Acho que o primeiro passo é me apresentar, não é?
Meu nome é Samuel. Tenho 25 anos, mas essa história que vou contar começou há mais ou menos três anos, quando eu tinha acabado de completar 22. Não vou me descrever aqui em detalhes porque no final das contas, cada um vai acabar criando a imagem que quiser de mim. O que eu posso dizer é que eu sou um cara relativamente bonito, ou pelo menos foi o que minha avó sempre me falou. Estatura mediana, corpo esguio devido à atividade física ao longo dos últimos anos. Minhas partes favoritas do meu corpo são meus olhos e meu sorriso. Não sou a última bolacha do pacote, mas definitivamente não sou a última opção da boate.
O que mais eu posso dizer de importante? Quando esse romance começou, eu cursava Jornalismo na faculdade, e estava muito satisfeito com o curso que estava fazendo. Mas na verdade, meu grande sonho sempre foi fazer Cinema.
Cinema era meu hobby, minha paixão. Ainda é, na verdade. Viro noites assistindo filmes antigos, gasto quase todo meu dinheiro com entradas para as estreias e já fiz amizade com todos os atendentes dos cinemas perto de casa. Cresci com meu avô me apresentando clássicos que tenho um carinho especial, filmes que corriqueiramente me pego assistindo novamente. Desde Casablanca ao Mágico de Oz. Cresci sabendo que Paris não era somente de Bogart e Bergman; e sonhava que um dia encontraria Dorothy no caminho das pedras amarelas.
Meu avô foi o parente com quem tive a ligação mais próxima dentre meus parentes, e o cinema era nosso elo. Nós passávamos horas na frente da TV, assistindo filmes que muitos nem lembravam existir, enquanto outros criticariam por serem "tão ultrapassados". E depois que ele se foi, meu amor por ele e pelo cinema passou a ser uma aventura de uma pessoa só. Minha companhia para filmes deixou de fazer parte desse mundo, e em vez de chorar sua perda, aprendi a me contentar comigo mesmo para assistir meus filmes, antigos e novos. Nunca tive problema em ir ao cinema sozinho. Preferia até ir estar só nas salas vazias, somente eu e a tela. Assim não haveria qualquer tipo de distração.
A lembrança do meu avô e nosso amor pela sétima arte me fez continuar entrando nesse mundo até decidir que queria mais que ser um mero espectador. Passei a ler mais sobre o assunto e a entrar em contato com nomes e filmes até então desconhecidos pela maioria dos espectadores da grande telona. Então no ano de vestibular decidi que prestaria para Cinema. Queria aprender mais, entender como era possível transportar um mundo inteiro para uma sessão de, muitas vezes, apenas duas horas.
Só que como nem tudo é perfeito: meus pais não me permitiram cursar minha faculdade dos sonhos. Eles alegavam que eu morreria de fome fazendo esse curso, que não daria em nada e que depois eles teriam que pagar para eu fazer outra faculdade e que, no fim, eu seria dependente deles até os 30 anos de idade. Eu poderia dizer que eu sou bom aluno e muito provavelmente teria tido condições de fazer uma faculdade pública. Mas eles simplesmente responderiam que todo o resto depende deles: a gasolina para a faculdade, o dinheiro do almoço, o cursinho pré-vestibular para entrar em qualquer curso que eu pretendesse. Era a regra deles ou nada feito. Então eu tive que burlar o esquema um pouco e fazer um curso que eu conseguisse me aproximar da área. E posso dizer que estava feliz com minha decisão.
Falando nos meus pais, é por causa deles que minha história começa. No dia em que conheci Led, meu dia tinha começado de maneira não lá muito agradável: eu havia saído do armário para meus pais. Eu acreditava estar na hora certa para que eles soubessem o que no fundo eu sempre acreditei já saberem: surpresa, sou gay!
Eu nunca tive problemas com minha sexualidade. Desde novo sabia que meu interesse pelo sexo oposto jamais passaria de amizade e admiração (além de uma inveja profunda e jamais admitida da variedade que o guarda-roupa delas tem. Por que para os homens era tão mais chato se vestir?). E julgava que somente estaria pronto para viver plenamente e me dedicar a um relacionamento sério, como eu sempre quis, quando eu fosse completamente honesto com as pessoas que eu amo. Então eu tinha decidido que eu precisava dividir esse fardo. Ou, como dizem, sair do armário.
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Vem Comigo (Romance Gay)
Romansa"Minha história não é mais uma dessas com final feliz. Até porque minha história não acabou. Ou pelo menos é o que quero acreditar."