Quinta Parte (III)

39 7 1
                                    

Para meu completo alívio, Hans suportou a terrível marcha. Eu parecia pior do que ele.

Depois de deixar o animal no estábulo, fui para casa, e apenas minha mãe estava acordada. Ela lavava os pratos do jantar.

Sorriu para mim, um pouco assustada com minha súbita e abatida presença. Notei que ela estava chorando. Senti um aperto no peito.

Não havia muitos lampiões acesos, de forma que a casa estava escura.

- O que aconteceu, meu filho? – ela chegou à sala perguntando aflita, secando as mãos em seu avental encardido, e depois secando as lágrimas nos olhos. Chorava pelo meu pai, ou pela falta de dinheiro? Provavelmente pelos dois.

Pela sua expressão, eu devia estar parecendo um morto que se levanta da terra.

- Nada mãe. Estou cansado, só isso. – E estava mesmo. Queria apenas me jogar na cama e dormir.

- Quer comer?

- Não estou com fome. – Tinha comido um pedaço de pão, e estava tão cansado que não tinha fome de qualquer maneira.

Enfiei a mão no bolso e tirei cinquenta dólares que tinha deixado separado, me restando apenas seis.

- Tome – estiquei a mão suja para ela. Sentia vontade de me lavar. Bocejei.

- O que é isso? – ela perguntou em dúvida, mas acho que já sabia a resposta, porque seus olhos voltaram a se encher de lágrimas. Coitada.

- Ganhei esse dinheiro – falei com certo orgulho. Não era minha intenção feri-la, mesmo assim não podia esconder a fonte do dinheiro. Não tinha como inventar nada para justificar aquela quantia. Eu poderia inventar que ganhei em uma boa mesa de pôquer. Ela talvez acreditasse. Minha mãe era uma criatura sonsa, e acreditava no que queria acreditar, suponho. Mesmo inventando essa história, ela ainda me repreenderia. E por outro lado, não tinha vergonha nenhuma de dizer de onde o dinheiro tinha vindo. Pelo contrário, sentia um estúpido orgulho.

- Como ganhou? – ela segurava o dinheiro, ainda não ousando guardá-lo.

- Estou trabalhando com Harold. Ele é um fora da lei. – declarei diretamente. Nunca fui dado a rodeios. – Matei um homem.

Deborah Butler pareceu sofrer um golpe físico, e fez uma careta horrível de desgosto. Ver essa breve cena partiu um pouco meu coração, e quase me arrependi. Quase.

- Você é igual a ele – detectei amargura em sua voz.

- Igual a Harold?

- Igual ao seu pai. Seguirá o mesmo caminho – senti uma pontada de orgulho, e tive que segurar um sorriso.

A expressão de minha mãe se endureceu de repente. Ela se empertigou, secou as lágrimas e guardou o dinheiro.

- Apenas não morra antes de mim – ela pediu sombriamente, e a despeito de meu cansaço ou orgulho, estremeci. Imediatamente fiz o sinal da cruz, para afastar o mau agouro.

Minha mãe não deu atenção e virou-se com a expressão vazia.

Quis dizer alguma coisa para fazê-la sentir-se melhor, mas no fim não disse nada, e ela já estava na cozinha novamente, lavando o resto dos pratos.

Fui para meu quarto, tirei as botas, a casaca e o cinto com o coldre, e me atirei na cama, dormindo menos de um minuto depois.

Acordei com alguém entrando em meu quarto.

Meu primeiro pensamento apavorado foi em delegados de Deadbull. Sentei rapidamente, soltando um grunhido. Lembrei-me da arma de meu pai, e comecei a procurar por ela em desespero. Ainda era noite, e o quarto estava escuro.

Um Caminho Para o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora