A mente de Juliana era uma confusão de vozes e sentimentos. A voz de Camila ressoava como um eco impossível de ignorar.
"Vai atrás dela!"
Por um momento, Juliana tentou ignorar, mas a urgência era esmagadora.
"Vai agora!"
A imagem de Camila era tão nítida em sua mente que Juliana virou a cabeça, como se fosse encontrá-la ali. Mas não havia ninguém. Só o vazio do apartamento e a crescente sensação de que, se não agisse agora, perderia Gabi para sempre.
Fechou os olhos, respirou fundo, e antes que pudesse racionalizar, estava correndo pela porta.
— Gabi! Espera! — gritou, a voz desesperada ecoando pelo corredor do prédio.
A figura de Gabi já se afastava, o som de seus passos apressados ecoando no saguão. Por um instante, Juliana pensou que talvez fosse tarde demais. Mas algo dentro dela a impulsionava a continuar.
O coração disparado, os pulmões ardendo, ela alcançou Gabi no exato momento em que esta estava prestes a sair do prédio. Segurou-a pelos braços, com uma delicadeza quase contraditória à urgência de sua ação.
— Volta e conversa comigo direito. — A voz de Juliana tremia, mas não tanto quanto seu olhar, um misto de tristeza e medo. — Eu não estou entendendo o que está acontecendo. Por favor.
Gabi virou-se lentamente, os olhos presos nos de Juliana. Ela não chorava, mas havia algo em sua expressão que era quase pior do que lágrimas: o peso de uma decisão que ela parecia incapaz de carregar.
— Ju, eu... — Gabi começou, mas a voz falhou.
Juliana não desistiu.
— Não vai assim. Por favor.
Por um momento, o silêncio entre as duas era tão palpável que parecia gritar. Finalmente, Gabi assentiu, quase imperceptivelmente, mas foi o suficiente para que Juliana sentisse o nó em seu peito afrouxar.
— Tá bom. Vamos conversar.
Sem trocar mais palavras, as duas voltaram ao apartamento. Cada passo parecia carregar o peso do mundo, mas Juliana sabia que não podia deixar isso escapar.
Quando a porta do apartamento se fechou atrás delas, o espaço parecia menor, mais sufocante. Juliana sentiu um calor subir pelo rosto enquanto tentava organizar os pensamentos, mas Gabi foi a primeira a quebrar o silêncio.
— Eu não vim aqui pra brigar. Só precisava te dizer algumas coisas.
Juliana esperou, sentindo o coração bater no ritmo mais frenético que já havia experimentado.
— Sobre ontem... Eu não sei o que você está sentindo, Ju, mas pra mim, aquilo foi... importante. Foi real.
A confusão e a dúvida voltaram a dominar Juliana. Ela balançou a cabeça lentamente, tentando formar palavras, mas Gabi continuou:
— Só que eu não sei se você sente o mesmo. Eu vejo como você tenta fugir, como se estivesse sempre com um pé atrás. E eu não quero forçar nada, entende?
A sinceridade de Gabi era desarmante. Juliana sentiu como se estivesse nua diante dela, incapaz de esconder qualquer pedaço de sua vulnerabilidade.
— Eu não sei o que sinto, Gabi. — A voz de Juliana saiu em um sussurro. — Ontem... foi tão confuso. Eu só... não quero te machucar.
O silêncio que seguiu parecia interminável. Finalmente, Gabi deu um pequeno sorriso, sem alegria, mas cheio de compreensão.
— Eu sei que você tem medo. E tudo bem. Mas, Ju, você precisa decidir o que quer, porque eu não posso ficar aqui, parada, esperando por algo que talvez nunca venha.
As palavras de Gabi caíram como um golpe, mas eram ditas sem rancor. Eram honestas. Juliana sentiu as lágrimas se acumularem, mas as segurou.
— Eu só preciso de tempo... — começou, mas Gabi levantou a mão, interrompendo-a.
— Tempo, Ju, é o que eu já dei. Agora, você tem que me dar uma resposta.
A sala parecia encolher ao redor delas. Gabi esperava, paciente, mas firme. Juliana sabia que aquela era a encruzilhada.
E pela primeira vez, o silêncio era só dela.
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Blue | ⚢
RomanceJuliana vive mergulhada em uma solidão que já parece parte de sua própria identidade. Desde a perda devastadora de seu grande amor, ela se isolou, convencida de que a dor é mais segura do que arriscar sentir novamente. As tentativas de suas melhores...