A noite foi passando de forma tranquila, e Juliana sentiu seus pensamentos sombrios se dissiparem aos poucos. A companhia de Sofia e Gabi tinha esse efeito quase mágico sobre ela, como um analgésico para dores que nem elas sabiam que existiam.
Já era quase uma da manhã quando Sofia decidiu ir embora. Não foi nenhuma surpresa para Juliana e Gabi; Sofia era sempre a primeira a sair, mas dificilmente ia direto para casa. Para onde ela ia depois, ninguém sabia, e as duas já haviam desistido de tentar desvendar esse mistério há tempos.
— É isso, meninas. Meu Uber está chegando. Juízo! Até a próxima, que, se depender da Juliana, só acontece daqui a alguns anos — brincou Sofia, lançando uma piscadela em direção a Juliana.
Juliana respondeu com um meio sorriso, algo que parecia ser a medida certa para encerrar o assunto.
Quando Sofia partiu, o ambiente ficou mais leve. Era mais fácil conversar com Gabi sem as interferências e curiosidades incessantes de Sofia. As duas se perderam em conversas triviais que, de alguma forma, sempre pareciam fascinantes. Falaram sobre as séries que estavam assistindo, a correria do trabalho e qualquer outro assunto que surgisse espontaneamente.
— Caramba, olha a hora! — exclamou Juliana, surpresa ao olhar o celular.
Já passava das três da manhã, embora ela tivesse a sensação de que apenas minutos haviam se passado desde a saída de Sofia.
— Acho que está na hora de ir mesmo — concordou Gabi, ainda rindo de algo que Juliana havia dito.
As duas se levantaram. Juliana foi direto ao caixa, mas Gabi correu atrás dela, claramente desconfiada.
— Ei, o que você acha que está fazendo?
— Pagando a conta. Ou você prefere sair correndo como foragida? — brincou Juliana, sorrindo enquanto olhava para a amiga.
Era engraçado vê-las juntas. Sofia costumava dizer que a diferença de altura entre elas parecia cena de filme cômico: Juliana, com seus 1,75m e postura sempre impecável, contrastava com Gabi, que tinha 1,60m e um charme único que mais parecia ter saído de um conto de fadas.
— Não precisa pagar tudo sozinha! — protestou Gabi.
— Agora é tarde demais. Você fica me devendo para a próxima.
— E a próxima vai ser daqui a quanto tempo?
Juliana tinha o péssimo hábito de desaparecer por meses após esses encontros. Já havia conseguido ficar mais de um ano sem ver as amigas, até o dia em que Sofia e Gabi apareceram de surpresa na porta de sua casa, obrigando-a a pedir uma pizza e jantar com elas.
— Não sei dizer. Mas prometo que será em breve — disse Juliana, tentando soar convincente.
— Vai mentir para mim agora? Ainda nem saímos do bar, e já estou esperando você sumir.
Juliana riu, sem saber como responder.
— Tá bom, tá bom. Vou tentar sair mais.
— Ótimo. Espero mesmo que seja logo.
Já na saída, Juliana fez uma sugestão inesperada:
— Que tal dividirmos o Uber? Assim você pode me esperar sumir só depois de sair dele.
— Isso é novidade. Tudo bem, mas eu peço o Uber. Já que não paguei a conta, pelo menos isso eu faço. Primeira parada, sua casa?
— Não, te deixo em casa primeiro. Fico mais tranquila assim.
— Certo. Ele chega em dois minutos.
O silêncio no carro foi quase absoluto. Talvez estivessem cansadas, talvez já tivessem conversado sobre tudo ou, quem sabe, evitassem falar na frente do motorista.
— Chegamos — anunciou o motorista, parando na frente da casa de Gabi.
— Obrigada. Até mais, Ju! — disse Gabi, já saindo do carro.
Juliana observou enquanto Gabi se aproximava da porta. Antes de o motorista arrancar, ela pediu que esperasse.
— Tudo bem aí? — perguntou Juliana ao ver Gabi parada na entrada, vasculhando a bolsa.
Gabi se virou com uma expressão desconcertada.
— Acho que deixei a chave dentro de casa.
Juliana soltou uma risada baixa e abriu a porta do carro.
— Entra aí. Você dorme lá em casa e, amanhã cedo, a gente chama um chaveiro.
— Faz sentido — respondeu Gabi, entrando de volta no carro.
E assim, as duas seguiram para o apartamento de Juliana, agora dividindo o espaço e o fim da noite de forma tão natural quanto suas conversas.
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Blue | ⚢
RomansaJuliana vive mergulhada em uma solidão que já parece parte de sua própria identidade. Desde a perda devastadora de seu grande amor, ela se isolou, convencida de que a dor é mais segura do que arriscar sentir novamente. As tentativas de suas melhores...