Capítulo 04: A Casa de Um Negociador

25 2 6
                                    

O trio atravessou a porta da casa do Caitiff, com uma mistura cuidadosa de confiança e cautela, cientes de que aquela não seria uma visita qualquer. Havia uma expectativa no ar, como se soubessem que algo crucial estava prestes a acontecer. Logo foram engolidos pelo som ensurdecedor da música, onde o grave reverberava pelas paredes. A atmosfera era impregnada pelo odor forte de álcool e o cheiro inconfundível de tabaco e de outras substâncias. Eles esperavam um encontro discreto, mas a casa de Jamón estava longe de proporcionar isso. Era noite de sábado e o lugar estava no ápice de uma festa que parecia não ter hora para acabar. As luzes intermitentes piscavam de forma irregular, como se refletissem a energia caótica que dominava o ambiente. Corpos se moviam em todas as direções, alguns dançando com fervor, outros cambaleando, encharcados pela bebida e pelo êxtase. Roupas coloridas e brilhosas se misturavam às sombras dos cômodos mal iluminados, criando uma cena que oscilava entre o caos e a euforia.

A casa tinha uma decoração peculiar, um misto de móveis antigos e objetos ecléticos, que refletiam perfeitamente a personalidade excêntrica de Jamón. Livros empoeirados, garrafas de bebidas caras e obras de arte de gosto duvidoso compunham o cenário, deixando claro que seu anfitrião não era um vampiro comum.

Sofia, com seu senso de humor afiado, não pôde deixar de soltar uma risadinha ao observar a cena. — Claro que ele estaria dando uma festa — comentou, enquanto seus olhos se fixavam em uma mulher que parecia mais interessada em observar os recém-chegados do que em se divertir.

Rafael percorreu o espaço com o olhar, tentando captar qualquer coisa que pudesse denunciar a presença de algo ou alguém mais perigoso do que um simples humano. Ele sabia que naquela casa, com Jamón sendo o anfitrião, seria difícil que todos os presentes fossem mortais. Havia algo mais, uma energia sutil, mas inegável, que percorria o lugar como uma corrente elétrica invisível. Ele sentia algo no ar, uma presença sombria.

Sua companheira tomou a dianteira, caminhando com passos decididos por entre a multidão. Ela mantinha a postura confiante e o olhar afiado, como uma predadora que já conhecia bem seu território. Algumas pessoas os observavam conforme passavam, lançando olhares desconfiados, mas ninguém se aproximava ou tentava interferir. A presença dos três parecia ser notada, mas não questionada, pelo menos por enquanto.

Rafael, caminhando logo atrás de Sofia, sentia a tensão se acumular em seus músculos. O ambiente festivo, com sua mistura de luxúria e decadência, parecia envolvê-los em uma espécie de névoa, tornando o ar mais denso e a missão mais complicada.

À medida que avançavam, tinham que desviar de dançarinos bêbados, figuras sombrias encostadas nas paredes, e pessoas cujas identidades eram indefiníveis. A cada novo cômodo, o cheiro de álcool ficava mais forte, misturando-se ao de perfume barato, cigarro e suor. As vozes e risadas pareciam aumentar em volume, ecoando nas paredes como se fizessem parte da trilha sonora do caos ao redor.

Sofia já imaginava que Jamón não seria encontrado entre os frequentadores da festa. Aquele não era seu estilo. Apesar de seu gosto pela diversão, o Caitiff sempre preferiu manter uma certa distância, observando o caos ao seu redor sem se misturar completamente com ele.

Era evidente que o verdadeiro desafio não estava no andar térreo, onde a maioria das pessoas se encontrava. Jamón, o alvo deles, estava seguramente nos andares superiores, longe do tumulto e protegido por seus capangas. Rafael imaginava que se tentassem algo impulsivo ali embaixo, chamariam atenção demais, e todo o plano poderia ir por água abaixo.

Inclinando-se levemente para Sofia, ele sussurrou de maneira calma, mas urgente:

— Vamos subir.

Sua amiga, que já estava ansiosa para seguir em frente, deu um leve aceno de cabeça, confirmando que havia entendido a mensagem. Victor seguia os dois enquanto se aproximavam de uma escada estreita e meio escondida no canto da casa. A subida não foi notada por ninguém, o que os tranquiliza brevemente.

Jogo das ManipulaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora