Sexta Parte (III)

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O primeiro trabalho com Eustace Bource se deu menos de duas semanas depois. Coincidentemente se tratava de um trabalho naquela merda de cidade chamada Deadbull. A coisa toda se deu apenas porque Eustace descobrira, através do xerife Matthew, que um fora da lei chamado William McAndrew fora visto em Deadbull, desfrutando dos ganhos de seus roubos em bancos. Nós mesmos nunca roubamos banco algum, porque segundo Harold, era muito perigoso e chamava muita atenção; apesar dos enormes lucros. Segundo se dizia, William não era o líder do bando, por isso a recompensa pela sua captura, vivo ou morto, era de quinhentos dólares. Todos nós ficamos animados quando soubemos que Eustace planejava capturá-lo. O xerife confidenciou-lhe que o homem estava em Deadbull porque ninguém tinha coragem de confrontá-lo, nem mesmo as débeis autoridades daquela região miserável em que vivíamos. Matthew falou que seria de grande ajuda se nós capturássemos o homem e o trouxéssemos para ele. Além do mais, ganharíamos quinhentos dólares.

Nós concordamos. Johnse apenas questionou se o trabalho era honesto, já que ele sentia-se um traidor por capturar um dos nossos, para usar suas palavras. Eustace argumentou que estava pouco se fodendo para essas merdas; ele queria o dinheiro. Eu concordava com ele. Por isso pegamos o anuncio de captura, que continha o retrato de William (um homem barbudo e aparentemente corpulento) e partimos, contentes com a perspectiva de dinheiro.

Era a segunda vez que voltava para Deadbull desde que matara um homem lá. A primeira fora há cerca de dois anos. Fiquei curioso, peguei meu cavalo, e encarei a viagem cansativa até o local, apenas para ver como estava. Para ver se o saloon do velho mexicano continuava funcionando. Continuava, para meu deleite. Adoro saloons. Depois de alguns uísques, admirando e relembrando a primeira vez em que estive ali, acabei reparando em uma puta. Questionei-me se não era aquela a dama que descobrira o cadáver do velho e que fizera todo aquele alarde. Como estava em dúvida, perguntei para o jovem – talvez filho do velho que matei, vai saber? – se aquela era a puta que descobrira o corpo do morto, há cinco anos. Ele dissera que não, que na verdade era a outra, e apontou para uma mulher bonita, morena, com um espartilho apertado, fazendo saltar as tetas. Tomado pela loucura, fui até ela e contratei seus serviços. Não sei por que fiz isso. Na hora senti uma necessidade de fazê-lo. Era como saudar meu velho eu; que entrara lá e fizera aquela mulher gritar, anos atrás. Enquanto a comia, apenas pensava que ela estava trepando com o homem que matara seu antigo patrão, e talvez amante. Foi uma coisa tão interessante e doentia, que fiquei satisfeito quando fui embora.

E lá estava eu uma vez mais naquela porcaria de lugar. Deixamos nossos cavalos para fora. Bill ficaria ali para cuidar de nossa fuga, avisar se alguém entrasse ali, e dar os primeiros tiros nos invasores, caso necessário. O resto de nós simplesmente entraria lá e mataria o desgraçado. Simples assim. Eustace não se preocupou muito com planos para esse primeiro trabalho, o que me deixou um pouco apreensivo, admito.

- E se algo der errado? – indagou Johnse quando Eustace nos contou como agiríamos.

- Então mataremos todos que entrarem em nosso caminho. – O outro retrucou peremptoriamente.

- E se o homem não estiver lá? – perguntei e depois virei meu copo de uísque. Estávamos no Saloon G. Após todos aqueles anos, a bebida me descia com muito mais facilidade garganta abaixo.

- Então voltamos para casa.

Era um plano simples, tolo, e, de alguma forma, funcional.

Não estava nervoso quando erguemos nossos lenços do lado de fora do saloon, estava apenas ansioso. Ninguém recebera a tarefa de atirar pessoalmente no safado, a ordem era para que o sujeito fosse morto. Queria que fosse eu a acertá-lo. Pode parecer estranho, mas acho que gostava de matar esses homens. Gostava do poder e da atenção que isso gerava.

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