Capítulo 14: A Entrega

11 1 0
                                    

A madrugada de terça-feira se anunciava com o vento sussurrando entre os prédios e o céu encoberto por nuvens pesadas. Rafael, caminhava sob a guarda de dois Anarquistas. O primeiro deles, Matheus, era um caitiff que Rafael mal conhecia. Com uma aparência comum. O outro, Lázaro, era uma figura imponente: o novo Varredor das fronteiras, sempre calado, com uma expressão impassível que transmitia uma sensação de poder.

Lázaro segurava um cigarro entre os dedos, a fumaça subindo lentamente em espirais, como se quisesse se libertar da realidade que o cercava. Rafael, por sua vez, tentava manter-se em sintonia com o ritmo dos dois. Era uma caminhada tensa, marcada pela expectativa do que estava por vir. O ambiente ao redor parecia vibrar com uma energia inquietante.

O plano que Rafael havia recebido era simples, ou assim parecia. Ele seria levado para uma entrega à Camarilla, um ato que deveria assegurar o período de paz entre as seitas. Mas a realidade era bem diferente. Havia um intrincado jogo de interesses em andamento, uma teia de conspirações que Rafael mal conseguia compreender. A sensação de estar sendo manipulado o acompanhava como uma sombra, um presságio do que estava por vir.

Para quem passasse nas ruas da cidade, os três homens que caminhavam lado a lado poderiam facilmente ser confundidos com amigos em busca de um objetivo obscuro, mas nada em suas posturas ou comportamentos revelava que eram vampiros. Rafael, Lázaro e Matheus avançavam pelas calçadas desertas, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Rafael, em particular, observava Lázaro com um olhar atento. O novo Varredor era uma figura intrigante, sempre sereno, como se não houvesse nada no mundo que pudesse perturbá-lo. Ele refletia sobre a conversa que tivera com Lazaro na noite de domingo para a madrugada de segunda. Naquela noite, Lazaro tinha finalmente quebrado seu silêncio habitual. Ele, revelou a Rafael que queria vingança pela morte de Victor, seu filho vampírico.

Rafael sabia que Lázaro era um Gangrel, assim como Victor, mas nunca havia imaginado que ele era o Sire de Victor. A revelação foi um choque. Os Gangrel eram conhecidos por suas tradições duras, sua ligação selvagem com a terra e os animais, e sua crença na sobrevivência do mais apto. A relação entre um Sire e seu progenitor Gangrel era, no mínimo, complexa. Eles não tratavam seus filhos com a mesma dominação que outras linhagens vampíricas. Pelo contrário, os Gangrel tinham a prática de não criar seus filhos até que eles sobrevivessem a um inverno inteiro sozinhos. Apenas os sobreviventes desse primeiro inverno rigoroso eram dignos de receber as tradições do clã.

Para os Gangrel, isso não era uma crueldade, mas sim um teste necessário. Eles acreditavam que o mundo vampírico era impiedoso, e apenas os mais fortes mereciam prosperar. Portanto, o fato de Lázaro querer vingar Victor parecia, para Rafael, algo fora do comum. Pela lógica do clã, Victor simplesmente não tinha passado no teste. Ele havia falhado em seu rito de passagem, e, como resultado, deveria ser considerado indigno da atenção de seu Sire.

— Então, onde fica? — Lázaro perguntou novamente, sua voz grave cortando o silêncio.

Rafael sentiu o peso da insistência, mas também sabia que a questão de Lazaro não era apenas prática. Algo mais profundo o movia, algo mais intenso. Talvez fosse uma questão de honra pessoal.

Rafael ponderou por alguns segundos antes de falar. Ele sabia que ser um pouco mais aberto com Lázaro poderia ser arriscado, mas ao mesmo tempo, sentia que essa era a única maneira de resolver o problema de forma mais completa. Não bastava entregar os capangas de Jamón de bandeja; Lázaro precisava entender o quadro maior, precisava saber quem realmente estava por trás da morte de Victor.

— Seguinte, Lázaro, eu posso te dar a localização exata do local onde os capangas de Jamón estão — começou Rafael, escolhendo suas palavras com cuidado. — Mas eu tenho uma ideia melhor.

Jogo das ManipulaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora