Confusão

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"Tempo do quê?"

Juliana repetia essas palavras em sua mente como um mantra desconcertante, tentando desvendar o significado escondido na conversa com Gabi. Tudo parecia fora de lugar, como se ela tivesse acordado em um universo paralelo.

"Elas nunca nem tiveram nada, nunca pensaram em ter algo juntas... Então por que parecia que ela estava cobrando algo?"

Desesperada por respostas, Juliana pegou o telefone e, sem pensar muito, ligou para Sofia.

— E aí, Ju? Tranquilo? — A voz de Sofia era uma mistura de seriedade e descontração, o tom de quem não esperava o que estava por vir.

— Podemos nos encontrar? Preciso conversar... — Juliana suspirou, a exaustão impregnada em cada palavra.

— Claro. Me diz onde e já vou.

Elas combinaram de se encontrar em um café próximo, um daqueles que eram quase escondidos, mas sempre cheios. O clima, como de costume, era frio e cinzento, algo que parecia combinar perfeitamente com o turbilhão interno de Juliana. Já fazia tanto tempo que o sol não aparecia que ela sequer se lembrava da última vez que sentira calor.

Ao chegar, o café estava lotado, com uma mistura de risadas, sons de xícaras e vozes animadas. Apesar da movimentação, Juliana não se importava. Ela precisava de clareza, precisava de Sofia.

Esperou alguns minutos até avistar os cabelos escuros da amiga. Levantou-se de forma quase automática para recebê-la, a vergonha evidente no modo como seus olhos desviavam para o chão.

— Oi, Sofie. Obrigada por vir. — Juliana tentou sorrir, mas não conseguiu disfarçar o cansaço.

— O que rolou entre você e a Gabi não é um bicho de sete cabeças. — Sofia disse enquanto puxava a cadeira e acenava para chamar um garçom. — Na verdade, eu achei que demorou muito para acontecer.

O quê?! — Juliana arregalou os olhos. — Ela te contou alguma coisa?

Sofia deu de ombros, um sorriso de quem sabia mais do que deveria.

— Ela não precisou contar muito. Mesmo que não tivesse falado nada, era óbvio.

— Sofie... — Juliana começou, o nervosismo transparecendo enquanto esfregava freneticamente os joelhos. — Eu estava muito bêbada ontem. Não sei o que aconteceu.

— Nada? Nada mesmo? — Sofia a olhou com uma sobrancelha arqueada, o tom provocador.

Juliana desviou o olhar, a voz mal saindo:

— Acho que nos beijamos. Talvez tenha rolado mais, mas não tenho certeza...

— Rolado mais? Tipo... transado? — Sofia inclinou-se para frente, a curiosidade iluminando seus olhos.

Juliana enterrou o rosto nas mãos e murmurou quase num sussurro:

— Acho que sim...

Sofia reprimiu uma risada e, com uma leve ironia, respondeu:

— Ju, isso seria um milagre. Sabe por quê? Porque, nas minhas contas, você não transa há cinco anos!

Juliana levantou a cabeça bruscamente, incrédula.

— Eu não acredito que você tá contando isso!

Sofia deu de ombros, tomando um gole do cappuccino que acabara de chegar.

— Mas sinto informar: o milagre não rolou.

— Não? — Juliana piscou, tentando processar. — Então... não transamos?

— Não. Segundo a Gabi, vocês deram uns amassos bem... quentes. Mas foi só isso. — Sofia pegou um croissant e deu uma mordida, como se aquilo fosse a coisa mais banal do mundo. — Quer um pedaço? Tá ótimo.

Juliana balançou a cabeça, incrédula.

— Então o que ela quis dizer com esse papo de tempo?

Sofia parou de mastigar por um instante, limpando os lábios com um guardanapo.

— Tempo? Como assim?

— Ela falou como se estivéssemos em um relacionamento e eu tivesse feito alguma grande besteira.

Sofia soltou um suspiro, recostando-se na cadeira.

— Ju... A Gabi sempre gostou de você. Desde que a conhecemos, ela tem um brilho diferente quando está com você.

O quê? — Juliana mal conseguia acreditar.

— É óbvio. Mas você nunca deu abertura pra nada. Nem quando ela dormiu no seu apartamento porque tinha se trancado para fora.

Juliana ficou imóvel, o rosto denunciando que aquilo era uma revelação. Sofia percebeu e decidiu ir mais fundo.

— Ela me contou, sim. E disse que naquela noite achou que talvez você finalmente tivesse percebido... mas você sempre escondeu o jogo.

As palavras de Sofia eram como peças de um quebra-cabeça que começavam a se encaixar, mas o quadro completo ainda estava distante.

— Então... o que ela quer de mim agora? — Juliana murmurou, mais para si do que para Sofia.

— Ju, isso é com você. Ela já te deu sinais suficientes. Agora é a sua vez de decidir.

Juliana ficou em silêncio, os olhos fixos na xícara de café frio à sua frente. As respostas que buscava pareciam ainda mais distantes.

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