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Vitória Almeida

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Vitória Almeida

Eu não acreditei quando cheguei em casa e encontrei o Richard jantando com os meus pais e a minha filha, eu realmente não esperava por isso, assim como não esperava pelo convite dele de levar Maju ao parque no sábado, confesso que não queria aceitar. Concordei em ele ser o pai da Maria Júlia, isso não inclui que tenhamos algum tipo de relação.

...

Abro o banco do carona, respirando fundo no pequeno instante em que
estou apenas com Maju no carro, mas logo Richard se junta a nós. Ele coloca uma música para tocar, e Maju assiste as nuvens e carros conforme traçamos o trajeto de uma hora até o parque. Tento não observar Richard dirigir, nervosa, mas sua voz grave e baixa me estremece.

— Está estranha. — murmura, aproveitando que Maju está cantando Justin Bieber no fundo do veículo. Viro o rosto para o meu ex.

— Estou normal.

— Te conheço, Vitória. Está estranha.

— É impressão sua.

Ele estala a língua, duvidando.

— Obrigado por isso, de qualquer modo.

— O que ?

— Vai ser um dia especial. — confessa, sorrindo, me olhando de relance antes de voltar a focar na direção.

Um braço está esticado, agarrando o volante. O outro, despojado, está livre. E é... droga, é meio sexy. Não ajuda que a felicidade contagiante do novo pai do ano derreta minhas entranhas. Richard Ríos é perigoso. Muito perigoso. Eu sei que é. Ainda assim, engulo em seco, abalada por sua honestidade. O que só piora quando diz:

— Espero que seja um dia especial pra você também.

E eu sorrio, mesmo tensa. Porque talvez seja.

...

— Eu quero ir de novo! — Maju anuncia,  arrastando Richard pela mão.

— De novo?!

— De novo, papai!

Rio baixinho, vendo-os caminharem até a montanha-russa infantil. É baixa, muito baixa, e tem uma velocidade quase nula perto da que os adultos usam, mas isso é o evento mais selvagem que já viveu.

— Estou ficando tonto - Richard dramatiza.

— Não tá nada! — Maju grita.

E, fácil assim, me pego tirando mais fotos dos dois na montanha russa. E
na roda gigante. E competindo uma corrida até os carrinhos bate-bate. Ou o
carrossel. Ou barraca de sorvete, algodão doce e... Deus, eu deveria limitar
o açúcar nessa criança. Mas é o dia mais feliz da sua vida. Tanto que a covinha não para de afundar o seu rosto e o mesmo acontece em Richard. É tão bom de assistir que o incômodo por estar cedendo à magia do jogador diminui um pouco. E eu acho que magia é a palavra
certa. Porque tudo sobre ele, principalmente quando está com Maju, parece meio mágico hoje.

Me sinto meio encantada. E é uma merda. Mas talvez pensar demais nisso seja pior.  Minha filha está se divertindo. Richard está se divertindo. E eu não deveria buscar motivos para não fazer o mesmo. Em algum momento, os dois saem de mais um brinquedo, exaustos.

— Cansado? — pergunto e ele me encara, sorrindo.

— Eu treino como um condenado boa parte do ano. — Sua máscara quase me convence, mas seu sorriso se contorce em uma careta. — Mas, sim, meu Deus!

Gargalho e ele me acompanha, entendendo completamente. Acompanhar uma criança é para poucos. Mas pelo seu sorriso enorme, ele está longe de reclamar.

— Papai!

— Oi gatinha. — Richard se agacha à sua frente. O brilho nos seus olhos é mais forte do que o sol. Não estou exagerando.

— A mamãe ama ursinho de pelúcia.

— Ela ama? — Richard olha pra mim.

— É romântico. — Maju conta, como um segredo sujo, e eu engasgo.

— Maria Júlia!

— Onde tem urso por aqui ?

— Ali! — Ela aponta para um jogo de tiro ao alvo e Richard me encara, se levantando e segurando a mão da nossa filha.

Nossa.

Deus, o pensamento foi tão natural.

— O panda ou o coala?

— Richard... Está brincando? — pergunto, rindo.

— Eu também quero um, mami. — Maju me encara com seus olhos pidões e eu suspiro.

— Podemos fazer uma competição, nós dois. O melhor prêmio fica com a Maju. O segundo melhor é seu. — Richard sugere e eu... Eu aceito, mexendo a cabeça antes que me dê conta.

Nos aproximamos da barraquinha de tiro ao alvo. O maior prêmio é um urso enorme. Mas o coala lilás é muito mais bonito. É fofo pra cacete e...eu realmente amo brinquedos de pelúcia. É uma pequena rachadura no meu coração de gelo.

— Quer ir primeiro, linda?

O encaro quando apoia uma mão nas minhas costas. Maju nos assiste em
expectativa e eu umedeço os lábios.

— Pode ir.

Richard sorri, sem jeito, e paga ao funcionário do brinquedo. Depois pega
a espingarda falsa. Firme, com uma postura segura, ele suspira e começa as suas tentativas.

Ele atira as três vezes nas garrafas de maior pontuação, que derrubam outras e outras... E Maju solta um gritinho, empolgada. Meu coração derrete quando ele a entrega um urso azul enorme, de pelúcia, que Maju abraça
como se sua vida dependesse disso. Seus olhos alcançam os meus com uma doçura desconcertante, quando sussurra:

— Sua vez, Vi.

E eu suspiro, tensa, quase tremendo ao segurar a espingarda. Richard paga pela minha jogada e eu solto mais uma lufada de ar, apenas em senti-lo atrás de mim. Erro feio a primeira tentativa e bufo, frustrada. Sou péssima nisso. Eu
queria não ser péssima nisso na frente deles.

Richard parece ler meus pensamentos, porque coloca Maju sobre a bancada e fica atrás de mim.

— Posso?

— O q-que?

— Te ajudar.

O encaro por cima do ombro e minha respiração descompassa. Perto demais. Tentador demais. Tudo me desconcerta
Assinto, depois de tempo demais encarando-o como se um terceiro olho
tivesse nascido em sua testa. Viro o rosto para frente e Richard aproxima a boca do meu ouvido, o que é uma péssima ideia, porque sua respiração faz cócegas na minha pele e eu sinto meus batimentos pelo corpo todo. Minha boca seca, minhas pálpebras pesam e eu umedeço os lábios, tendo a sensação de que não há oxigênio suficiente nesse parque.

Ele segura as minhas mãos, ajustando a mira, e seu corpo inteiro parece moldar o meu. Minha bunda roça de leve onde não deveria e eu engulo em seco, mas dura meio segundo. Ainda assim, não melhora quando ele espalma minha cintura e nossas respirações parecem ter o mesmo ritmo.

— Erga o queixo, escolha com calma.

Obedeço, apesar de viajar no timbre da sua voz. Sinto-o me trazer para trás discretamente, ajeitando minha postura.

— Separe as pernas.

Malditas memórias sexuais. Que frase filha da puta.

— Atire.

Atiro. Duas vezes, acertando dois alvos. E Maju grita, comemorando, e eu sorrio, satisfeita. Quando olho por cima do ombro, Ele sorri da mesma forma. Mas seu olhar, predatório, me diz que sentiu tudo o que eu senti.

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