Cap. 27 - Aquilo não estava dando muito certo.

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O arregalar de olhos de Eduardo me alertou para o fato de que eu o havia pego de surpresa. Sua feição me dizia claramente que aquele era um segredo que deveria ter sido mantido longe de mim por muito tempo, e ele no momento não havia entendido como aquela informação tinha chegado ao meu conhecimento.

- Então, Eduardo? Para quem estava falando tanto sobre confiança, você está surpreendentemente quieto. Não tem nada para dizer? - acusei, sem qualquer remorso.

- Quem te... como você... não era... - ele nunca conseguiu terminar a frase. Seus olhos, antes acusatórios, agora pareciam... arrependidos.

Mas eu desconfiava do arrependimento dele.

- Então... - tive que perguntar, apesar do medo e da certeza do tom de sua resposta. - ...é verdade?

Ele então se encheu de coragem, e me encarou com olhos desafiadores.

- É. Mas não importa! Que diferença faz se o cara com quem eu tô beija outro cara na primeira oportunidade? Você não era...

Eduardo continuou falando por mais um longo tempo, mas as palavras se tornaram sons ininteligíveis. Nada do que ele falava me importava, todas as injustas acusações contra mim eram apenas barulho de fundo.

Era verdade, então.

Ele iria embora.

Uma dor intensa se instalou em meu peito, o ar pareceu faltar no mundo todo. Eu me tornei ofegante, meus olhos começaram a queimar, numa vontade de choro imensa. "Eu nunca chorei tanto na vida como tenho chorado nos últimos meses" foi o pensamento que me veio à cabeça.

Eu entendia muito bem o amor da minha vida. Suas palavras, aquela verborreia de acusações, não condiziam em nada com seus olhos, que expressavam culpa e tristeza por tudo o que acontecia. Ele nunca admitiria, entretanto. Ele não queria ter que carregar a responsabilidade daquele momento em seus ombros. Mas acredito que minha expressão tinha despertado Led para o que de fato estava acontecendo ali.

Aos poucos, sua voz foi morrendo e só restou nosso olho no olho, a bandeira branca.

A admissão de derrota.

Não tenho ideia de quanto tempo ficamos ali em silêncio. E no fundo, também não entendia o que aquele silêncio queria dizer. Mas no fim, apenas me virei e segui na direção oposta a de Led. Eu estava tão entorpecido que não me importei em responder quando Led perguntou ao longe para onde eu ia. Eu honestamente não sabia.

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Ao me deparar com a fachada do meu prédio, percebi que meu subconsciente sempre me levava para casa. Talvez, apesar de todos os pesares, era o lugar onde eu me sentia seguro.

Entrei silenciosamente em casa e fui diretamente para o banheiro. No banho, deixei minhas lágrimas se misturarem à água corrente. Não sabia ao certo o motivo do meu choro: eu ainda não entendia ao certo o que tudo aquilo significava. As perguntas vinham descontroladamente a minha cabeça, sem qualquer resposta.

Por que ele havia me omitido aquilo? Para onde ele iria? Quanto tempo ele ficaria longe? Ele sequer voltaria? E sua família, seus amigos? Seus planos? E eu?

A pergunta que não saía da minha cabeça: "Então era daquele jeito que a gente terminava?"

Saí do banho e segui para meu quarto, ignorando as chamadas de João Vitor em meu celular. Meu namorado, entretanto, não se manifestou uma vez sequer. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem. Dessa vez, ele não apareceria na portaria do meu prédio me pedindo para descer mesmo debaixo de chuva. Seu silêncio era o som mais alto.

Vem Comigo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora