Capítulo 23: Encurralado

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Melissa e Rafael estavam dentro do Honda Fit, zanzando pelas ruas de Cuiabá. A cidade estava iluminada pelas luzes dos postes e dos faróis dos carros que cortavam a noite quente. Rafael observava o caminho, sem saber exatamente para onde estavam indo. Em dado momento passaram pela imponente Arena Pantanal, logo depois chegaram a uma ponte atravessando o Rio Cuiabá e adentraram o município de Várzea Grande. Tudo isso o estava deixando inquieto. Ele se perguntava o que a Camarilla queria dessa vez. Suas últimas interações com o grupo tinham sido no mínimo tensas, e agora, de repente, Melissa o estava levando para algum lugar, sem explicar muita coisa. Ele tentou puxar conversa no início do trajeto, mas Melissa estava estranhamente calada, focada no volante.

O silêncio entre eles era pesado. Rafael já estava mal se acostumando a ver Melissa em um modo mais descontraído, quase sempre sendo sua amiga íntima e confidente, mas agora ela parecia estar em outro estado de espírito, mais distante, como se estivesse assumindo o papel de carcereira.

Enquanto eles dirigiam, Rafael notou que o trajeto os levava para fora da área mais movimentada de Várzea Grande. As ruas se tornavam cada vez mais vazias, com menos lojas abertas e menos pessoas nas calçadas. Eventualmente, eles passaram por áreas que ele não reconhecia mais, lugares afastados dos pontos que frequentavam habitualmente.

— Melissa, onde estamos indo? — perguntou ele, tentando esconder a apreensão em sua voz.

Ela lançou um olhar rápido para ele, seus olhos sem emoção. — Você vai saber logo.

Ele tentou decifrar a expressão dela, mas Melissa era mestre em ocultar suas intenções quando queria. Mesmo depois de anos convivendo, havia momentos como esse em que ele se sentia um estranho, incapaz de penetrar nas camadas de mistério que envolviam sua companheira.

O caminho continuou até que, finalmente, o carro virou em uma rua ainda mais deserta, cercada por terrenos baldios e construções inacabadas. Era uma área industrial, ou pelo menos parecia, com estruturas de concreto nu erguidas como esqueletos de prédios que nunca foram concluídos. Pararam diante de uma dessas construções. Parecia um prédio de administração pública, ou algo vinculado à prefeitura, dada a robustez e o estilo das paredes de concreto reforçado. Não havia placas, nenhum indicativo de que tipo de construção era, mas parecia oficial e ao mesmo tempo abandonado.

Melissa desligou o carro e, sem dizer uma palavra, saiu do veículo. Rafael hesitou por um momento antes de fazer o mesmo. Seus sentidos estavam em alerta agora, cada fibra de seu corpo lhe dizendo que algo não estava certo. Ele fechou a porta e olhou ao redor, o silêncio da noite sendo perturbador naquela parte da cidade. Não havia outros carros por perto, nenhum sinal de vida além deles.

Melissa começou a andar em direção à construção, e Rafael, mesmo relutante, a seguiu. Ele não tinha muitas opções; estava claro que, se ela quisesse que ele estivesse ali, ela teria seus motivos. Rafael já havia aprendido que questionar Melissa nem sempre levava a boas respostas.

Eles cruzaram o terreno, que era coberto por mato alto e escombros de materiais de construção, até chegarem à entrada do prédio. Melissa empurrou uma porta de aço pesada que cedeu com um rangido, revelando um interior escuro e parcialmente iluminado pela luz da lua que entrava por janelas quebradas. O lugar estava claramente inacabado, mas a estrutura em si parecia sólida.

— Vamos — disse Melissa, sem olhar para trás. Ela continuou a andar, e Rafael a seguiu pelo que parecia ser um corredor improvisado.

A arquitetura do lugar era crua, como se a construção estivesse abandonada no meio do processo. As paredes de concreto e os poucos feixes de luz que escapavam das lâmpadas quebradas davam ao ambiente uma atmosfera fria e desolada.

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