Cap. 35 - Tudo estava preto.

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Antes de abrir os olhos, senti que meu corpo não estava em seu estado natural. Era como se um caminhão tivesse passado por cima de mim, e não satisfeito, havia dado ré para me massacrar mais uma vez. Eu sentia dores em partes do meu corpo que eu não sabia que existiam. Dores muito fortes, o bastante para me fazer querer voltar a dormir imediatamente e só acordar quando aquela sensação já tivesse ido embora.

Só que eu não podia. Eu tinha sede, muita sede. E eu precisava tirar aquele gosto metálico horroroso da boca.

Tentei abrir os olhos, mas um deles simplesmente se recusava a se mover. Para emitir qualquer som, uma guerra se iniciava em minha garganta e eu estava perdendo de maneira vergonhosa. Quando uma de minhas pálpebras conseguiu se levantar, notei aquele típico quarto branco e frio que tanto odiava. Eu estava em um hospital.

Perceber aquilo foi tão poderoso quando receber um choque elétrico. De repente tudo me voltou à cabeça: a boate, eu e Edu nos despedindo do grupo, nós dois andando de mãos dadas e aproveitando nosso tempo juntos. Homens aleatórios. Xingamentos, briga. Led.

Eu precisava saber onde estava Led.

Comecei a tentar pronunciar palavras tentando perguntar onde meu namorado estava. Se ele estava bem. Mas as palavras não vinham de jeito nenhum.

Tentei ver se alguém mais estava no quarto que pudesse me informar sobre Eduardo. Eu só queria saber como ele estava. Mas não havia ninguém. Tentei me mexer, achar algum botão que chamasse um enfermeiro, um médico, alguém. Mais uma vez, não havia nada. E o desespero começou a tomar conta de mim. Eu precisava saber sobre Eduardo.

Comecei a me debater na cama, tentando levantar. Tirar aquelas faixas que enrolavam várias partes do meu corpo, apesar da dor excruciante que eu sentia até mesmo para respirar. Quando estava a ponto de sair da cama, coloquei os pés no chão e não suportei meu próprio peso. Fui direto para o chão e então tudo estava preto novamente.

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Da segunda vez, acordar foi um processo bem mais fácil. As dores haviam diminuído consideravelmente e meu corpo já conseguia responder aos movimentos planejados. A iluminação excessiva causava dor de cabeça, mas era apenas uma questão de me acostumar com a luz. E eu sabia que aquilo significava que eu fiquei de olhos fechados por muito tempo. Talvez minhas preces tivessem sido ouvidas.

Daquela vez, ao virar a cabeça para um dos lados do quarto, minha mãe estava sentada, cochilando em uma poltrona encostada no canto. Ela parecia cansada, abatida. Isso me trouxe novamente à cabeça a pergunta: há quanto tempo eu estava desacordado? Mas tinha uma questão mais importante a ser respondida antes de tudo.

- Mãe? – chamei, percebendo então que minha voz ainda não havia voltado completamente ao normal. Assisti a ela acordar de seu semissono e pular desesperada em minha direção.

- Meu filho! Você acordou, graças a Deus! – ela me disse, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas. – Como você está?

- Na pior... Tudo dói. – comentei, brincando. Ou não.

- Eu vou chamar o médico, ele já vai vir para te passar alguma coisa e... – ela dizia enquanto seguia apressada em direção à porta, quando a interrompi.

- Mãe, espera. Cadê o Edu, onde ele está?

- Você não fale no nome desse... ser! – ela me respondeu, mudando automaticamente para o modo enfurecido todo típico da minha mãe. – É culpa dele que você está assim!

- Mãe, me fala onde está o Edu! – pedi, desesperado por informações.

- Eu não quero nem saber...

Vem Comigo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora