Sombras e Lembranças

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Durante o restante do dia, Juliana se perdeu em seus próprios pensamentos, tentando entender por que Gabi mentiu para ela. Não fazia sentido. Juliana sabia que poderia ter lidado com a verdade, que teria entendido sem problemas. Ela só queria saber o que realmente aconteceu. Mas por algum motivo, Gabi não se sentiu confortável em revelar a verdade naquele momento.

Respirando fundo, Juliana continuou sua rotina, como fazia todos os dias. Preparou um café forte, sentou-se à janela e tentou aproveitar o pouco que restava da tarde. O céu ainda estava claro, mas seu coração parecia pesado, como se a simples ação de observar o movimento lá fora não fosse suficiente para dissipar a confusão que se formava dentro dela.

Já passava um pouco das oito da noite quando seu celular vibrou. Era uma mensagem de Gabi, agradecendo pela estadia "momentânea e precipitada", e pedindo desculpas por qualquer coisa que pudesse ter feito na noite anterior. Juliana, ao ler, sentiu uma pontada de alívio, mas o que mais a surpreendeu foi a segunda mensagem, que chegou logo depois.

"Sobre o que eu disse a você, não foi efeito de nenhum álcool. Mas também não consigo te explicar o porquê de ter dito aquilo. Talvez por ter te visto de uma forma que nunca vi, tenha despertado algo diferente em mim. E naquele momento, quando me senti mais livre, acabei expressando algo que não era necessário. Gostaria que isso não afetasse nossa amizade e que ela permanecesse como era antes."

Juliana leu a mensagem várias vezes, absorvendo cada palavra, até que finalmente respondeu com algo simples, mas sincero:
"Está tudo bem, nossa amizade não vai mudar por conta disso. Boa noite."

Ela então debruçou sua cabeça sobre a janela, deixando o olhar perdido na dança do mundo lá fora, enquanto sua mente tentava decifrar as palavras de Gabi. A noite parecia longa, mas a paz estava distante, como uma sombra que não se afastava.

No dia seguinte, ela se viu mais uma vez no restaurante, mas desta vez algo estava diferente. A mulher à sua frente não era Gabi. Era alguém novo, com a mesma altura de Juliana, cabelos coloridos e olhos de um azul profundo que refletiam um brilho curioso. Elas riam e se divertiam enquanto degustavam os pratos do restaurante, mas o som de suas vozes estava abafado. Juliana não conseguia entender o que elas falavam, mas a conexão entre as duas era clara — algo íntimo, algo que parecia mais um segredo compartilhado do que uma conversa qualquer.

O restaurante, que antes parecia calmo, estava agora repleto de movimento. As duas entraram ao longo do dia e saíram somente à noite, de mãos dadas, caminhando pelas ruas em meio ao frio. A noite parecia avançar rapidamente, como se o tempo não se importasse com as duas, mas Juliana podia sentir que algo estava errado, uma inquietação crescente.

Quando atravessaram uma rua deserta, Juliana parou e ficou olhando a mulher à sua frente. Seus olhos estavam fixos nela, como se pudesse sentir sua falta de uma forma profunda e inexplicável.

– Sinto tanto sua falta – disse Juliana, a voz trêmula, enquanto uma lágrima escorria por seu rosto.

A mulher a encarou com um sorriso suave, mas a resposta foi direta e enigmática.

– Não estou te entendendo, eu estou aqui, bem na sua frente.

– Eu sei que estou te vendo, mas ainda assim sinto sua falta – respondeu Juliana, a lágrima agora escorrendo pela sua bochecha.

Foi quando ela acordou. A lágrima ainda molhava seu rosto, como se o sonho tivesse sido real. Camila. Mais uma vez, Camila estava em seus sonhos, e Juliana não entendia a frequência dessas visitas. Já haviam se passado tantos anos, e ela pensava que as memórias de Camila tinham sido enterradas. Talvez, dividir a cama com outra pessoa tivesse despertado lembranças que ela não queria reviver.

O medo começou a tomar conta de Juliana, o medo de que os últimos dois dias estivessem se repetindo, que ela estivesse vivendo em um ciclo do qual não conseguia escapar. Seu olhar caiu sobre o celular, onde as notificações do grupo de amigos apareceram, uma mensagem de Sofia e Gabi.

"E aí, Ju, vamos fazer algo juntas hoje?"

Sem hesitar e sem se esforçar para esconder sua angústia, Juliana respondeu com firmeza:
"Não, hoje quero ficar sozinha."

E assim, ela se isolou. Como se cada mensagem fosse uma lembrança de algo que ela preferia não enfrentar. Enquanto o silêncio a envolvia, Juliana sentiu uma estranha sensação de solidão, como se estivesse se distanciando não só das pessoas ao seu redor, mas também de algo dentro de si mesma.

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