Segunda Parte (VI)

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Nos dias que se passaram, Ela e eu não nos falamos, não trocamos olhares. Era como se um não existisse para o outro. Ninguém lá de casa estranhou esse tratamento, já que não era segredo nossa raiva mútua.

Vi Jenny algumas vezes. Nenhuma sozinho. Todas elas juntamente com Bob. Obviamente não falávamos nada a respeito de um gostar do outro naquele trio de amigos, e as coisas continuaram como eram. A verdade era que a cada dia que passava, mais eu gostava dela, e também voltei a sentir aquele pequeno ciúme de Bob. Toda vez que Bob a tocava, ou Jenny ria de algo que ele dizia, eu sentia aquele incomodo já característico. Tentava esquecer, e ficava dizendo para mim mesmo que ela não gostava de Bob. Que ela gostava de mim. Isso me confortava um pouco. Pelo menos até o próximo contato deles.

Um dia antes do prazo de Matilda acabar, resolvi ir até o Saloon G. Queria ir lá pelo mesmo motivo de sempre, que era o de apenas me encontrar em um lugar repleto de homens barbudos, cartas, bebidas e prostitutas. Eu gostava daquela espelunca.

A última vez que tinha botado meus pés lá, tinha sido na fatídica vez em que meu pai me arrastara para fora pela orelha.

Antes de adentrar no saloon, olhei bem para os lados, a fim de averiguar se Matilda estava me olhando. Mas para ser sincero eu já não me importava tanto assim. Embora preferisse fazer aquele passeio anonimamente, não sentia mais medo do velho Eldred. Ainda tinha aquela parte de mim que queria simplesmente desagradá-lo, chocá-lo, fazer o contrário do que ele dizia apenas para afrontá-lo e ele finalmente me ver como um homem, e não como um menino ao qual se humilha beliscando-o pela orelha como forma de castigo.

Sendo assim, entrei – desta vez sozinho, sem Bob - no Saloon G quando o sol se despedia. Alguns raios laranjas de sol perfuravam as janelas de vidro, e o salão estava recortado por raios de sol. O lugar estava cheio e barulhento, como sempre. Quase todas as mesas dispostas no salão estavam ocupadas. Homens bebiam, gritavam e xingavam, tudo conforme os jogos de cartas nas mesas. Três putas andavam de um lado para o outro, usando vestidos com decotes provocativos. Imediatamente lembrei-me de Matilda com os seios de fora sem nem ao menos reparar. No instante seguinte a imaginei ali, tentando conseguir alguns clientes. Ri discretamente da ideia.

Senti uma súbita vontade de pedir algo para beber. Uma cerveja, talvez, já que uísque ainda era forte para mim. Porém estava sem muito dinheiro, e preferia usar o pouco que tinha para jogar pôquer.

Eu usava uma camisa suja com as mangas dobradas até os cotovelos. Todos ali estavam sujos e parecidos comigo. O salão tresandava a suor e bebida. Comecei a procurar uma mesa onde estivessem jogando pôquer. Praticamente todas estavam, e foi então que ouvi alguém chamando meu nome. Procurei e rapidamente vi Harold sentado em uma mesa com mais três pessoas. Uma delas Augustus, para minha surpresa.

- Venha moleque, sente-se conosco! – chamou-me Harold fazendo um sinal com a mão.

Harold estava sentado em uma mesa redonda, de frente para mim. A mesa ficava no centro do salão, cercada por outras. Augustus virou-se na cadeira, pois estava de frente para Harold, portanto de costas para mim. Quando me viu, fez uma careta de desgosto e voltou a olhar para frente. Aposto que quis ir embora, mas se fosse, isso implicaria em muitas perguntas.

- Sente-se – falou Harold, chutando uma cadeira para que eu me sentasse.

Fiz como ele disse; feliz por tê-lo encontrado. Não o via desde o dia do cigarro.

Minha cadeira era ao lado esquerdo da de Harold, e ao lado direito da de Augustus. Havia mais dois homens na mesa. Um eu reconheci como sendo aquele velho do bando de Harold, que me perguntou se eu já havia me deitado com uma mulher. O outro era mais jovem, menos de trinta anos.

Um Caminho Para o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora