Cap. 28 - Era daquele jeito que a gente terminava.

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Eu via Samuel se distanciar do terraço e não consegui impedi-lo. Eu queria gritar para aquele babaca que "Porra! Você é o amor da minha vida! Volta aqui e vamos dar um jeito nisso!". Mas então me vinha à cabeça que talvez fosse melhor daquela maneira.

Tudo o que eu havia dito a ele era verdade: eu não achava que estávamos preparados para viver uma vida de casado. Não ainda, não agora. Isso não significava que eu não queria ficar com ele. Porra! É claro que eu queria ficar com ele. Eu só precisava de tempo.

Eu tinha algo para fazer antes. Eu precisava de foco. Eu tinha uma meta a cumprir e ela era minha prioridade no momento. Mesmo que isso fizesse ele sofrer. Mesmo que isso me custasse ficar longe de um tempo. Se ficássemos juntos agora eu não o faria feliz. E eu não poderia fazer aquilo com ele.

"Mas... seu pai deixou tudo para trás quando conheceu sua mãe.", sua vez veio em minha cabeça como um lampejo.

"E se for mais que um tempo?" – minha mente insistia em perguntar.

Não! A gente daria um jeito. Eu sabia muito bem disso. A segurança que faltava em Samuel sobre nosso relacionamento, eu tinha por nós dois. Eu via aquele jovem homem caminhando em direção oposta a minha e pensava no quão idiota ele era. E no quanto eu o amava. Aquele cara que se achava sempre certo, em todas as situações, e ainda assim não conseguia ter qualquer certeza na vida. Aquele rapaz que se tornava ácido e mentia como mecanismo de defesa.

Sim, ele mentia. Eu não acreditei por um segundo que ele tivesse de fato beijado aquele imbecil que ele chamava de amigo. Não porque o filho da puta não tivesse tentado, eu tenho certeza que ele deve ter forçado uma barra. Mas eu sabia que Samuel não faria isso comigo. Ele fazia isso de mentir quando ficava com raiva só para me atingir, e ele estava com raiva quando me falou desse suposto beijo.

Mas foi só estudá-lo um pouco para saber que ele não falava a verdade. Foi só perguntar novamente e ele nunca conseguiu me olhar nos olhos e confirmar. Talvez alguma coisa tenha acontecido, mas a consciência do meu namorado estava tranquila. E isso tranquilizava a minha.

Passei o restante do dia ali no terraço, pensando se havia tomado a decisão certa. Por um lado, eu amava aquele chorão e queria muito vê-lo feliz. Por outro, não poderia pedir para que ele viesse comigo, já que não seria o cara que ele precisava. Eu não seria o marido que ele tanto queria.

E no fundo, talvez eu nunca fosse. Eu não era perfeito, afinal de contas. Mas eu não permitiria que a gente não desse certo por falta de esforço. Era como meu pai sempre me disse: "se não der certo, que não seja porque você não tentou!".

Mas a ideia de levá-lo junto era... assustadora pra caralho. Ser a única pessoa que ele conheceria, ser responsável por ele até ele se estabilizar... Isso se ele conseguisse se estabilizar bem!

E se ele não conseguisse arranjar um bom emprego? E se ele não fizesse amigos? E se ele sentisse falta de casa?

Se não desse certo, seria tudo minha responsabilidade. Minha culpa.

Não. Eu preferia que as coisas se estabilizassem primeiro comigo lá e ele aqui. Mesmo que isso significasse a gente passar um tempo longe. Depois nós daríamos um jeito. Nós éramos fortes juntos.

Após passar o dia pensando nisso, percebi que havia quase vinte e quatro horas que eu não punha o pé em casa. Saí do terraço e segui para meu apartamento, só me tocando bem depois que o segurança que havia me pego ali com Samuel não havia voltado para me expulsar. Melhor assim. Senão teríamos problemas.

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Ao chegar no apartamento, não me dei nem ao trabalho de trocar de roupa e me joguei direto na cama. Sorri ao lembrar que se Samuel estivesse comigo, ele me obrigaria a me levantar e ir tomar um bom banho antes de dormir, e eu provavelmente o convenceria a entrar na banheira comigo. Mas naquele dia, eu só precisava de cinco minutinhos de olhos fechados.

Vem Comigo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora