Richard Ríos
Termino de contar tudo que eu descobrir nas últimas horas para o Veiga e ainda nem sei como conseguir dirigir até o CT, e como dói saber que ela está do outro lado do muro mas não posso resolver isso ainda. Veiga está imóvel, em silêncio, sem acreditar.
— Você precisa contar isso para a Vitória.
— Não.
— Richard.
— Não — digo, entre lágrimas, implorando. Ele me encara, sem entender e eu suspiro, balançando a cabeça.
— Isso não é justo Ríos.
— Vitória aguentou demais, cara. Ela é forte, mas precisa ser protegida em alguns momentos. Não vou me perdoar se for a causa do sofrimento dela por mais tempo. 4 anos bastam.
— Para de se culpar pelo passado!
— Veiga, não importa. Ela sofreu longe de mim. Maju sofreu.
— E agora vai fazer a mesma coisa ? — questiona e eu entendo sua frustração, eu me sinto da mesma forma.
— Se a dor de estar longe for menor do que a de estar perto, sim. — Veiga suspira e passa as mãos pelo cabelo.
— Tem uma criança nessa história Richard, uma criança de 4 anos que não tem culpa.
— Eu não vou abandonar minha filha. Mas se ficar o mais longe possível da Vitória é necessário para protegê-las… Eu não tenho escolha.
— Porra Richard, contar a verdade é uma escolha.
— Eu já te falei que isso não é uma opção, eu não quero que sofram, eu não vou suportar. Talvez um dia ela me perdoe. Ou talvez ela encontre um cara melhor. — A ideia me dilacera, me deixa enjoado, outro cara com a minha mulher, a minha filha, minha família. — Mas desde que seja feliz… Desde que elas sejam felizes…
— Isso é errado cara, tem que ter outro jeito.
— Eu queria que tivesse... Me promete que não vai falar nada. — peço, sentindo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Não me pede uma coisa dessas cara, olha a situação que você está.
Parece que meus ossos estão sendo quebrados, mas é só o meu coração maldito. Meu corpo estremece e eu olho no fundo dos olhos dele. Os olhos marejados do meu amigo me machucam. Ele morde a boca, balançando a cabeça, como se fosse a porra do pior dia da sua vida. Pelo menod para mim, com certeza é.
Descobri que tenho uma filha. Descobri que tenho um filha com a mulher da minha vida. E agora estou abrindo mão das duas. Ou pelo menos preciso fazer isso por algum tempo.
— É sufocante — digo. — Não consigo me imaginar feliz longe delas. Parece que as duas estão em mim, se tornaram parte do que eu sou. E não consigo imaginar outra saída! Natália planejou absolutamente tudo, e eles estão sempre passos à frente, preparados para qualquer coisa que possamos tentar fazer. E eu não poderia, nem posso, arriscar qualquer coisa contra eles. Principalmente se for machucar a minha família.
Veiga fica calado, porque sabe que não tem muito o que ser dito ou feito nessa situação.
— Porra cara! É muita sacanagem, ela ter planejado tudo isso com o seu próprio empresário.
— Aquele filho da puta é primo dela, o plano de casar ela com um jogador de futebol já estava arquitetado há muito tempo, eu só dei o azar de ser o escolhido.
— Vamos dar um jeito nisso. E eu sei que não é justo de pedir isso agora, mas se concentra aqui no time, nós precisamos de você e quando voltarmos a gente vai encontrar alguma brecha nesse contrato e resolver essa situação, você merece ser feliz meu amigo.
— Espero que você esteja certo, cara. — Respondo e encosto minha cabeça na poltrona do ônibus enquanto estamos a caminho do aeroporto. Essa com certeza vai ser a semana mais longa da minha vida.
...
Sento na cama e encaro o nada, ainda não sei como vou fazer isso. Chegamos no hotel onde vamos ficar hospedados tem mais de 2 horas já, todo o time desceu para jantar mas eu não consigo comer, sinto meu celular vibrar e sorrio de forma automática ao ver o sorriso da minha filha que estampa a proteção de tela, mas no mesmo instante meu sorriso morre ao ver o nome da Natália na barra de notificação e com raiva eu arremesso o celular contra a parede.
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