Terceira Parte (IV)

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Eu sentia-me melhor conforme os dias iam passando. A culpa deixou de me corroer, e a tristeza foi deixando meu coração. Jenny também apresentava melhoras. Não tanto quanto eu, mas ainda assim eram melhoras. Não vi mais padre Martin ou Harold nesses dias. Optei por ficar em casa, saindo apenas para visitar Jenny e ir até o cemitério, que ficava há algumas centenas de metros do meu quintal. Ia lá para ficar de frente para o túmulo de Bob; ele só tinha treze anos quando foi atropelado pelo trem. Uma criança.

Não sei se me fazia bem ir ali. Apesar de ficar triste, no fim das contas acho que me fez bem. Nos dois primeiros dias eu conversava com ele, como se ainda estivesse vivo. Devia parecer um louco conversando com uma lápide. No terceiro dia eu já não falava com ele. Não tinha vontade, e me achava maluco demais. No quarto dia me perguntei se estava fazendo certo em ficar indo ali, atormentando o pobre menino morto. No quinto dia me senti idiota e deprimido, e então não houve um sexto dia.

Na noite do sétimo dia desde que Bob tinha sido enterrado, levantei-me para ir cagar na latrina. Algumas vezes tinha medo de ir lá, pois era escuro, e outras sentia frio. Contudo, nesse dia apenas bocejei. Havia um penico ao lado da minha cama, para se caso necessitasse mijar, contudo, tinha comido qualquer coisa estragada, e tive que ir fazer algo um pouco mais sólido, e obviamente não tinha como usar o penico para isso.

Quando estava voltando da latrina, que era uma minúscula casa de madeira perto do estábulo, surpreendi-me com um vulto branco no último degrau do alpendre. O vulto era oriundo de uma camisola, percebi. Matilda? Suzanne? Não, nenhuma das duas, constatei assim que me aproximei mais. Era Abigail Hayes. A amiga de Matilda frequentemente dormia em casa, no quarto das meninas, mas nunca a tinha encontrado ali, na madrugada escura. A lua estava crescente, e as estrelas cintilantes, de modo que tinha uma boa visão.

- Dor de barriga? – indaguei assim que me aproximei.

Ela desceu o último degrau para o chão de terra, e se aproximou um pouco de mim. Notei descontente que a camisola não tinha decote, mesmo assim via o volume de suas tetas.

- Não – ela disse economicamente.

Fiquei olhando para seu belo rosto. Os cabelos negros estavam soltos, ondulados e adejando levemente com o vento. A boca jovem estava entreaberta, e senti uma absurda vontade de beijá-la, mesmo tendo raiva dela por ser amiga de Matilda e por ter rido de mim quando meu pai puxou-me a orelha.

- Tudo bem, então boa noite – apesar de querer beijá-la, e de desejar lhe apalpar os seios, não tinha nada mais a dizer.

- Espere – ela pediu quando coloquei o pé no primeiro dos três degraus que levava ao alpendre, e depois a porta de entrada da casa. Tirei o pé com sandália do degrau e pus novamente no chão. Encarei Abigail. Estávamos um pouco mais próximos agora.

Uma coruja piou.

- Escutei a porta do seu quarto abrindo – ela confessou, passando os cabelos que voavam atrás da orelha.

- Tive uma dor de barriga – justifiquei, levemente interessado. O que ela queria? Será que estava ali a mando de Matilda? Será que minha odiosa irmã estava armando algo e intencionava usar Abigail?

- Sinto muito pelo seu amigo – ela arriscou dizer.

- Obrigado.

- Matilda me contou que você fez a ela – Abigail falou um pouco mais à vontade.

- O que fiz a ela?

- Você fez seu pai esbofeteá-la no rosto – seu tom foi um pouco sério.

- Problema é dela – falei com raiva. O que aquela vadia queria comigo? Passar-me um sermão?

- Eu sei que ela te provoca... Mas você a viu fazer o que fez?

- Claro, vi Matilda com a cara no pau de Augustus – declarei com um pouco de impaciência. – Ela não te contou?

- É óbvio que contou, mas queria saber se você tinha mesmo visto.

Eu usava um pijama de um tecido de algodão grosso e mal feito. Olhei novamente para os peitos dela. Acho que ela percebeu, pois empertigou-se.

- Alguém já fez isso em você? – ela perguntou diretamente. Senti meu peito sacolejar. De repente senti medo, e por mais que a desejasse, senti medo. Que idiota.

- Fez o quê?

- Chupou seu pinto. – ela respondeu simplesmente, e deu um passo na minha direção. Engoli seco. – Alguém já chupou seu pau?

Gaguejei e ela riu divertidamente.

- Você já chupou algum pau? – apostava que sim, porém fiz a pergunta para me livrar daquilo.

- Já sim, vários! – Abigail provocou, e chegou um pouco mais perto. Pude sentir seu cheiro de lavanda, e senti uma súbita vontade de pular sobre ela, e lhe erguer a saia...

- Alguém já pegou no seu pinto? Alguma mulher já encostou nele? – agora ela ria, pois devia ver meu nervosismo. Ela atirou a mão para frente, até quase tocar na minha calça. Ficou com a mão ali, e eu naquele dilema, querendo beijá-la e fazer com que fizesse comigo o que Matilda fizera em Augustus. Mas tinha medo de algo, pavor do desconhecido.

- Já sim – menti. – Várias.

- Putas, certamente – ela recolheu a mão sem me tocar, e por um momento desejei do fundo do meu peito que ela tivesse me tocado. – Ou aquela sua amiguinha sonsa... A loirinha tonta.

Quando ela falou de Jenny, senti mais confiança. Não sei por que, apenas me senti confiante, e dei um passo na direção dela. Agora podia sentir seu hálito quente. Nessa época eu ainda era baixo, portanto da altura de Abigail. Ela prendeu a respiração, e senti que perdera toda aquela confiança e ar provocativo.

- Você quer ser mais uma? – inquiri com a voz baixa. Não sei o que me deu. Simplesmente havia me decidido de que a desejava, e também pensei em Harold. Impossível dizer como aquele velho barbudo horroroso entrou nos meus miolos com Abigail tão perto de mim, mas entrou. E com isso me questionei o que ele acharia do meu medo, e por Deus!, o que Boca falaria se me visse tremer na frente de uma bela garota como aquela? Boca me parecia ser do tipo que atiraria em um homem apenas para trepar com Abigail.

Ela ficou quieta, e olhou para meus lábios, e eu quis que me beijasse, porém ainda tinha algum receio. Ela era amiga de Matilda, e se tudo aquilo não fosse apenas um plano dela? E se já que agora não tinha como me provocar na frente de meu pai, ela estivesse esboçando algo para me humilhar?

Então Abigail recuou, subiu dois degraus e lançou-me um sorriso provocativo. Olhei de novo para suas tetas, e ela, ao notar, soltou uma risadinha e entrou em casa, me deixando ali, com um volume se projetando na calça do pijama.

***

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