Entre Memórias e Novos Caminhos

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Já passava do meio-dia quando Juliana abriu os olhos, sentindo a dor pulsante em sua cabeça, resultado claro dos limites que ela, obviamente, havia ultrapassado na noite anterior. Ela olhou ao redor e não viu ninguém ali.
"Será que a Gabi foi embora sem se despedir?" — pensou, ainda meio perdida na confusão da manhã seguinte.

Levantou-se devagar, o corpo reclamando a cada movimento, e caminhou até o banheiro. Escovou os dentes com esforço, respirou fundo e, por um breve momento, sua mente retornou à noite passada. Em que momento Gabi a olhou de outra forma?

Foi então que a voz de Gabi, suave e tranquila, invadiu seus pensamentos.

— Bom dia, Ju, como você está? — Gabi falava da porta do quarto, seu tom caloroso e familiar.

— Achei que você tivesse ido embora sem se despedir — disse Juliana, saindo do banheiro e encontrando Gabi na porta.

— Não sou tão mal agradecida assim — respondeu Gabi com um sorriso sincero.

— Não disse que era, apenas achei que poderia ter sido assim. Não é como se fosse impossível...

Gabi ergueu uma sobrancelha, ligeiramente surpresa.

— Então é isso que você pensa de mim? Interessante. Mas então... quer almoçar comigo ou prefere que eu vá embora?

Juliana sorriu, sentindo um leve alívio ao ver que a tensão não se manteve.

— Você escolhe o lugar.

— Eu não conheço muitos lugares aqui... Mas podemos tentar procurar juntas, certo? Aliás, se não se incomodar, posso continuar com sua roupa? Não sei se seria muito higiênico voltar a usar o que estava vestindo ontem.

— Claro! Pode continuar com elas. Não é como se eu não tivesse outras roupas para usar — respondeu Juliana, piscando para Gabi.

As duas saíram para explorar o bairro à procura de um lugar para almoçar. Era um bairro tranquilo, com ruas arborizadas e uma variedade de restaurantes que atendiam a todos os horários e gostos, desde cafés acolhedores até jantares mais requintados. O clima estava ameno, com uma neblina inesperada que dava ao cenário um toque quase mágico, e um frio suave que ninguém esperava no auge do verão.

Juliana adorava esse tipo de clima. Para ela, eram os melhores dias, aqueles em que o mundo parecia desacelerar. No entanto, ela nunca imaginou que passaria um dia assim fora de casa. Normalmente, ela ficaria em seu escritório, observando o movimento da cidade pela janela enquanto saboreava uma xícara de café.

— Em que você está pensando? — Perguntou Gabi, reparando que Juliana estava distraída e parecia distante nos últimos minutos.

— Normalmente, eu não fico fora de casa, especialmente quando o tempo está assim.

— Assim como? Frio?

— Exatamente. É o melhor momento para ficar embaixo das cobertas, olhando pela janela e tomando café.

Gabi riu, entendendo perfeitamente.

— Ah, então eu estraguei seus planos de frio?

— Não, está tudo bem — respondeu Juliana com um sorriso, antes de parar abruptamente em frente a um restaurante. — Eu conheço esse lugar. A comida é boa. Quer tentar aqui?

Gabi apenas acenou com a cabeça, concordando, e as duas entraram.

— Boa tarde! Sejam bem-vindas! Já conhecem o local ou gostariam de alguma recomendação? — perguntou a garçonete, com uma empolgação contagiante.

— Ah, obrigada. Podemos ficar com o cardápio um momento? — pediu Juliana, sorrindo.

— Claro! Fiquem à vontade. Qualquer coisa é só chamar.

Juliana começou a comentar sobre os pratos do cardápio, falando com entusiasmo sobre suas escolhas favoritas e indicando quais Gabi provavelmente iria adorar.

— Se um dia você perder seu emprego, tenho certeza de que te contratariam aqui. Você conhece esse cardápio melhor do que a própria garçonete — disse Gabi, erguendo os olhos do cardápio para encarar Juliana com um sorriso divertido.

Juliana riu, um pouco envergonhada.

— Frequentava esse lugar muito antes de nos encontrarmos. Acabei experimentando de tudo.

— Eu não imaginava que você fosse alguém de frequentar restaurantes — comentou Gabi, um pouco surpresa. — Nós nos conhecíamos nessa época?

— Sim, nós nos conhecíamos... mas não éramos tão próximas quanto somos agora.

— Entendi, então eu conheci sua versão que odiava pessoas. Bom, sorte a minha, né?

Juliana riu mais uma vez, sentindo uma leveza tomar conta do momento.

— Eu acho que você vai adorar o Risoto de Shimeji. É uma boa escolha.

Ela fez um gesto discreto para chamar a garçonete, que logo voltou com o mesmo sorriso contagiante.

— Decidiram o que vão pedir?

— Sim, vamos querer dois Risotos de Shimeji, por favor — respondeu Juliana, com um sorriso.

— Algo para beber?

— Um suco de laranja para mim, por favor. E você, Gabi?

— Uma água com gás, gelo e limão.

A garçonete anotou os pedidos e se afastou com a mesma energia positiva.

Um silêncio confortável se instalou entre elas, mas Juliana estava perdida em pensamentos. A cada garfada que Gabi dava, Juliana revivia momentos esquecidos, memórias que começavam a se entrelaçar com a presença de Gabi em sua vida.

Enquanto isso, Gabi observava Juliana com curiosidade, tentando compreender a versão da mulher que ela conhecia, agora mais acessível, mais disposta a ver o mundo com outros olhos.

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