Rafael avançava pelas ruas desertas de Cuiabá, movendo-se com uma velocidade sobrenatural, sua celeridade o impulsionando pelos becos e avenidas mal iluminadas. A cidade passava por ele como um borrão, suas preocupações mundanas pareciam distantes enquanto ele se focava em um único objetivo: chegar à Casa da Anarquia o mais rápido possível. Situada nas fronteiras rurais do município ao extremo leste, o local era um ponto estratégico. Longe das luzes da cidade, o casarão abandonado fornecia abrigo para os Anarquistas e, mais importante, para os Gangrel, que preferiam a solidão da natureza ao caos urbano.
O casarão parecia uma relíquia esquecida do passado, uma construção que já conhecera dias melhores. As janelas estavam quebradas e as paredes desbotadas pelo tempo, mas o local tinha um ar imponente. Mesmo abandonado, ainda guardava resquícios de sua antiga glória. Porém, para aqueles que sabiam o que procurar, era muito mais do que um edifício em ruínas. A Casa da Anarquia era o coração pulsante da resistência contra a Camarilla na região. Não havia sinalização, não havia mapa que indicasse seu lugar exato. Para os desconhecidos, era apenas mais uma ruína no mato.
Ao se aproximar da entrada, Rafael notou a presença de alguns veículos estacionados, incluindo carros antigos e motos. Nada muito chamativo, tudo discreto, mas o suficiente para perceber que havia mais gente ali do que o habitual. Ele diminuiu o ritmo. Havia vigias posicionados ao redor da casa, como de costume. Emerson e Lázaro estavam à vista, montando guarda perto de suas motos. Os dois eram figuras típicas do grupo: desajustados, solitários, almas perdidas que encontraram refúgio entre os Anarquistas. Não pertenciam a lugar nenhum, a não ser àquele submundo.
A fumaça do cigarro de Emerson subia preguiçosamente pelo ar enquanto ele observava Rafael se aproximar. Ele deu um sorriso malicioso, uma mistura de saudação e provocação.
— Maninho, tu acabou com o arrombado do Jamón, tá potente hein! — disse Emerson, soltando a fumaça pelo nariz. Nos Anarquistas, segredos não duravam muito tempo. Rafael não tinha certeza de como a notícia já havia se espalhado, mas ali estava: o confronto com Jamón, já era conhecimento geral.
Rafael apenas assentiu, sem entrar em detalhes.
Lázaro, encostado em uma das estruturas enferrujadas do antigo casarão, lançou um olhar silencioso, como se estivesse analisando cada movimento de Rafael. Lázaro era mais quieto, sempre observador, o tipo que falava pouco, mas nunca deixava de notar o que acontecia ao seu redor. Rafael sentiu o olhar, mas não se incomodou. Já conhecia os dois bem o suficiente para saber que eles eram leais à causa, embora não fossem os mais refinados quando se tratava de diplomacia.
— Barão te chamou, né? — perguntou Lázaro, quebrando o silêncio com sua voz grave. Não era uma pergunta, mas uma afirmação.
Rafael apenas confirmou com um aceno, sem necessidade de prolongar o assunto. Ele avançou em direção ao casarão, deixando os dois vigias para trás. A sensação de urgência se intensificava conforme se aproximava da entrada principal. Passando por uma porta de madeira pesada, entrou no que costumava ser o grande salão da casa.
O interior do casarão era ainda mais deteriorado que o exterior. As tábuas do chão rangiam sob seus pés, e o teto exibia rachaduras que deixavam entrar o vento e a chuva. Contudo, o local estava repleto de atividades. Vários Anarquistas, vindos de diferentes partes do território, estavam reunidos ali. Gangrel, Caitiffs, Brujah e até alguns poucos Malkavianos e Nosferatus podiam ser vistos trocando informações.
Dentro daquela confusão na Casa da Anarquia, o ambiente vibrava com uma energia descontrolada. A música alta ecoava pelos corredores, um som barulhento que parecia refletir a liberdade caótica que todos ali prezavam. Aquela era a essência do lugar: liberdade total, sem regras, sem limitações. Os Anarquistas se orgulhavam de viver à margem da sociedade vampírica tradicional, e o volume ensurdecedor da música era uma manifestação disso. Não havia censura, nem ordens que restringissem suas vontades. Cada um ali fazia o que queria, sem se preocupar com as consequências imediatas.
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Jogo das Manipulações
AçãoUma história que ligeiramente adapta conceitos de Vampiro a Máscara. História ambientada entre 19/10/2024 a 05/11/2024. Em um mundo onde humanos e vampiros coexistem, Rafael, um vampiro dividido entre sua...