Cap. 26 - Do que você tem medo?

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Indo... embora?

Eduardo iria embora do país?

Meu corpo se encontrava paralisado, mas minha mente não parou por um único segundo. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali parado; poderiam ter sido segundos ou horas. Apesar de perceber que os dois continuavam conversando, as palavras eram apenas sons que não faziam mais qualquer sentido. Nada para mim fazia sentido.

Os sons vindos da cozinha se aproximaram, me indicando que eles poderiam sair da cozinha a qualquer momento. Não estava pronto para enfrentar Led. Confrontá-lo provavelmente só me faria quebrar ao meio. Eu precisava sair dali o mais rápido possível. Fiz a primeira coisa que me veio à cabeça e silenciosamente peguei as chaves do meu carro e segui em direção à porta. Abri e fechei-a, tentando fazer o mais absoluto silêncio.

Ao alcançar o elevador, uma súbita dor de cabeça tomou conta de mim. Minha mente gritava e exigia qualquer reação do meu corpo, que parecia se mover apenas por inércia. Não era possível, eu devia ter entendido alguma coisa errada. Após mais de um ano com Led, depois de tanto companheirismo e cumplicidade, eu me recusava a acreditar que ele iria embora assim, sem ao menos ter a coragem de abrir o jogo comigo.

Não, eu estava enganado. Ele não iria embora. Ele provavelmente só passaria um tempo longe e estava com medo da minha reação. Era só isso. Até parecia que ele não conhecia seu namorado. Pelo motivo que fosse, eu entenderia. Nós éramos fortes juntos, um mês ou dois separados não nos afetaria em nada.

Quer dizer, nós já havíamos passado por coisas piores. O meu estágio na emissora, que limitou meu tempo com ele, os ciúmes que ele tinha de João, seu encontro com a ex-namorada que ainda mexia com seus sentimentos. Nós éramos fortes juntos e resistimos a tudo aquilo. Não seria um tempinho sem nos ver que mudaria isso. 

Não era como se nós não fôssemos nos falar durante aquele tempo. Eu sentiria sua falta,  claro, mas antes de perceber ele estaria de volta e tudo voltaria ao normal. Isso seria fácil fácil.

Mas então por que aquela dor de cabeça não passava?

Eu sabia a resposta e tinha medo de enfrentá-la. Led e eu poderíamos estar com nossos dias contados.Meu namorado poderia estar indo embora para sempre e não havia me contado. Pensar nessa possibilidade só me fazer criar mais perguntas em minha cabeça. E duvidar ainda mais do que tínhamos.

A dor de cabeça não me deu alívio enquanto eu dirigia, e minha visão embaçada não ajudava na condução. Quando notei, as lágrimas caíam em tamanha intensidade que chegavam a molhar minha camisa. Estranhei aquelas lágrimas, já que não sentia a menor vontade de chorar de verdade. 

Afinal, tudo daria certo, não?

Continuei dirigindo e um pensamento completamente aleatório veio à minha cabeça: eu não tinha a menor condição de ir a qualquer encontro de turma depois daquela notícia.

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Dirigi sem realmente me dar conta para onde seguia, mas não achei estranho ao me encontrar na garagem do meu prédio. Antes de sair do carro, passei mais alguns minutos tentando impedir aquelas lágrimas de caírem. Eu realmente não entendia de onde elas viam, elas eram involuntárias, tal como se eu tivesse de fato perdido alguém muito importante.

Me recompus e fiz de tudo para aparentar que nada tivesse acontecido ao entrar em casa. Teria que inventar uma boa desculpa para meus pais que explicasse meu rosto inchado e o fato de eu nunca ter de fato comparecido à festa. Apesar dos últimos acontecimentos que os envolviam (como o evento no qual eles foram apresentados bruscamente a Led) nosso relacionamento não estava tão ruim quanto poderia, e preferi manter dessa maneira, sem envolver meus problemas com Led nisso.

Vem Comigo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora