Capítulo 12: O Parente

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Rafael começou a procurar a garota de cabelo rosa pelo vasto casarão anarquista. Era um espaço enorme, quase um labirinto, repleto de corredores antigos e salas desgastadas, onde as sombras das paredes testemunhavam as incontáveis reuniões secretas e conspirações discutidas ao longo dos anos. O ambiente tinha uma aura de liberdade e caos, como era de se esperar de um lugar onde os anarquistas se reuniam. Cada canto do casarão parecia ter algo acontecendo. Havia arte anárquica espalhada pelas paredes, com desenhos provocativos e mensagens de resistência e subversão.

Rafael começou perguntando a alguns Anarquistas que pareciam mais calmos, aqueles que não estavam tão envolvidos na confusão ou distraídos pela euforia. Eles estavam em suas conversas reservadas, talvez discutindo novas estratégias de ação ou apenas desfrutando da atmosfera, mas nenhum deles pareceu notar a garota. Todos que ele abordava o olhavam com desinteresse ou davam respostas vagas: "Não, não a vi." "Talvez ela esteja em outra parte da casa." "Você já olhou na cozinha?" As respostas eram sempre as mesmas.

Depois de minutos passando de um lugar para outro, Rafael começou a se perguntar onde ela poderia estar. "Ela deve estar em algum lugar por aqui." Mas onde?

A resposta veio como um estalo em sua mente. Bernardo. Claro. O único lugar onde ela poderia estar era onde Bernardo estava sendo mantido.

Rafael sai do edifício principal, seus passos ecoando suavemente no chão de terra batida. O ar estava frio, e a única fonte de luz vinha da lua cheia que brilhava intensamente no céu, iluminando o campo aberto à sua frente. O casarão, que momentos antes estava cheio de ruídos e vozes, agora parecia distante, envolto em uma atmosfera de tranquilidade contrastante

A distância entre o casarão e as casinhas próximas não era muito longa. As casinhas simples e de aparência modesta eram ocupadas por aqueles chamados de "sangue-fracos" que não tinham domínios próprios. Essas pequenas moradias, espalhadas pelo campo, ofereciam a eles refúgio e segurança temporária.

Bernardo estava em uma das casinhas mais afastadas, mais próxima de um pequeno aglomerado de árvores que oferecia alguma proteção natural e, mais importante, um isolamento necessário. Rafael sabia que o esconderijo de Bernardo não era apenas uma escolha de localização aleatória. Era estratégico. Manter Bernardo escondido ali era essencial para proteger o grupo, mas também para proteger o próprio Bernardo.

A medida que se aproximava da casinha, ele notou que a porta estava entreaberta, e a chave ainda estava presa à fechadura. Rafael cuidadosamente abriu a porta um pouco mais, apenas o suficiente para espiar o interior da casa antes de entrar.

O interior da casinha era escuro, como ele esperava. As janelas estavam todas cobertas, impedindo qualquer feixe de luz de entrar, o que fazia com que a pequena construção parecesse uma caverna. Era o ambiente perfeito para se esconder. Lá dentro, a única fonte de luz vinha da porta agora entreaberta, iluminando vagamente o chão de terra.

E foi quando ele a viu. Sofia estava lá, de pé, com os braços e o corpo apoiados em uma mureta baixa que separava a pequena sala de estar do resto do cômodo. Ela parecia imóvel, totalmente concentrada no que estava diante dela. Rafael precisou de alguns segundos para perceber a pessoa deitada no chão, de bruços, completamente imóvel. Bernardo.

Rafael se aproximava de Sofia com passos lentos e calculados, mantendo as mãos abertas e visíveis, numa tentativa de transmitir que não trazia nenhuma ameaça, que estava ali de coração aberto. A noite ao redor deles parecia envolvê-los em um silêncio opressivo, como se até mesmo o mundo ao seu redor estivesse em espera, observando o desenrolar.

Sofia, por sua vez, estava de costas para ele, os ombros rígidos, sua postura revelando um vulcão prestes a explodir. Quando ouviu os passos de Rafael se aproximando, ela virou-se de súbito, o rosto iluminado por uma raiva feroz. Seus olhos brilhavam com uma intensidade quase sobrenatural, e sua expressão era uma mistura de desprezo e dor.

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