Cap. 9 - Dançar era minha praia.

3.2K 344 62
                                    

Ao entrarmos na boate, a música já estava em seu último volume e a pista de dança já possuía uma quantidade considerável de pessoas. A casa estava cheia e as pessoas se moviam animadas ao som de canções eletrizantes de indie rock. A pouca iluminação criava um clima propício para os que estavam ali se divertirem sem qualquer medo de serem julgados. A dança, o álcool, as risadas e as paqueras; esses fatores associados compunham aquilo que os frequentadores da Tribos procuravam: um estado de felicidade instantânea, uma alegria sem fim, por mais que restrita a uma curta madrugada.

Percebi vários rostos se curvando em nossa direção quando entramos na festa, e os olhares que recebíamos eram como elogios perfeitamente cabíveis: em um grupo em que as mulheres em questão eram talvez as mais bonitas do recinto e os caras que as acompanhavam, por sua vez, não ficavam por baixo, ser alvo de olhares luxuriosos não era nem um pouco estranho. Ao caminhar pela pista de dança, rapidamente fiz uma avaliação dos que estavam na boate: homens e mulheres dos mais diversos tipos estavam presentes, desde os não tão afortunados aos mais terrivelmente bonitos. Encontrar alguém ali para ter um romance de uma única noite seria um trabalho relativamente fácil. Até porque eles ainda nem tinham me visto dançar!

Atravessamos a pista até encontrarmos um lugar agradável onde poderíamos ficar em grupo sem sermos incomodados por esbarrões típicos dos mais animados ao dançar. Não demorou muito para que alguns (e algumas) começassem a se aproximar de minhas amigas com segundas intenções. Como sempre, Thaisa era o maior alvo de estranhos tentando puxar conversa. Pensei que os ciúmes que a haviam acometido do lado de fora da danceteria por causa de Nina levariam a uma mudança em seu humor, mas estava enganado. Thaisa, em sua inocência e simpatia, conversava com todos, até a hora em que percebia a intenção dos mais ousados e tinha que responder com um "não, obrigada" aos convites para irem pegar algo para beber ou conversarem a sós. Eu também fazia minha parte: alguns poucos simplesmente percebiam minha cara feia e se afastavam antes que tivessem a chance de perguntar, talvez enganados pela impressão de que eu era algo mais que seu amigo. Não funcionava sempre, mas já era uma ajuda.

Começamos a nos mexer ao som da música. Os passos que não saíam do "dois-pra-lá-dois-pra-cá" devido ao constrangimento do grupo, normal no início de uma noite numa boate. Todos ainda estavam envergonhados demais para dançar como realmente queriam.

Exceto ele.

Alguns minutos na pista de dança, e ele se mexia como se não dançasse há décadas. Extremamente desengonçado, ele não fazia ideia do que estava fazendo ou de como sua aparência parecia excêntrica ao pular feito um louco na pista. Finalmente havia descoberto algo em que Led era ruim: ele era um péssimo dançarino.

Suas pernas se moviam de maneira esquisita, descompassadas, enquanto seus braços rodavam como um daqueles bonecos de posto de gasolina. Diferentemente das meninas em nosso grupo (e de mim, tenho que admitir), ele não dançava como se estivesse tentando impressionar ou seduzir alguém; ele dançava pelo simples prazer de fazê-lo. Seria constrangedor se não fosse tão engraçado. E em minha opinião, irritantemente adorável!

Não percebi quando as pessoas começaram a apontar e a rir, mas quando vi, notei que não o faziam de gozação. Eles dividiam a felicidade de Eduardo, que dançava como se não houvesse mais ninguém ali. Eu, inclusive, estava encantado com aquele jovem que dançava de maneira tão animada e louca, pouco se importando com qualquer coisa além de sua diversão. Movia-se de maneira desajeitada e olhos fechados, e vez ou outra cantava ao som de algumas músicas que conhecia.

E então ele, que dançava sem se importar com as pessoas à volta, subitamente abriu seus olhos diretamente para mim. Fui pego no flagra. Led me viu admirando-o em sua maneira de mover e ao surpreender-me encarando-o (provavelmente com um semblante bem idiotado estampado no rosto), sorriu-me e deu uma piscadela sexy. No fundo, parecia que até dançar mal daquele jeito era uma estratégia para ser ainda mais sedutor, como se soubesse que as pessoas se interessariam pela ideia de um atraente estabanado. E não era só por mim que eu tirava aquela conclusão; a expressão de Mabel ao encarar Led não era tão diferente da minha.

Vem Comigo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora