pais não merecem os filhos que tem.

— Vitória…

— Prezo pela honestidade. Falo com jeito, Richard, mas sou sincera. Só
não contei quem você era.

Ele assente, pela milésima vez.

— Quero mudar isso.

— Como?

— Quero mostrar que sou o pai que ela merece ter, Vi. Quero ser tão bom quanto você foi. Quero dividir as contas, quero criar ela, quero pagar um pouco pelos últimos anos.

— Richard…

— Perdi o primeiro passo, primeira palavra, primeiro aniversário. Quero
estar aqui nas próximas primeiras vezes. Quero estar aqui em tudo.

— E quando surgir outra proposta ? Se for embora, isso irá quebrá-la. Se der um pai para Maju e tirar isso dela…

— Eu largaria o futebol por ela. É isso que quer ouvir ?

Engulo em seco. A conhece há 24 horas e já diz isso. O pior ? Uma boa parte de mim quer acreditar.

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