Capítulo 25: Indo Ali

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Rafael se despertou ao cair da noite, o que já havia se tornado um hábito para ele. O suave toque da escuridão que envolvia a cidade sempre o alertava que era hora de começar sua rotina. Ele não se lembrou da última vez que havia acordo com a luz do sol banhando o quarto, e isso já não o incomodava mais. A vida que levava agora não combinava com os raios solares, nem com o calor aconchegante das manhãs. A penumbra era sua aliada, e era nesse ambiente que ele se sentia à vontade.

Após abrir os olhos, Rafael tomou consciência de que era hora de se preparar. O relógio no criado-mudo marcava o início da noite, e ele sabia que o tempo estava correndo. Um banho rápido o ajudou a sacudir o torpor que ainda o prendia.

Naquela terça-feira, em particular, Rafael sentiu um peso maior. As aulas voltariam depois do feriado de segunda, e ele não havia posto os pés no campus por uma semana inteira. Sabia que esse tempo de ausência não passaria desesperado. A faculdade sempre foi parte importante de sua vida, e agora era um dos últimos elos que ele mantinha com sua antiga existência. No entanto, à medida que os dias passavam, a vida normal parecia cada vez mais distante, como se estivesse escorregando de suas mãos, por mais que ele tentasse segurar.

Rafael sabia que a Camarilla, uma organização antiga e poderosa à qual agora pertencia indiretamente, não tolerava deslizes. Manter sua "máscara" — sua identidade humana — era crucial para a sobrevivência e para que ele continuasse desempenhando o papel de um jovem estudante comum, ocultando a verdadeira natureza por trás da fachada.

Assim que seus olhos se ajustam à luz suave, ele notou uma muda de roupa cuidadosamente disposta sobre a cama. Ao lado, havia um par de coturnos polidos, que sem exceção ter sido colocado ali com um propósito bem definido. A visão daquelas peças despertou sua curiosidade, e ele se mexeu, pensando-se intrigado.

Em cima da roupa, havia um bilhete dobrado. Ele descobriu imediatamente a caligrafia de Melissa, sua carcereira íntima e, muitas vezes, uma espécie de estilista não oficial. Ao abrir o papel, leu uma mensagem.

"Aqui estão as roupas que você pode usar na faculdade. Tentei melhorar seu estilo cafona o máximo que puder. Obs: vai pagar cada centavo que aquele sofá valia."

A ironia e o sarcasmo de Melissa sempre foram suas características marcantes, e isso o fazia rir. Rafael também ficava impressionado no modo em como ela sempre acordava primeiro que ele e já sumia.

Ao pegar a muda de roupa, Rafael descobriu que eram, na verdade, uma camisa workshirt e uma calça jeans. Eram peças que ele já usava com frequência, mas havia algo de diferente nelas. Ele examinou o tecido, o corte e a qualidade. A calça, em especial, tinha um caimento que prometia conforto e estilo ao mesmo tempo. A qualidade era evidente; as costuras eram bem feitas, e o material parecia resistente, como se tivesse sido escolhido com cuidado.

Depois de alguns minutos, Rafael decidiu experimentar uma roupa. Ele se despiu de seu pijama surrado e vestiu a camisa, que tinha um tom escuro que combinava bem com seu cabelo e seu tom de pele. Quando se olhou no espelho, ficou surpreso com o resultado. A roupa parecia feita sob medida, realçando sua silhueta sem deixar de ser confortável. Ele girou predominantemente, observando-se de diferentes ângulos, admirando como as peças se ajustavam perfeitamente ao seu corpo.

— Uau, Melissa realmente sabe o que faz, pensou consigo mesmo, admirando a forma como a roupa valorizava seu visual. O reflexo no espelho revelou não apenas um estilo novo, mas também uma confiança renovada. Ele nunca se sentiu tão bem ao se olhar assim. O que antes parecia um esforço para se vestir agora se tornara uma experiência prazerosa.

Após alguns momentos de satisfação, Rafael calçou os coturnos. A sensação era de solidez.

Rafael estava prestes a sair de quarto em direção à sala, mas parou repentinamente ao perceber que havia algo essencial que estava esquecendo: sua mochila e os materiais para a aula. Mesmo que muitas vezes não utilizasse tudo o que carregava, a mochila era uma parte importante de sua rotina. Sem ela, ele sabia que não conseguiria manter a máscara que apresentava ao mundo.

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