Ecos do Passado

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O toque insistente do celular despertou Juliana de um sono agitado. A cabeça doía e o coração parecia preso em um aperto constante. Ela havia apagado no sofá, Tonta, atendeu ao telefone sem sequer verificar o número.

– Alô? – sua voz saiu rouca, mais por nervosismo do que por cansaço.

– Oi, Juliana. Tudo bem?

Ela reconheceu a voz imediatamente. Uma onda de desconforto a atingiu ao perceber quem estava do outro lado da linha. Renata. Era impossível esquecer aquela voz, mesmo que já fizesse tanto tempo desde a última vez que tinham se falado. Arrependeu-se no instante em que atendeu sem verificar o número.

– Oi, Renata. Estou bem, e você? – respondeu com um tremor perceptível, enquanto se apressava para ligar o computador e começar o trabalho.

– Estou na cidade há alguns dias. Pensei em entrar em contato antes, mas fiquei presa em compromissos. Agora consegui um tempo livre e vou embora depois de amanhã. Podemos nos encontrar? Gostaria muito de te ver.

Juliana hesitou. Sua mente estava a mil, tentando entender por que Renata reaparecia assim, tão repentinamente. Mas, sem saber como recusar, concordou.

– Claro, podemos sim. Me avise o horário que fica melhor para você.

Enquanto desligava o telefone, a lembrança de seu compromisso com Gabi no dia seguinte veio como um soco. Ela tentou justificar a si mesma: É só uma exceção. Eu precisava aceitar esse encontro.

O dia seguiu como de costume, mas sua mente não conseguia se aquietar. Por que Renata tinha entrado em contato depois de tanto tempo? Aquela visita parecia mexer com algo que ela não queria revisitar. Sua vida, que sempre fora tão controlada e previsível, parecia agora fora de controle, cheia de encontros inesperados e emoções mal resolvidas.

Ao final do expediente, antes de se esquecer, ela pegou o celular e enviou uma mensagem ao grupo com Gabi e Sofia:

"Boa noite, meninas. Ocorreu um imprevisto e precisarei desmarcar nosso encontro amanhã."

A resposta veio rápida, e mais direta do que ela esperava:

"Eu te falei, Gabi." – escreveu Sofia, seca.

Juliana tentou consertar a situação, mesmo sabendo que soaria como mais uma desculpa:

"Sei que parece que não quero ver vocês, mas juro que dessa vez preciso resolver algo. Podemos marcar para domingo, se estiver tudo bem para vocês."

A resposta de Sofia veio quase como um tapa:

"Você faz o que achar melhor, Juliana. Estou cansada de tentar ajudar e só ver você se esconder ainda mais nesse apartamento. Faz anos que você vive assim, e durante todo esse tempo tentei te tirar daí. Você já parou para pensar na última vez que perguntou como eu estava? Ou na última vez que saímos porque você realmente queria estar conosco?"

Juliana ficou sem reação. Então, como se para suavizar a tensão, Gabi respondeu com sua calma habitual:

"Calma, Sofie. Vamos conversando, Ju. Espero que você consiga resolver o que precisa."

Sentada no sofá, Juliana releu as mensagens, especialmente as de Sofia. Elas a atingiram em cheio. Ela tem razão, pensou. Desde que sua vida desmoronara anos atrás, ela se fechara completamente. Criou um muro invisível ao redor de si mesma, afastando até as pessoas que sempre estiveram ao seu lado.

Sentiu um peso esmagador ao perceber como se tornara uma sombra do que já fora. Antes, ela era presente, preocupada, realmente interessada no bem-estar das pessoas que amava. Hoje, não passava de alguém que evitava qualquer envolvimento emocional.

As palavras de Sofia ecoavam em sua mente, misturando-se com lembranças que ela tanto se esforçava para enterrar. Era como se, de alguma forma, todas as coisas que ela tentara esquecer estivessem batendo à sua porta, esperando que ela finalmente decidisse enfrentá-las.

Juliana respirou fundo. Lágrimas começaram a cair, quentes e pesadas. Ela sabia que não podia continuar vivendo assim. Mas como mudar? Como sair do buraco que ela mesma cavou e deixou que a engolisse?

Enquanto encarava o teto, um pensamento se formou, claro e inevitável: Talvez seja hora de parar de fugir.

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