Capítulo 1

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Hoje é o grande dia. Querendo ou não sempre soube que essa hora iria chegar, apenas sonhei com esse momento durante toda minha vida. Finalmente consegui passar na faculdade de artes e mais do que nunca irei poder sair da casa do meu pai.

Pois então, nem me apresentei. Meu nome é Bianca, claro que não poderia faltar o "Bachn", sobrenome esse que eu não tenho a menor vontade de desfilar por aí. Foi meu pai quem me "honrou" com esse bendito sobrenome, e de coração, preferia nunca ter o carregado.

Desde que me conheço por gente sou mimada por todos, e cheia de outros interesses, tudo isso devido ao fato de que uma das maiores empresas de advocacia do país pertence a minha família. Por isso o impacto tão grande ao ouvir meu sobrenome. Não é todo dia que aparece uma "Bachn" por aí.

Minha vida até eu completar 13 anos era como em contos de fadas. Meus pais eram tão felizes que parecia até mentira, parecia não, era! Eu certamente era inocente demais para entender que nada é perfeito, e isso só me ocorreu quando minha mãe descobriu todas as traições que vinha sendo proposta ano após outro.

Foi então que minha vida se tornou um sacrifício, pois depois que aconteceu  acidente minha mãe definhou de uma tal forma que meses após a descoberta do câncer não aguentou e se foi. Eu nunca me culpei pelo ocorrido, mas no fundo ainda me atordoava saber que ela se foi de maneira tão triste. Esse assunto me magoa até hoje e por isso, evito ao máximo conversar sobre.

Posso dizer que embora tenha crescido em meio de luxo, dinheiro e tudo do bom e do melhor, nunca fui mesquinha, medíocre, mimada, ou que qualquer outra característica que se agregue a uma pessoa rica hoje em dia. Sempre soube a importância do dinheiro e principalmente do trabalho.

Deixo os pensamentos de lado ao ouvir batidas na porta do quarto, termino de dobrar o resto de roupas que faltava, guardando as mesmas na mala, me apresso gritando - Já vai! - Me aproximando mais da porta, abro, e sorrio.

- Ah minha menina, hoje é o seu dia, me dói só de pensar que você vai morar fora. - Dona Ana diz enquanto acaricia meu rosto, fecho os olhos ao receber tais carinhos, e logo sinto ela me abraçar. Fico abraçada com a mesma, até sentir meus olhos se encherem de lágrimas, me deixo tomar por lembranças.

Desde que minha mãe se foi, dona Ana assumiu o posto de mãe, de avó, tia, e qualquer outro que uma criança precisava para ser feliz. Ela passou a me levar para escola, parque, ajudar com tarefas escolares e a cuidar de mim, já que meu pai sabia apenas o significado da palavra trabalho.

Me afasto dela enquanto limpo meu rosto que a essa altura já havia sido tomado por lágrimas. - Poxa mãe, a faculdade não fica tão longe daqui, além de que eu voltarei em feriados, e sempre que puder. Também sabemos que isso vai ser bom pra mim. - Digo enquanto termino de fechar as malas, e as pondo no chão. No fundo mesmo estava tentando lhe passar confiança, confiança essa que nem eu mesmo tinha. Querendo ou não eu estava com medo do que poderia vir a me acontecer. 

- Minha menina, será mesmo necessário você ir pra tão longe? Seu pai já lhe ofereceu um cargo na empresa e você sabe que no fundo isso tudo lhe pertence. - Ela diz enquanto segura minhas mãos e acarinha as mesmas.

- Olha, eu sei que você vai tentar me convencer de ficar de qualquer maneira, mas eu nunca gostei de direito, nunca nem cogitei a hipótese e agora mais do que nunca eu quero seu apoio mãe. Eu preciso ir, preciso seguir e ver o que vai ser melhor pra mim! - Vou em direção as malas novamente, pegando as mesmas. - Você vem? - Lhe alcanço uma de minhas malas e saio do quarto.

Sei que ela está preocupada mas não posso deixar que a dúvida volte a bater em minha cabeça, eu preciso ir e não tenho como voltar atrás mais.

Chego na sala, observo a casa pela última vez, vejo a porta do escritório aonde tenho total certeza que meu pai está, mordo o canto do lábio apreensiva, bato na porta. Embora nossa relação tenha sido bastante afetada com a morte de minha mãe, me sinto na obrigação de me despedir.

- Entre! - Ouço e no mesmo instante sinto meu coração acelerar, respiro fundo, e entro. - Oi pai, vim aqui me despedir e..- sou interrompida por ele.

- Sinceramente eu não acredito nesse disparate Bianca, lhe dei as melhores escolas, as melhores roupas, tudo do bom e do melhor pra você ser a única entre seus irmãos que não quer seguir a carreira? Meu Deus devo ter jogado pedra na cruz, não é possível você me dar esse desgosto. - Acompanho o mesmo se levantar, fazer a volta no escritório, e parar na minha frente. Sinto um medo do que pode seguir, mas o olho firmemente, acompanhando cada palavra.

O mesmo continua dizendo... - Artes? Sério isso? Você é louca, isso não vai lhe dar futuro minha filha, você não vai ser ninguém, vai perder anos de sua vida com essa porcaria! -

Termino de ouvir suas palavras, como se na real tivesse recebendo vários tapas na cara, um atrás do outro. Ainda sem acreditar no que ouvi, respiro fundo - Desculpa por tamanho "desgosto"... - Digo a última palavra em tom de deboche, sorrio de canto e concluo. - Mas eu não vim lhe pedir nenhum conselho ou sua opinião, apenas usei o bom senso e vim me despedir, porém já que você prefere desse jeito, até mais doutor Vitor Bachn. - Passo pelo mesmo, saio do escritório batendo a porta, seguindo em direção ao carro já que as malas foram colocadas no carro pelos empregados que cuidaram de mim durante todos esses anos.

Saindo de casa, vejo dona Ana na porta, volto correndo e abraço a mesma, fecho os olhos e me limito a dizer "tchau mãe", termino de me despedir e entro no carro, vejo a mesma acenar da porta, ligo o carro, sinto as malditas lágrimas brotarem dos meus olhos novamente, ligo o carro e sigo a caminho da Universidade.

Ao longo do caminho sinto as lágrimas caírem, continuo em frente sem impedi-las. Mais do que nunca eu queria minha mãe aqui comigo.

A saudade que sentia após seu falecimento era tão grande que por um longo tempo eu tive sonhos e pesadelos com ela, além de que caí em uma profunda depressão quando completei meus 15 anos.

Foi então que me apeguei tanto aos desenhos e pinturas, digamos que era uma espécie de terapia, toda e qualquer arte me atraía, inclusive música. Não digo que sou uma cantora pois to longe, mas aprendi a tocar violão e piano. Era isso que me acalmava quando a saudade invadia minha mente e tomava conta de todos meus pensamentos.

No momento a única coisa que me acalmava era saber que minha melhor amiga estaria na Universidade também, afinal não sou tão sofrida quanto pensam.

Conheci Jully quando completei meus 16 anos, nós duas fazíamos natação juntas e desde então passamos a fazer tudo juntas. A natação foi mais uma das artimanhas que meu pai usou para que eu esquecesse o quanto ele era ausente na minha vida. Tinha outros cursos ou melhor, "passa-tempos" além desse, fiz curso de inglês, natação, teatro, dança (Minha outra paixão, principalmente quando se trata de ballet contemporâneo.) entre vários outros que nem me recordo de tão banais que eram pra mim.

Ela passou em direito, sempre pensou em ser uma advogada criminalista, eu sempre achei isso maior besteira, porém, sempre que ela ia lá em casa perdia horas e horas conversando com meu pai sobre tal assunto.

Jully e eu fomos sempre muito diferentes. Ela era do tipo "namoradeira" afinal, seria de se estranhar se não fosse, ela era uma mulher bonita, também tinha 21 anos, não era tão alta, era magra, com uma  pele um pouco bronzeada, quase nada. Cabelos loiros ondulados que iam até o ombro, as vezes usa franjinha (Vivia em uma constante mudança) e olhos claros num tom de azul esverdeados. Uma beleza padrão, porém não deixava de não ser despercebida.

Já eu, tenho olhos azuis e grandes, nada demais mas que deixam meu olhar mais marcante do que a cara de um assassino na porta da cadeia.  Tenho a pele branca papel, e a altura média, pode até se considerar boa para uma mulher/menina de 21 anos. Meu cabelo é meu maior orgulho sem dúvidas, ele é liso, castanho claro e vai até a minha cintura. Digamos que o orgulho está ai no comprimento apenas, pois sempre admirei as princesas com aqueles cabelos grandes e brilhosos, por isso até conto nos dedos as vezes que fui em um salão cortar as pontas.

Enfim, eu nunca me apaixonei. Sim, eu já tive alguns namorados, mas nada que não fosse um romance adolescente.

Pra ser sincera, eu nunca acreditei naquele negócio que falam sobre "fogo da paixão", isso pra mim é fogo sim, mas só que em outro lugar! Pois bem Bianca, menos né. Além disso, nunca senti falta de amar, sempre tive em mim que sou meu melhor amor, então pra que outra pessoa pra amar?

Quase ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora