Capítulo 41

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[Emma]


Havia algo de absolutamente fascinante em vê-la dormir. Regina parecia tão pequena e vulnerável naquele momento, como se todo o peso do mundo finalmente tivesse abandonado seus ombros. Seu rosto, relaxado e tranquilo, tinha uma serenidade quase irreal, um contraste gritante com a intensidade feroz que ela carregava acordada.

Enquanto a luz suave da manhã atravessava as cortinas e repousava em seus cabelos escuros, eu me peguei refletindo sobre como chegamos até aqui. Casadas, felizes, inteiras. Era surreal, quase como um sonho. Se há poucos anos alguém me dissesse que aquela mulher, que tinha todos os motivos do mundo para desconfiar de mim, do mundo, na verdade, seria minha esposa, eu teria rido, ou talvez chorado, dependendo do dia.

Eu me movi com cuidado para não acordá-la e me sentei na beirada da cama, observando cada detalhe dela. Desde o jeito que seus cílios longos lançavam sombras delicadas em suas bochechas até o ritmo constante da sua respiração. Cada pedaço dela era a prova de que a dor, por mais brutal que fosse, podia ser transformada em algo belo.

A terapia foi um divisor de águas para nós, mas principalmente pra mim. Regina, com sua relutância inicial, acabou mergulhando fundo no processo, como sempre faz com tudo. Ela enfrentou os demônios do passado com uma coragem que me deixava sem palavras. E eu... bem, eu finalmente encarei os meus também. Aprendi que o amor verdadeiro não é apenas sobre se apaixonar. É sobre recomeçar, dia após dia, escolhendo a mesma pessoa, mesmo quando os velhos medos tentam sussurrar que você não é suficiente.

Tem dias, mesmo agora, que acordo com um aperto no peito, como se algo pudesse dar errado a qualquer momento. É irracional, eu sei, mas a sensação de que Regina vai perceber que eu não sou suficiente e me deixar, levando as crianças com ela, ainda me atormenta. Nessas manhãs, eu fico imóvel, presa na minha própria insegurança, até que ela, como sempre, parece sentir. Minha morena se mexe na cama, me puxa para perto e me abraça tão forte que quase tira meu fôlego. É o jeito dela de dizer sem palavras: "Eu estou aqui. Eu sempre vou estar aqui."

E mesmo quando ela não faz nada tão evidente, sei que sussurra para as crianças ficarem perto de mim. Percebo que tem o dedo dela quando a pequena Evie me abraça do nada, ou quando Jay insiste em ficar ao meu lado enquanto lê os seus livros. Até a mais nova, Lily, que ainda não tem total discernimento, ela vem cambaleando em minha direção para agarrar as minhas pernas. Regina não admite, mas eu sei que é ela que organiza esse pequeno exército de amor nos meus piores dias.

Mas o engraçado é que, às vezes, somos tão iguais. Quando Regina esbarra em alguém do seu passado, algum magnata ou empresário que já foi cliente dela, o impacto é devastador. Ela volta para casa com os ombros pesados e o olhar perdido, como se todo o progresso que fez ao longo dos anos pudesse ser apagado por um único encontro. Nessas noites, ela quase não fala, mas sei exatamente o que está pensando: que não é digna de mim, que eu fiz uma grande coisa ao me casar com ela.

E é aí que ela se engana. Regina acha que eu a salvei, mas, na verdade, foi ela que me salvou — de mim mesma. Desde o dia em que a conheci, ela me mostrou que amar é mais do que aceitar os pedaços bons de alguém. É sobre acolher as partes quebradas, mesmo quando elas são difíceis de entender ou de aceitar. E ela fez isso por mim de todas as maneiras possíveis.

Parando pra pensar nos dias de hoje, a minha vida foi um ciclo de ser salva. Primeiro foi meu irmão, no acidente de carro que matou nossos pais, mas ele me salvou. Depois foi minha tia Ruby, minha mãe de fato, que escolheu vender o próprio corpo antes de deixar me jogarem em um orfanato. E então, Regina. Ela me salvou de um jeito que ninguém mais poderia. Não só me deu uma razão para amar novamente, mas também três filhos incríveis e maravilhosos.

A Prostituta (G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora