Cap. 6 - Estava na hora de voltar para a realidade.

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- ONDE VOCÊ ESTAVA? – minha mãe repetiu a pergunta, enfurecida.

- Estava na casa da Nina, mãe. Eu avisei que tinha o aniversário dela e que eu iria. – O que era parcialmente verdade. Eu de fato havia avisado que iria ao aniversário da Nina. Só que algumas semanas atrás.

Ela então se aproximou de mim, mas assim que chegou perto o suficiente para sentir meu cheiro, parou.

- Você andou bebendo? – perguntou, horrorizada.

- Não, mãe. Eu tô bem. – menti, enquanto fechava a porta da sala. Faria de tudo para evitar mais um desentendimento com ela, o atrito ocorrido conosco já havia sido suficiente para o dia. Talvez até para o ano.

- Quantas vezes eu te pedi para não beber, meu filho? Você não foi criado para ser assim, nunca te faltou nada, eu e seu pai fizemos tudo por você! – naquele exato momento, não soube identificar se essa frase foi dita para criticar meu estado alcoólico ou minha sexualidade.

Novamente, não rebati. Não tinha mais estrutura para ficar discutindo sobre esse (ou qualquer outro) assunto com ela. No momento, eu só queria minha cama.

- Mãe, tá tudo bem. Eu já tô em casa e vou dormir agora, tá?

- Seu pai está na rua atrás de você! Por causa da sua irresponsabilidade, ele está sozinho às quatro da manhã rodando essa cidade te procurando! Como você sai e não avisa nada? – brigou dona Márcia, fazendo um grande drama como de costume. Se eu não saísse de lá correndo, continuaria a ouvir reclamações dela até o sol raiar.

- Liga pra ele e avisa que eu já cheguei, ok? Eu vou para a cama agora. – apesar da sensação de culpa por fazê-lo sair àquela hora da madrugada, meu cansaço com relação a toda aquela situação me venceu. Eu só precisava dos meus travesseiros e do meu cobertor naquele momento.

Saí em direção ao meu quarto, passando pelos quadros com fotografias penduradas na parede do corredor. Analisei as fotos antigas da família reunida e não pude deixar de soltar um riso irônico: toda aquela felicidade representada pelos sorrisos expostos nunca pareceram mais distantes.

Ao entrar em meu quarto, tirei toda a roupa, ficando apenas em minhas roupas íntimas. Liguei o ar condicionado na máxima potência, sem me preocupar com as reclamações sobre a conta de luz. Não naquele dia. Deitei em minha cama de casal, que nunca pareceu tão vazia, e encarei o pôster de Janet Leigh interpretando o famoso grito na cena de Psicose.

Encarar aquele pôster me fez ter vontade de gritar, gritar tão alto até minha voz falhar. E assim o fiz: mordi um de meus travesseiros e gritei durante vários segundos, com minha voz abafada pela almofada, até não conseguir mais emitir qualquer som.

Após essa terapia de choque, tive uma noite de sono sem sonhos.

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Acordei com o som da batida intensa na porta em frente ao meu quarto. Sentia uma leve dor de cabeça e aqueles murros contra a madeira não colaboravam em nada. O horário e o clima permaneciam um mistério para mim; o isolamento do meu quarto a qualquer estímulo externo se mantinha desde a noite anterior, de forma que não tinha a menor noção se era dia ou noite, se fazia sol ou chovia. No momento, somente conseguia ouvir o som da mão contra a porta, me impedindo de continuar a dormir.

- Que foi? – gritei, ainda deitado, com voz de poucos amigos.

- Maria Isabel está no telefone querendo falar com você! Precisou ligar para o telefone daqui de casa já que o senhor não atende o celular! – resmungou dona Márcia, do lado de fora. O real motivo para o mau humor de minha mãe era outro.

Vem Comigo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora