Epílogo

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Som de passos ecoava suavemente pelas paredes de pedra do subterrâneo, que se estendia sob Cuiabá como um labirinto de sombras e segredos. O ambiente, meticulosamente projetado por Alessandro, exalava uma atmosfera de poder e sofisticação, refletindo o esplendor do Brasil Imperial. Lustres de cristal pendiam do teto, iluminando levemente o caminho com uma luz suave que dançava nas paredes ornamentadas com tapeçarias que narravam a história. Era um espaço que unia o antigo e o novo, o secular e o sobrenatural.

Alessandro é a personificação da elegância e da frieza. Seus olhos azuis brilhavam com uma intensidade que parecia absorver a luz ao seu redor, enquanto sua pele pálida revelava a eternidade que carregava. Ele não era apenas um vampiro; ele era o braço direito do Príncipe Fausto, um homem que havia governado com um estilo que Alessandro considerava fraco e complacente.

Após o torpor que acometeu Fausto, Alessandro viu sua oportunidade. O Príncipe havia entrado em um sono profundo e indefinido, e a inatividade do líder da Camarilla deixava um vácuo de poder que não poderia ser ignorado. Naquela noite fatídica, Alessandro, observando o corpo imóvel do Príncipe, decidiu que o domínio secreto que construíra seria seu refúgio e seu trono.

Ele se lembrava de como havia persuadido os outros vampiros da Camarilla, afirmando que os Anarquistas haviam sequestrado e assassinado Fausto, sem nunca imaginar que a verdade poderia um dia vir à tona. Sua narrativa de vingança e conflito encontrara ressonância em corações ansiosos por ação e coragem. Os vampiros, assustados com o que viam como uma ameaça crescente, começaram a acreditar nas palavras de Alessandro, sem saber que ele havia construído sua ascensão sobre mentiras e enganos.

Thales, um Malkaviano que servia como vassalo de Alessandro, era o único que conhecia a verdade. Um homem com uma mente fragmentada e paranóica, Thales acreditava que a Camarilla estava sob constante ataque, e, de certo modo, estava. Ele sempre olhava para o mundo com um olhar desconfiado, como se estivesse esperando a qualquer momento que os Anarquistas atacassem. No entanto, a morte de Thales na noite anterior, às mãos do fugitivo Brujah Rafael Andrade, deixara Alessandro em uma posição vulnerável. Agora, ele não tinha ninguém em quem pudesse confiar completamente.

Adentrando seu domínio subterrâneo, Alessandro sentiu o peso do mundo sobre seus ombros. Os ecos de seu passado e os sussurros de seus planos mais sombrios ressoavam em sua mente. Ele se dirigiu ao espaço onde o Príncipe dormia, uma câmara austera e imponente, adornada com símbolos da Camarilla e relíquias de tempos antigos. O Príncipe Fausto estava ali, inconsciente, como um mártir esperando por sua ressurreição. Alessandro parou diante dele, o olhar fixo no rosto do Príncipe.

— Fraco — sussurrou Alessandro, sua voz repleta de desprezo.

Alessandro se aproximou, olhando para o corpo do Príncipe como um artista observa sua obra-prima. — As Seis Tradições da Camarilla foram feridas, Fausto. Este lugar precisa de ordem. Eu sou o único que pode trazê-la. Enquanto você dorme indefinidamente, eu estou pronto para fazer o que precisa ser feito.

Ele virou-se e começou a caminhar ao redor da câmara, gesticulando com fervor enquanto suas palavras se tornavam mais intensas. — A Camarilla não pode ser um refúgio para a fraqueza. Nossos inimigos, são como parasitas, se alimentando de nossas incertezas e divisões. Eles devem ser combatidos com ferocidade. Logo, os Primogênitos reconheceram-me como o novo Príncipe. 

A voz de Alessandro reverberava no espaço, como um discurso de um líder em ascensão. Ele se lembrou das noites em que observou Fausto, admirando a beleza do poder que o Príncipe possuía, mas também a fraqueza que lhe era inerente. — Você era admirado, mas agora você é uma sombra do que poderia ter sido. O conflito começará, e nada poderá mudá-lo. Você, que se dizia o defensor da Camarilla, perdeu essa batalha.

Alessandro olhou mais uma vez para o Príncipe. O torpor de Fausto o tornara uma prisão para o que antes foi uma força vital. — Eu sinto muito, meu querido Príncipe. A sua "bondade" e "compaixão" não têm mais espaço neste novo mundo.

Com um último olhar, Alessandro deu um passo atrás e olhou para o corpo do Príncipe com uma mistura de desprezo e determinação.

Alessandro se virou, sua figura alta e imponente saindo da câmara enquanto o eco de seus passos se perdia nas sombras. Ele estava pronto para a batalha que viria, para a ascensão que seria sua.

Era hora de a guerra começar.

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