Confortos Compartilhados

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A noite seguia o seu curso inesperado enquanto as duas finalmente chegaram ao apartamento de Juliana.

— Não repare nos detalhes. Não sabia que teria visita hoje, então a casa está no que gosto de chamar de padrão de limpeza aceitável — disse Juliana, com um sorriso tímido.

O apartamento, embora não fosse grande, era extremamente bem organizado e refletia a personalidade artística de Juliana. As paredes eram adornadas por quadros de artistas independentes, escolhidos com um olhar tão refinado que poderiam facilmente ser confundidos com obras de renomados mestres. Era evidente o quanto ela apreciava a arte em todas as suas formas.

— Faz quanto tempo que eu não venho aqui? Uns dois anos? — perguntou Gabi, examinando com curiosidade uma estátua da deusa Têmis, a personificação da justiça.

— Ah, não é para tanto. Você esteve aqui há alguns meses... eu acho. — Juliana hesitou, como se sua memória não fosse das melhores.

— A sua noção de tempo anda falhando. Não temos nos encontrado muito, e, quando saímos, você nunca nos convida para entrar.

— Tudo bem, vou acreditar na sua memória então.

— Obrigada — respondeu Gabi com um sorriso de satisfação.

Juliana, querendo garantir o conforto da amiga, apressou-se a arrumar o quarto.

— Vou deixar o quarto pronto para você. Fique à vontade enquanto isso.

O quarto de Juliana era um reflexo de sua alma introspectiva: paredes de um azul profundo, uma estante repleta de livros variados e uma cama espaçosa que parecia convidar ao descanso. Em poucos minutos, ela trocou as roupas de cama e deixou o espaço impecável.

— Gabi, está tudo pronto. Pode deitar quando quiser. Vou tomar um banho rápido.

— Ah, não! — protestou Gabi, entrando no quarto. — Não é justo você trocar de roupa e me deixar com essa aqui.

Juliana olhou para a amiga, que vestia uma calça jeans, um cropped básico e uma jaqueta de couro.

— Mas sua roupa está ótima.

— Eu sei, mas se você vai se trocar, eu também quero.

— Tá bom, pode pegar algo meu. Fique à vontade — disse Juliana com um sorriso, fechando a porta do banheiro.

Ao sair do banho, Juliana encontrou Gabi sentada no quarto, segurando um conjunto de roupas dela e uma toalha.

— Peguei uma toalha no armário. Espero que não se importe — comentou Gabi, indo direto para o banheiro.

O tempo parecia ter voado, e já eram quase cinco da manhã quando Gabi terminou o banho. Juliana, sentada na cama, lutava contra o sono.

— Por que ainda não deitou? — perguntou Gabi ao notar o estado exausto da amiga.

— Não sou tão má anfitriã assim. Seria falta de educação dormir antes de você — respondeu Juliana, levantando e se dirigindo à sala.

— Para onde você vai?

— Para o sofá.

— Como assim para o sofá?

— Achei que fosse óbvio. Você é a visita, então fica no quarto.

— Você não pode dormir no sofá na sua própria casa.

— Claro que posso. E, para ser justa, meu sofá é bem confortável.

— De jeito nenhum! Você não vai dormir no sofá! — disse Gabi com firmeza, cruzando os braços.

Juliana ergueu uma sobrancelha.

— Desde quando você aprendeu a ser mandona assim? Isso é influência da Sofia?

— Desculpa. É que não me sinto confortável vendo você abrir mão da cama por minha causa.

— Bom, também não quero que você durma no sofá. Isso não seria justo.

— Podemos dividir a cama, então. Na verdade, já imaginei que faríamos isso. A não ser que você não fique confortável — disse Gabi, hesitante.

Juliana ficou em silêncio por alguns instantes antes de responder:

— Tudo bem. Não tem problema.

As duas se ajeitaram na cama espaçosa, o silêncio sendo preenchido apenas pelo som suave da respiração de ambas. Era um fim de noite inesperado, mas de alguma forma reconfortante, um momento que parecia simples, mas que carregava uma intimidade rara entre amigas.

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