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Richard Ríos
A luz não demorou pra voltar, mas de qualquer forma, ela quis voltar para casa. E eu não seria doido de deixá-la voltar pra casa sem carro, sozinha, tão tarde. Vitória está saindo da casa quando corro atrás dela.
— Espera! — Ela me encara por cima do ombro e para.
— Quer mesmo ir embora?
— Quero ir pra casa — diz, cansada.
— Sozinha?
Vitória ergue o rosto um pouquinho mais, devagar, e seus olhos brilham.
— Por que? Quer ir comigo, jogador?
— E te proteger dos perigos de São Paulo, donzela? Com certeza.
Ela rola os olhos.
— Como se fosse um príncipe encantado com uma princesa indefesa.
— É o meu faz de conta favorito. Exceto que a princesa é raivosinha e nada indefesa, mas o príncipe quer protegê-la de qualquer modo.
Vitória sorri. É um sorriso contido e discreto, mas é um sorriso.
— Pode me levar, então, principezinho.
O caminho não é tão silencioso quanto eu imaginei. Vitória e eu conversamos sobre Maju por cada segundo. Acho que começou quando ela brincou que mal podia esperar para voltar pra casa e dormir agarrada ao coala de pelúcia, já que Maju dormia com os netos da vizinha hoje. E de repente nos tornamos pais babões falando sobre como sentíamos falta dela.
— Foi o dia que mais a vi feliz — ela confessa.
— Bom saber. Gosto de pensar que a fiz feliz. Pelo menos um pouco.
— Acho que ela já te ama por tudo o que você faz desde que chegou.
— É pouco perto do que tenho que fazer.
— Talvez seja, Richard, mas você precisa começar por algum lugar. E está começando bem, está indo pelas beiradas, mostrando-a quem é, tentando entender como ela funciona, o que ela sente, pensa, ama. E, aos poucos, vai entender que ela já adora você.
— Se fizer um teste sobre “como ser pai e descobrir se sua filha te ama”, vou passar?
— Bom, talvez ? Digo, tenho medo das perguntas sobre adolescência, quando eu questionar “o que vai fazer se sua filha fumar maconha?” e você provavelmente responder “fumar com ela, se for das boas”.
Gargalho do que ela diz e da voz que faz e percebo que é essa a Vitória que conheci. A garota por quem me apaixonei. Ela está bem aqui. Sem barreiras. Vulnerável. Engraçada pra cacete. Seguimos em silêncio por mais algum tempo e é confortável.
— Não está mesmo distante — ela murmura e eu lembro do que disse.
— Acha mesmo?
— Não é difícil se encantar por você, Richard Ríos.
Ela não olha pra mim ao dizer isso, mas sei que percebe o peso das suas palavras. Chegamos à seu apartamento e Vitória se vira para mim. Eu a encaro, me aproximando devagar. Meu coração troveja no peito.
— Não vai contar pra ninguém, certo ?
Sei do que está falando e sorrio.
— Pode fingir que me odeia no dia seguinte, linda — digo.
Vitória se aproxima devagar e passa os braços em torno do meu pescoço. É seu agradecimento pela noite e sei disso. Eu deito a cabeça em seu ombro, inspirando seu perfume, e minhas mãos tocam sua cintura, a mantendo próxima. É quando sua respiração muda. Quando a minha parece cessar. Acaricio a sua cintura, a pele nua entre a calça e o top, e ela acaricia a minha nuca, sem querer me soltar.
Seu perfume segue me inebriando. Ao mesmo tempo, meu coração bate forte, mas seu ritmo compete com outro que dispara contra a minha pele. Eu sinto seus batimentos. Eu escuto como respira. Cada pedacinho dela dizendo que não quer me soltar. Que, na verdade, quer mais. Devagar, afasto a cabeça da sua, a fim de estabelecer uma distância segura, mas seus lábios pairam próximos demais dos meus. E eu sinto que estou fodido.
Brinquei com fogo a noite toda, mas tenho medo para caralho de me queimar. Não é pelo que pode acontecer agora. É pelo depois. Não quero que me beije se vai se arrepender depois. Não quero que essa boca me toque se vai falar que foi um erro. Não quero que esse momento seja sensacional e nos quebre, nos corrompa, nos afaste se acontecer cedo demais. Mas sua boca está próxima demais para que eu consiga pensar e minhas pálpebras pesam quando sua respiração acaricia meus lábios.
Fácil assim meu coração acelera como se eu estivesse em perigo eminente. É quando me dou conta. Estou correndo risco de beijar Vitória, e eu sinto que se fizer isso, não vou conseguir parar. O que é um grande, grande problema. Principalmente porque no instante seguinte, meus olhos encontram permissão nos seus e nossos universos se unem através das nossas bocas. E é mais explosivo do que duas estrelas em colisão.