Juliana despertou com um sobressalto, as lágrimas ainda úmidas em seu rosto e o travesseiro marcado por sua angústia. O sonho que a perseguia era mais familiar do que deveria ser, uma sombra constante que invadia suas noites. Ela sentou-se na cama, tentando controlar a respiração, enquanto sua mente buscava sentido na névoa confusa dos eventos recentes.
Ainda sentindo o impacto do desmaio da noite anterior e da dor surda em sua cabeça, ela pegou o celular na esperança de encontrar alguma mensagem de Sofia. Mas a tela estava vazia, um silêncio ensurdecedor. Nenhuma explicação, nenhuma palavra que ajudasse a organizar o caos em sua mente.
Com um suspiro pesado, Juliana desistiu de tentar dormir novamente. Caminhou até o escritório, os passos lentos como se cada um pesasse toneladas. Sentou-se em frente ao computador e ficou olhando para a tela em branco, incapaz de se concentrar em qualquer coisa. Por fim, digitou uma mensagem curta:
"Oi, Renata. Estou deixando as chaves da galeria na portaria do prédio. Pode pedir que alguém as busque lá. Obrigada por me dar um tempo para respirar."
Enviar aquela mensagem trouxe um alívio estranho, quase libertador. Era como soltar um grilhão invisível, ainda que as marcas das correntes permanecessem em sua pele.
Juliana reclinou-se na cadeira e fechou os olhos por um instante, sentindo o peso de seus próprios pensamentos. Os fantasmas do que aconteceu na galeria rondavam sua mente como vultos, indefinidos e ameaçadores. O que realmente aconteceu com Camila? Por que Sofia estava tão distante? As perguntas eram como espinhos, cravando-se cada vez mais fundo.
Levantando-se, ela caminhou até a janela, cruzando os braços enquanto observava a movimentação lá fora. A vida seguia como sempre. Carros passavam, pessoas caminhavam apressadas, indiferentes ao turbilhão que consumia Juliana por dentro. Ela pegou o celular novamente e hesitou antes de digitar:
"Sofie! Podemos nos ver?"
Mas antes que pudesse enviar, a tela piscou com uma mensagem que a interrompeu.
"Bom dia, meninas! Como vocês estão? Tô com saudade!"
Era Gabi. A mensagem, tão alegre e casual, fez Juliana congelar. Sentiu um nó se formar em seu estômago. Como posso fingir que tudo está bem? Que nada aconteceu? Gabi era tão genuína, tão cheia de vida, que parecia cruel esconder dela o peso do que havia ocorrido.
Enquanto Juliana ponderava como responder, outra mensagem apareceu, desta vez de Sofia:
"Também estou com saudade, Gabi! Que tal animarmos uma saída entre amigas?"
A leveza no tom de Sofia era desconcertante. Por um instante, Juliana se perguntou se a noite anterior havia sido apenas um delírio de sua mente exausta. Será que tudo foi um pesadelo?
"Ah, legal! Estou disponível todas as noites desta semana. Só me avisem o dia."
E então Sofia respondeu de imediato:
"Hoje à noite parece perfeito, Gabi. O que acha?"
Juliana ficou olhando para o telefone, incrédula. A Sofia da mensagem não parecia nem remotamente com a pessoa que havia gritado desesperada ao telefone e corrido para socorrer Camila. Aquela pessoa, com os olhos sombrios e as mãos trêmulas, parecia ter desaparecido sem deixar vestígios.
"Sério?! Vamos! Cadê a Ju? Será que ela topa?!"
Juliana hesitou por um momento. Sentia que algo estava errado, que havia peças faltando nesse quebra-cabeça. Mesmo assim, seus dedos se moveram quase automaticamente enquanto ela digitava:
"Me enviem o endereço, e eu estarei lá."
Ao enviar, uma sensação inquietante tomou conta dela. Era como caminhar em um terreno que parecia firme, mas escondia armadilhas sob a superfície. Juliana olhou para o reflexo de si mesma na janela. Havia algo diferente em seus olhos — dúvida, confusão, talvez medo.
Quem está mentindo? Ou sou eu quem está enlouquecendo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Blue | ⚢
RomanceJuliana vive mergulhada em uma solidão que já parece parte de sua própria identidade. Desde a perda devastadora de seu grande amor, ela se isolou, convencida de que a dor é mais segura do que arriscar sentir novamente. As tentativas de suas melhores...