Cap. 10 - A não ser que você esteja com ciúmes.

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A presença dele tão próxima a mim me impediu de dar uma resposta. Sua boca estava tão perto da minha que seria necessário apenas alguns centímetros para tocá-la e matar aquela necessidade que tanto me afligia. Eu não tinha ideia de quanto tempo levamos ali, nos encarando e esperando que o outro fizesse algo, mas minha batalha interna entre fazer o que meu corpo me pedia ou me recompor e sair dali parecia ter levado horas. Seus olhos não desviavam dos meus, e todo o seu tom irônico e seu sorriso de canto típicos haviam sumido; ele estava sério agora, intenso. O subir e descer do seu peito denunciavam sua respiração acelerada, talvez nervoso por esperar uma resposta que nunca viria.

- Meninos, aqui não é lugar para isso! Se quiserem curtir a festa, façam isso lá fora! Ou arrumem um quarto. – anunciou seu Sérgio, segurança de longa data da boate.

A presença de seu Jorge ali me fez voltar à realidade, e também trouxe Led de volta do seu estado de transe. Ele se distanciou um pouco de mim, me dando a oportunidade de escapulir por entre seus braços que me bloqueavam. Por um segundo pensei se aquilo não era a intervenção de alguma força divina para que eu me afastasse dele.

- Não se preocupa, seu Jorge. Não vai acontecer nada aqui. – respondi a seu Jorge, que apenas nos encarou em aviso e se retirou do banheiro, nos deixando à sós. O que era de certa forma surpreendente, já que se tratava de uma boate lotada.

- Nunca mais, entendeu? Nunca mais encoste em mim. – falei em tom ameaçador, apontando o dedo para ele.

- Primeiro, abaixa esse dedo, não te dei esse direito. – ele retrucou de maneira séria, segurando minha mão e descendo meu indicador. Parecia que o que eu acabara de falar sobre encostar em mim não tinha valido de nada. – Segundo, por que você não admite logo que está morrendo de ciúmes? Facilitaria bastante as coisas!

Minha vontade de dar um soco naquele garoto crescia exponencialmente. Era muita prepotência para uma só pessoa. Mas preferi respirar fundo e contar até dez. Eu não seria expulso por causa daquele garoto. Adotei então uma postura fria para iniciar a conversa que se seguiria.

- Eu não tenho ciúmes de você, se é isso que você quer saber. Você quer saber qual é o meu problema com você hoje? – ele assentiu, dando permissão para que eu continuasse. – Meu problema é você ficar com minha amiga e depois vir fazer... isso no banheiro comigo sem nem pensar em como ela poderia se sentir.

- Eu estou apenas ficando com ela, pelo amor de Deus! Não é como se eu a estivesse traindo. Eu faço o que eu quiser, não devo nada a ela, nem a você, nem a ninguém! Merda, você parece minha irmã! Cheios de lições de moral! – ele se defendeu.

- Você faz alguma ideia do que a Mabel passou? Do quanto ela está investindo em você agora? – questionei, descrente de que ele realmente acreditasse que seu discurso "sou livre para fazer o que quiser" fosse isentá-lo de qualquer culpa por brincar com sentimentos alheios.

- Não, mas eu tenho a impressão de que você não vai me deixar ficar sem saber, não é? – respondeu ele, com ar de cansaço.

- Não precisa se preocupar, vou resumir para você. – e apesar de não entrar em muitos detalhes, expliquei como havia sido ruim o relacionamento que Mabel havia tido com Renato, seu ex-namorado psicopata, expondo principalmente quão destrutivo esse relacionamento havia sido para minha amiga e como sua visão sobre relacionamentos havia mudado desde então.

Ao terminar, percebi que Eduardo parecia arrependido de suas ações com Mabel.

- Eu... não sabia que ela tinha passado por isso. Ela não me falou nada.

Eu estava cético com relação a isso. Conhecendo minha amiga, voltar àquele assunto com regularidade era comum para ela, sem problemas de comentar sobre aquilo até mesmo com semi-conhecidos.

Vem Comigo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora