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Richard Ríos
Leva cinco minutos ou mais, eu não sei dizer. Não sei se o tempo ainda passa quando ela diz:
— Eu tenho vovós também? — Seu tom é hesitante, machucado. Sinto que procura o que perguntar, como entender tudo isso. Como me encaixar na sua cabeça como um pai que não sabia que tinha.
— Sim, mas eles não moram aqui.
— Não? E onde eles moram ?
— Na Colômbia.
Ela ainda nos encara, seu peito sobe e desce devagar, indicando que quer chorar.
— Se não tem família… Com quem você vive?
— Tenho amigos, tenho meu time. Essa é a minha família. Nem sempre precisamos ter o mesmo sangue para sermos a mesma família. É sobre o que sentimos, tanto que estou aqui te pedindo uma chance de ser isso pra você, se quiser. Você já é minha filha e quero ser seu pai, entende?
Maju não responde de imediato. Vitória seca o rosto quando sente que ela a observa.
— Entendi — ela murmura, mas nitidamente não entendeu tudo. Isso me dilacera. É a pior conversa que tive na minha vida. Não sei o que eu esperava, mas ser um estranho que precisa ser aceito pela minha filha não era exatamente o que eu queria quando planejava bebês com Vitória.
Maju é, definitivamente, meu maior sonho. Mas a sensação é que parte desse sonho foi rasgada, roubada de mim, e agora tenho que travar a luta da minha vida para resgatar fragmentos de um amor corrompido. Eu só queria que ela entendesse que estou aqui por ela e nunca vou embora. Que nunca quis ser o motivo para um vazio no seu coraçãozinho.
— Ela precisa de um tempo pra processar — Vitória me diz e eu entendo, tentando sorrir para o modo como ela murmura algo para si, tentando repassar o que contamos.
Um silêncio estranho preenche o ambiente e eu não sei o que eu esperava. Não sei o que ela esperava. Mas me sinto mal. E não sei como vou reagir se ela não me aceitar. Vitória faz o pedido para os dois e eu digo que quero o mesmo que ela, perdido no clima do jantar. Até que uma voz pequena ecoa:
— Ei. Ficar sem família é triste. Mas eu acho que gosto de você.
Imediatamente as lágrimas se formam e me escapam. Meus lábios se curvam e meu sorriso ocupa meu rosto inteiro. “Eu gosto de você”.
— Gosta?
— Gosto. Tô confusa, mas você é… você.
Vitória acaricia a cabeça dela e me dá um sorriso sincero. Ela fez um ótimo trabalho. Vou ter que lutar muito para estar à altura.
— Ei, florzinha… Por que não o abraça um pouco ? Para fazer ele se sentir melhor?
Vitória sugere e Maju me encara, apreensiva, e então salta do colo da mãe, correndo em minha direção e pulando no meu colo. Seus braços estão ao redor do meu pescoço antes que eu consiga processar e… É muita coisa para processar.
Eu abaixo a cabeça, sentindo o perfume dela, o calor do seu corpo pequeno contra o meu, suas mãos se encontrando atrás do meu pescoço e algo se rompe. Choro em silêncio, deitando a cabeça no seu ombro, apertando-a mais forte que posso, não quero deixá-la ir. Não quero deixá-la ir nunca mais.
Apoio uma mão na mesa, mantendo ela perto de mim com a outra, precisando me segurar em algo com mais firmeza ou vou quebrar. Porque nunca amei nada assim. Porque estou com medo de estragar tudo e não ser bom o suficiente. Porque hoje é realmente o dia que minha vida muda. Percebo dedos lentamente se aproximando dos meus, hesitantes.
E Vitória para, por um milésimo de segundo, mas viro minha palma e ela a aceita. Seus dedos reconhecem minha mão lentamente, cada linha, até se entrelaçarem aos meus. A eletricidade que surge do toque rasga meu corpo por inteiro, com uma falsa suavidade. E, mais uma vez, nenhum dos dois precisa dizer nada.
Não sei em que ponto depois do abraço nós passamos a ouvir suas histórias e gargalhar com elas, mas Maju é… Contagiante. Me peguei trocando sorrisos contidos ou gargalhadas com Vitória algumas vezes.
— Obrigado por essa noite, Vi.
— Agradeça multiplicando essa noite por dias… e anos. E cada segundo que puder passar com ela.