Entre a Vida e a Morte

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A sala de espera do hospital era sufocante. As luzes fluorescentes lançavam um brilho impiedoso sobre as paredes brancas, e o som dos passos apressados dos enfermeiros ecoava como um metrônomo cruel, marcando o tempo que Sofia passava ali, sozinha. O gosto salgado das lágrimas e do mar ainda estava em seus lábios, e suas roupas, encharcadas, colavam-se à pele, trazendo um frio que não vinha apenas do corpo, mas da alma.

Juliana estava sendo avaliada desde que chegou ao hospital, e Sofia não tinha permissão para vê-la. "Está estável," disseram os médicos, mas aquelas palavras não carregavam consolo. Estável não significava salva. E Sofia não conseguia tirar da mente a imagem de Juliana boiando entre as ondas, sem vida, enquanto o mar parecia rir de sua impotência.

Ela se levantou abruptamente, caminhando até o balcão pela quinta vez.
— Alguma notícia? — perguntou, a voz embargada.
A recepcionista olhou para ela, visivelmente cansada, mas respondeu com calma:
— Ela está na UTI. Ainda não acordou, mas estamos monitorando de perto. A médica virá falar com você assim que possível.

Sofia voltou ao banco duro e frio, o coração ainda mais pesado. Era um misto de medo e esperança. Medo de perder mais uma pessoa que amava, esperança de que Juliana acordasse para que ela pudesse lhe explicar como descobrira aquilo.

As horas se arrastaram. Sofia passava os dedos repetidamente pelos cabelos molhados, incapaz de parar de pensar no que poderia ter feito diferente. Talvez, se tivesse se aproximado mais de Juliana depois da morte de Camila... talvez, se tivesse insistido mais em estar ao seu lado... mas o "talvez" era um jogo cruel, e Sofia sabia disso. Ela estava presa no mesmo ciclo quando a voz de uma mulher atrás dela interrompeu seus pensamentos.

— Sofie?

Ela virou-se e encontrou Gabi, parada ali, com os olhos vermelhos e um rosto que oscilava entre alívio e pavor. Gabi parecia ter corrido até ali. Seu cabelo estava desarrumado, e as mãos tremiam enquanto segurava a bolsa com força.

— Como ela está? — perguntou Gabi, ofegante.
Sofia hesitou, sentindo um nó na garganta.
— Ela... ainda não acordou. Engoliu muita água. Os médicos disseram que foi por pouco.

Gabi soltou o ar em um soluço, cobrindo o rosto com as mãos. Sofia se levantou e, hesitante, colocou a mão no ombro dela.
— Ela vai ficar bem. Ela precisa ficar bem.

As duas ficaram em silêncio por um momento, compartilhando o mesmo desespero. Naquele instante eram cúmplices na dor e na esperança.

Horas depois, uma médica finalmente veio até elas. O semblante sério fez o coração de Sofia saltar no peito.
— Juliana teve sorte — disse a médica. — A quantidade de água que engoliu poderia ter causado danos irreversíveis, mas conseguimos estabilizá-la a tempo. No entanto, precisamos monitorar para garantir que não haja sequelas neurológicas. Ela está sedada agora, mas deve acordar nas próximas horas.

O alívio foi instantâneo, mas insuficiente. Sofia fechou os olhos e deixou escapar uma longa respiração, enquanto Gabi segurava sua mão com força.

— Podemos vê-la? — perguntou Gabi, a voz quebrada.
— Apenas uma pessoa por vez, por enquanto.

Sofia olhou para Gabi e assentiu.
— Vai você. Ela precisa de você.

Gabi hesitou, mas aceitou. Quando entrou na sala, Sofia se sentou novamente, sozinha. Fechou os olhos e tentou se concentrar na respiração. Ela vai ficar bem. Vai acordar. Precisa acordar.

O tempo passou devagar. Gabi saiu do quarto alguns minutos depois, enxugando as lágrimas, e Sofia finalmente entrou.

Juliana parecia pequena e frágil na cama do hospital. O som rítmico das máquinas era o único indício de que ela ainda estava ali, lutando. Sofia aproximou-se e segurou sua mão, que estava gelada ao toque.

— Você não pode me deixar também, Ju — sussurrou, inclinando-se para perto. — Eu sei que não fui a melhor amiga que você precisava, mas eu preciso que você fique.

As lágrimas voltaram, escorrendo silenciosamente. Sofia abaixou a cabeça, apertando a mão de Juliana contra a sua testa. O que parecia uma eternidade depois, um som fraco e rouco a fez levantar o olhar.

Juliana estava tentando falar.

— Ju? — Sofia disse, o coração disparado.

Os olhos de Juliana abriram-se devagar. Ela parecia confusa, a boca seca, mas Sofia viu algo que não esperava: dor.

— Sofie... — Juliana sussurrou, a voz quase inaudível.

Sofia se inclinou mais, o coração apertado.
— Oi, Ju. Eu tô aqui.

Mas Juliana fechou os olhos novamente, exausta. Ela estava viva, mas Sofia sabia que o que viria a seguir não seria fácil. As respostas que ela daria a Juliana eram difíceis e Sofia sabia que precisaria de toda a força que tinha para contá-las.

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