Ruptura

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Juliana ficou parada no meio da sala por um momento, sem saber o que fazer. A ideia de Gabi vindo até ali a fazia sentir que seu dia, mal começado, já havia se tornado um desastre. Caminhou até o guarda-roupa, tentando encontrar algo que não entregasse o turbilhão em que se encontrava.

Normalmente, escolheria algo que a fizesse parecer forte. Mas hoje... hoje precisava de simplicidade. Optou por uma camiseta branca e uma calça básica. Nada mais. Não queria dar a impressão errada.

"Eu preciso acabar com isso. O que quer que seja. Antes que vá longe demais."

Os minutos que se seguiram pareceram horas. Cada som do prédio a fazia acreditar que Gabi havia chegado. E então, finalmente, a batida na porta.

Respirando fundo, abriu.

- Oi, Ju. - A voz de Gabi era baixa, quase hesitante. - Como você tá?

Juliana prendeu a respiração ao encarar Gabi. Procurou algo no rosto dela, um sinal, uma pista do que vinha a seguir. Mas o sorriso habitual que sempre iluminava o rosto de Gabi estava ausente.

- Tô com dor de cabeça. - admitiu, tentando soar casual. - Acho que bebi demais ontem.

- Bebemos. - Gabi respondeu, seca. - Posso entrar?

- Claro.

Juliana deu espaço para Gabi passar, observando enquanto ela entrava no apartamento. O perfume familiar a envolveu, agora mais uma lembrança incômoda do que um conforto. Gabi parecia diferente. Não havia o calor de sempre, nem a energia que a caracterizava.

Gabi sentou-se no sofá, passando as mãos pelos joelhos de forma nervosa. Juliana se aproximou, mas manteve uma distância que parecia segura, tanto para o corpo quanto para o coração.

- Gabi... O que aconteceu ontem? - A pergunta saiu antes que pudesse se conter, carregada de dúvidas e medo.

Gabi ergueu o olhar, hesitando antes de responder.

- Ju, eu preciso saber... O que foi aquilo?

Juliana congelou.

- Aquilo...?

- O beijo. - Gabi exalou, como se soltar as palavras aliviasse algo dentro dela. - Você queria mesmo? Ou foi só... o álcool falando por você?

A sala mergulhou em um silêncio pesado. O coração de Juliana parecia martelar em seu peito com tamanha força que achou que Gabi poderia ouvir.

- Eu... - começou, mas as palavras pareciam fugir. - Eu queria, Gabi. Eu quis.

Os olhos de Gabi se encheram de algo que Juliana não conseguiu decifrar de imediato. Alívio? Tristeza? Desespero?

- Então por que você tá me olhando como se isso fosse um erro? - Gabi perguntou, sua voz tremendo. - Porque, Ju, se você acha que foi um erro, talvez eu devesse ir embora agora.

Juliana sentiu como se estivesse sendo rasgada por dentro.

- Não foi um erro. - disse, sua voz firme pela primeira vez desde que a conversa começara. - Mas... eu não sei se consigo, Gabi. Minha vida é uma bagunça, eu sou uma bagunça. E você... você não merece isso.

Gabi se levantou, os olhos brilhando com lágrimas que claramente se esforçava para conter.

- Você não pode decidir o que eu mereço, Juliana. Só posso decidir isso por mim mesma.

Aquelas palavras pairaram no ar entre elas, carregadas de uma intensidade que Juliana não sabia como lidar.

Gabi deu um passo em direção à porta, mas parou antes de sair.

- Eu não vim aqui pra te cobrar nada. Só queria saber se o que eu senti ontem era real. E agora eu sei.

E com isso, ela se foi, deixando Juliana sozinha com o peso de tudo o que não foi dito e de tudo o que ainda não sabia como sentir.

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