Um Caminho Para o Inferno

Nona Parte (III)

O trabalho era bom, melhor do que meu antigo, como supervisor na segurança do sogro de Vival. Trabalhar na fazenda de Arnold Murphy era tão fácil quanto na fazenda dos Ewell, e ganhava-se mais. Passava dias indolentes com Harold, vistoriando aquela fazenda imensa; todos os dias no lombo de um cavalo, com meu revólver na cintura e um chapéu na cabeça. Só não gostava quando tínhamos que fazer rondas noturnas. Já estava velho, e não era mais acostumado a passar noites em claro. Harold sempre ficava azedo nessas situações, e quando conseguia, dormia um pouco sobre o cavalo. Nos meses que se passaram, não aconteceu nada que me fizesse tirar o revólver do coldre. Por duas vezes acompanhamos o senhor Arnold em suas viagens de negócios. Na segunda vez fiquei responsável por um baú com moedas de ouro.

O senhor Arnold era um homem legal. Me parecia bastante bruto, apesar disso. Acabei coletando algumas histórias com os outros empregados, e acabei descobrindo que o velho rico era bastante cruel. Contaram-me que ele já havia até mesmo queimado um inimigo vivo. Ninguém sabia ao certo o que o sujeito fez para merecer tal morte. Uns diziam que o homem trepou com a senhora Murphy, outros diziam que tinha se aproveitado da jovem filha dele, sem saber quem era; e ainda outros alegavam que nada disso era verdade, mas que o infeliz havia sim roubado umas joias do senhor Murphy. Isso me deixou com dúvidas a respeito do futuro roubo, mas por fim disse para mim mesmo que eu não era idiota como o tal sujeito que se deixou queimar. Harold apenas cuspiu de lado quando lhe contei a história.

Acabei também descobrindo que conseguiria apenas roubar joias mesmo do velho Murphy. Corria o boato de que havia algumas caixas de joia nas coisas de sua esposa, e ela era uma mulher que gostava de caprichos. Também se dizia que existiam algumas moedas de ouro por ali. Vi um cofre na sala de estar do velho, atrás de um quadro. Fiquei bastante tentado a roubá-lo como havia roubado os McBride, mas como esse crime não havia terminado bem, resolvi apenas roubar as joias e as moedas. Harold concordou.

Portanto passamos três meses trabalhando indolentemente na fazenda, entendendo a rotina, e principalmente descobrindo onde o tesouro se encontrava. Quem acabou sabendo disso foi Harold. Ele era muito bom com tagarelas, e em umas duas conversas mais animadas com outros funcionários mais antigos, descobriu o que queríamos saber.

Ao todo dezoito homens armados trabalhavam lá. Cris, amigo de Harold era o líder. Ele era um homem sério, e talvez tivéssemos que o assassinar. Ao termino do terceiro mês de trabalho, eu e Harold já tínhamos uma boa parte do plano pronta, e agora eu estava liberado para encontrar os nossos companheiros.

Levei três semanas para conseguir encontrar quem eu procurava, porque eu não iria até Green Rock atrás dele. Tive que esperar que viesse ver sua puta em Clearfield. Foi necessário ir mais de quatro vezes para achar Boca no saloon.

Não posso mentir que quando o vi, meu coração se apertou e minha boca secou. Não sabia exatamente o que sentir. Ele estava lá, sentado em uma mesa, sozinho. Provavelmente esperava por sua mulher. Boca bebia de um copo de uísque. Ele havia envelhecido, claro, mas não tanto quanto eu ou Harold. Seu cabelo tinha ficado mais branco, porém ele não estava nem perto de ser careca. Sua barba também embranqueceu, no entanto ainda continuava volumosa e desgrenhada. Sua barriga ainda era protuberante, e de certo modo, Boca ainda era aquela figura temível do passado. Ele usava um casaco de couro, e o chapéu estava sobre uma cadeira ao seu lado. Ele parecia feliz e distraído.

O saloon de Clearfield era um pouco apertado, com apenas um piso, um teto baixo e sem nenhuma música. Quem servia as bebidas em um balcão rústico de madeira crua sem tratamento era um homem obeso e de cabelos cumpridos soltos. O lugar não estava tão cheio, contudo os presentes eram desinteressados e praticamente não notaram minha chegada.