Quarta Parte (III)

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Nos dias que se seguiram, creio que uma leve mudança se deu em mim.

A morte de meu pai deixou-me mais frio com o mundo. Não me preocupava tanto com as coisas pequenas, já que as grandes tragédias podiam cair sobre nós. Bob havia sido destroçado por um trem, e meu pai tinha morrido tão tolamente, que qualquer certeza que podia ter na vida, se esvaiu. Tudo podia acontecer a qualquer momento. A vida era frágil. E essa constatação ao invés de me tornar mais cauteloso, me tornou menos cauteloso. Era como se quisesse fazer qualquer coisa que me desse vontade, pois a vida era frágil e não poderia morrer sem fazer o que desejava.

O beijo que Abigail me deu fez-me perder grande parte do medo que tinha por mulheres. Seu beijo despertou todo o libido em mim. Sendo assim, decidi que naquela noite me deitaria com uma puta da espelunca do Steve.

Não queria exatamente uma prostituta, queria Abigail, porém eu não a via desde o dia do beijo. Ela não fora dormir em casa em nenhuma ocasião, e isso já havia me deixado ansioso e depois me senti deprimido. Por isso resolvi que acabaria logo com aquilo e me deitaria com uma puta qualquer.

Teria consumado o fato naquela noite, se não fosse minha mãe.

Ela chamou seus três filhos para almoçar, e assim que todos terminaram ela começou a falar.

Minha mãe não era firme como meu pai, e estava tendo certas dificuldades para ser a líder daquela família.

- Queridas crianças – ela começou, sentada na cabeceira da mesa, onde antes era o lugar do meu pai. – Como vocês sabem, seu tio Herbert veio aqui no enterro do pai de vocês. – Todos nós nos remexemos diante a menção da morte de meu pai. Era sempre assim. – E como sabem, ele é banqueiro.

- Ele é banqueiro? – questionou Matilda.

- Na verdade ele é comerciante, como nós, porém é dado a fazer investimentos – Deborah Butler pareceu incomodada. – Mas é um bom comerciante, e ao que parece, um bom investidor.

- Ao que parece? – minha irmã mais velha perguntou. Matilda estava sentada na cadeira ao lado daquela à esquerda de minha mãe. Diretamente à frente de Suzanne, que por sua vez estava ao meu lado. Desde a morte de meu pai, Matilda havia abandonado as disputas comigo pela cadeira da direita da cabeceira da mesa. Ela agora sentava-se em cadeiras aleatórias, chegando até um dia a sentar-se ao meu lado.

O dia estava ensolarado, e estava quente na sala onde fazíamos as refeições. Atrás da cadeira onde minha mãe se sentava, tinha um armário de madeira, onde se guardava copos, talhares, pratos e toalhas de mesa.

- Ao que parece sim, Matilda. Seu tio é um homem de posses. Sabe fazer negócios. –Acho que minha mãe quis parecer autoritária, no entanto conseguiu apenas aparentar aflição. – Ganha dinheiro honestamente – acrescentou para que ficasse claro que qualquer fortuna que meu tio tivesse, não era proveniente de roubos e morticínios. Nós três, os filhos, nos remexemos outra vez.

- Então tio Herbert é rico? – inquiriu Suzanne, com seu tom ameno.

- Creio que sim, filha. Aliás, ele disse que sim.

- E o que isso tem a ver conosco? – contrapôs Matilda, já sem muita paciência.

- Crianças – minha mãe aparentava angústia. – Seu tio, muito gentilmente, veio ao enterro do pai de vocês, e me ofereceu uma ajuda.

- Que ajuda? – quis eu saber, já que me recordava daquela conversa chata sobre duplicação e triplicação nos ganhos que o tio Herbert teve com minha mãe no dia do funeral do velho Eldred.

Um Caminho Para o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora