010

925 78 20
                                    

Vitória Almeida

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Vitória Almeida

Isso me assusta.

Dividir o futuro da minha filha com ele para sempre, correr o risco de cuidar do coração partido dela, assim como a minha mãe cuidou do meu. Preciso colocar a cabeça no lugar, nada disso pode ser sobre mim ou nós. Tem que ser sobre a minha filha. Mas não é um passo fácil de ser dado. Não é uma decisão tranquila. Precisamos pensar com calma. Precisamos de planos, de escolhas sólidas e, principalmente, ir devagar. Por ela.

Temos que pensar em como contar e em como protegê-lo das consequências que o mundo trará por ser filha do Richard.

— Sei que toda criança quer um pai — digo, analisando-o. — Então não vou tentar te afastar dela mas preciso que respeite nosso espaço. E então pensamos se vamos contar para ela.

— Se vamos?

— Precisa ter certeza.

— Eu tenho.

— Não apenas se quer ser pai. Mas se consegue ser. E se está pronto para
protegê-la nos próximos dias, meses e anos. Porque vai precisar fazer isso.
Se algum fotógrafo aparecer na frente da minha casa, se minha filha aparecer
estampada num site de fofoca… Sabe o que fazer?

Ele nega. Eu também não sei. Isso prova o meu ponto.

— Paternidade não é só aparecer e dizer: "vou te dar tudo o que quiser, te levar
para brincar, te contar a verdade". Dividir seus bens, deixar uma herança... E, honestamente, não precisamos disso. Maju precisa de um pai, Richard, e ser pai é mais do que qualquer um pensa.

Tomo um segundo para respirar, analisando sua reação. Ele ouve cada palavra, mesmo que não seja fácil. Também não é fácil para mim, estar nessa posição, tendo essa conversa, é uma das coisas mais difíceis que fiz na vida.

— Noites mal dormidas, broncas, dores de cabeça pensando em como estabelecer limites sem machucar, em como educar com firmeza e doçura ao mesmo tempo. É foda. Para caralho. Tão mágico quanto desgastante e tem dias que é muito mais exaustivo do que feliz. Isso é um comprometimento para a vida inteira, Richard. Ser pai não é sobre Maria Júlia ter metade dos seus genes, sobre pagar algumas contas. Isso não basta. Você precisa estar presente. Vai precisar de calma, paciência, aprendendo a lidar com tudo isso. E vai ter que respeitar o tempo e os limites dela. Não vai ser fácil, não mesmo. E se entrar nessa, não pode voltar atrás.

— Não vou.

Ele me prometeu o mesmo. Terminei chorando sozinha por dias que viraram meses e anos. Meu silêncio o diz isso.

— Obrigado.

Franzo o cenho, por um momento.

— Por ter criado nossa filha — ele explica, hesitante. — Por me ouvir, depois dos últimos anos. Por me dar um voto de confiança.

— Confiar é um processo, Richard. — Ele assente, compreendendo.

Não quero que pense que está tudo bem e que, magicamente, deposito toda a
minha fé nele.

— Maju é o foco aqui. Não estou fazendo isso por você. — Ele respira fundo e balança a cabeça.

— Não consigo nem imaginar o que sentiu e viveu nos últimos anos. Te admiro ainda mais.

Não pedi esse reconhecimento. Mas tem algo sobre ele que torna cada pedacinho sob minha pele extremamente inquieto.

— Eu posso vê-la?

— Ela está com o Diego agora. — respondo conferindo as horas e lembrando que ele levaria ela ao parque hoje para continuarem comemorando seu aniversário.

— Desde quando vocês estão juntos ?

— Oi ?

— Você e o Diego.

— Não somos um casal Richard, Diego é meu amigo e padrinho da Maju.

— Padrinho ?

— Sim, eles são muito apegados um ao outro desde que nos mudamos.

— Então vocês são vizinhos ou algo assim?

— Não Richard, trabalhamos no mesmo local.

— Como assim você trabalha no São Paulo? Desde quando?

— Faz dois anos.

— Nem fudendo, vocês passaram 2 anos aqui, literalmente do meu lado, e porque eu nunca te vi antes ?

— Eu sempre evitei você, em todos os jogos contra o palmeiras era outro fotógrafo que ia no meu lugar, e ia continuar sendo assim se meu carro não tivesse parado ontem e você tivesse oferecido ajuda.

— Me perdoa Vi, por tudo...

— Acho que já encerramos por aqui Richard, aqui esta meu telefone, a gente combina um outro dia para você conhecer a Maju.

— Deixa eu te levar em casa ?

— Não precisa.

— Por favor, você mesmo disse que está sem carro, é bom que aproveitamos esse tempo pra falarmos um pouco mais sobre nossa filha, eu quero saber sobre tudo, o que ela gosta de comer, de assistir, de brincar... — Ele diz e sorri.

É aquele sorriso. Um sorriso perigoso, como o que me deu no CT quando nos conhecemos. Aquele prólogo de um coração partido. E não posso dizer que esse sorriso não me intriga. Mas posso garantir que não vou cair por isso novamente. Nunca mais!

__________________________________________

Imbatible Onde histórias criam vida. Descubra agora