Silêncios Reveladores

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Mesmo completamente exausta, Juliana não conseguia relaxar. Ter alguém dividindo a cama era uma experiência que ela já não vivia havia mais de cinco anos. Não era sobre Gabi, exatamente, mas sobre a sensação estranha de compartilhar aquele espaço tão íntimo novamente.

Juliana fechava os olhos e tentava forçar o sono, mas imagens insistiam em surgir na sua mente. Camila. O nome que seu coração ainda sussurrava nos momentos de maior vulnerabilidade. A lembrança de seus fios coloridos, que mudavam de tom a cada capricho, e do cheiro suave do sabonete infantil que ela adorava, tornavam tudo mais difícil.

Juliana queria que fosse Camila ao seu lado. Queria reconhecer aquela respiração, aquele toque. Mas não era. Já não era há muito tempo.

Como se percebesse o turbilhão de pensamentos de Juliana, Gabi se mexeu e pousou a mão suavemente em seu rosto.

— Você está bem? — perguntou, a voz baixa e carregada de preocupação.

Juliana abriu os olhos rapidamente, surpresa.

— Sim, tá tudo bem.

— Não parece. Sua respiração está ofegante, e você está suando.

Juliana se sentou, tentando disfarçar o incômodo.

— Ah, me assustei quando você colocou a mão no meu rosto. Acho que também é esse moletom... está muito quente.

Ela tirou o moletom, revelando a pele clara que contrastava com as tatuagens espalhadas em lugares estratégicos. Cada detalhe parecia contar uma história, mas era raro que alguém tivesse a chance de ver esses fragmentos. Juliana preferia se esconder atrás de suas camisetas largas e confortáveis.

Gabi observou a cena como se fosse em câmera lenta. Algo sobre a forma despretensiosa de Juliana parecia hipnotizá-la.

"Como ela é linda", pensou, mas logo balançou a cabeça, tentando espantar os pensamentos que surgiam sem convite.

— Tudo bem com você? — Juliana perguntou, notando o olhar perdido de Gabi.

— Sim, tudo bem. É que... essa tatuagem no seu braço é nova, não é? — Gabi respondeu, desviando o olhar e tentando parecer casual.

— Não tão nova. Fiz há alguns meses, mas acho que não nos vimos desde então. Então, sim, é nova pra você.

— Mas mesmo que tivéssemos nos visto, eu provavelmente não teria reparado. Você sempre usa esses moletons que escondem 99% do seu corpo.

Juliana arqueou uma sobrancelha, divertida.

— Agora minha visita está julgando a forma como me visto?

— Não estou julgando, é só uma observação do óbvio.

O tom leve e descontraído deu lugar a um breve silêncio confortável. Depois de trocarem mais algumas palavras, ambas voltaram a se deitar, mas agora era Gabi quem estava inquieta.

O quarto começou a ser preenchido pela luz suave do amanhecer. Gabi virou para o lado, encontrando Juliana finalmente adormecida. A respiração dela era calma agora, e seus traços pareciam ainda mais suaves sob o brilho dourado do sol.

Sem se conter, Gabi a observou por um longo momento.

— Nunca pensei que iria querer tanto beijar você como quero agora — sussurrou, como se falando consigo mesma.

Sua mão deslizou suavemente pelo rosto de Juliana, num gesto que parecia um misto de carinho e despedida. Depois, Gabi virou-se novamente, suspirando profundamente antes de finalmente se entregar ao sono.

Mal sabia ela que Juliana estava acordada. Os olhos levemente entreabertos da anfitriã observaram cada movimento, e sua mente lutava para processar o que havia acabado de ouvir.
O que aquilo significava? Por que aquelas palavras ficaram ecoando tanto?

Enquanto o silêncio se instalava novamente, Juliana continuou deitada, tentando encontrar respostas para perguntas que talvez não tivessem sido feitas.

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