Capítulo 01: Caçada Noturna

72 2 2
                                    

Na calçada deserta, banhada pela luz trêmula de um poste de rua, Rafael permanecia escorado, observando em silêncio os transeuntes cambaleantes. As sombras da madrugada envolvia os poucos que se aventuravam por aquelas ruas, em busca de alívio em suas substâncias químicas. De vez em quando, algum usuário de entorpecentes se aproximava, pedindo trocados ou tentando uma conversa desconexa, mas Rafael, sem precisar de palavras, fazia seus olhos brilharem em um tom rubro ameaçador. Bastava isso para afastá-los, e a cada dez minutos, esse ciclo repetia-se, mantendo as pessoas a uma distância segura.

Em outra vida, ainda como humano, nosso observador teria desprezado madrugadas como essa. Ele sempre refletiu sobre o quão degradante a noite poderia ficar. No entanto, essa escolha foi tirada de suas mãos na noite em que foi transformado em vampiro. Agora, ele vivia imerso na escuridão que tanto evitara. O que antes seria um cenário de repulsa e medo, agora era apenas mais uma parte de sua existência noturna. Ele vivia com um instinto primal que o consumia, algo de que não se orgulhava, mas que também não podia ignorar. A fome era uma necessidade constante, um lembrete brutal da nova natureza que corria por suas veias.

No entanto, naquela noite, não havia espaço para questionar esses dilemas existenciais. Rafael tinha um propósito claro: ele era um Varredor, um dos responsáveis por patrulhar as fronteiras do território dos Anarquistas, no caso nessa noite, o Bairro Santa Cruz. Os Varredores protegiam as áreas da invasão de facções inimigas, ou resumindo a Camarilla, garantindo que o domínio dos Anarquistas permanecesse intacto. E, mesmo que esse papel muitas vezes parecesse uma repetição monótona de violência e vigilância, era necessário. O território dos arruaceiros tinha que ser respeitado, e ele estava lá para garantir isso.

O varredor voltou à realidade ao notar duas figuras se aproximando dele pela rua escura. Victor e Sofia. O primeiro, um Gangrel de poucas palavras, sempre seguia ordens sem questionar, lembrando a Rafael a lealdade inabalável de um cão, mesmo que silencioso e quase invisível na maior parte do tempo. Já Sofia, uma Brujah, era o oposto - sua presença era impossível de ignorar. Com um estilo exagerado, como uma vampira metida a usar cabelo colorido e maquiagem chamativa, ela tornava cada missão imprevisível, sempre arrastando caos onde quer que fosse. Para Rafael, isso tornava a dupla incomum e difícil de entender.

Fazia três anos desde que ele fora "abraçado" pela maldição do vampirismo, transformado em algo além do humano que um dia fora. E, mesmo depois de todo esse tempo, ainda não conseguira se acostumar com tudo. O mundo dos vampiros tinha suas próprias regras e dinâmicas, e, ao contrário do que imaginava quando ainda era vivo, esse novo mundo não era apenas poder e eternidade; era brutalidade, instinto e uma constante luta por sobrevivência. Naquela noite, as luzes da cidade piscam intermitentemente, como se tentassem lutar contra a escuridão que envolvia o local.

As vielas estavam cheias de sombras, e a atmosfera era densa, repleta de uma mistura de adrenalina e expectativa. Rafael lidera a equipe, seu olhar atento a cada movimento nas ruas. Ele sabia que a vida noturna tinha seu próprio ritmo, e problemas poderiam surgir a qualquer momento. Victor, com sua postura silenciosa, segue com passos leves, quase como um felino, enquanto Sofia murmurava piadas e comentários sarcásticos, quebrando a tensão no ar. Sua personalidade vibrante sempre trazia um certo alívio, mas também aumentava o nível de imprevisibilidade da missão.

A ronda consistia em inspecionar os becos e áreas menos iluminadas, onde espiões poderiam tentar se infiltrar. Rafael tinha aprendido a confiar em seus instintos e no instinto dos outros, especialmente quando se tratava de proteger o território dos Anarquistas. Enquanto avançavam, ele refletia sobre as suas opções de caça, pensando em quem ou o que poderiam encontrar ao final do serviço. No entanto, à medida que caminhavam, um grupo de jovens se aproximava, rindo e conversando alto, completamente alheios à presença dos vampiros. Sofia, sempre a alma do grupo, aproveitava a oportunidade para fazer caretas para o grupo de jovens, tentando assustá-los. O efeito era mais cômico do que ameaçador, especialmente com seu cabelo colorido e a risada escandalosa que a acompanhava.

Jogo das ManipulaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora