Sexta Parte (IV)

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Nosso pagamento foi dado uma semana depois, no Saloon G. Era começo da noite, e depois que Eustace pagou uma rodada de bebida para todos nós, fomos jogar pôquer.

Recebi cem dólares pelo trabalho. Eustace dividiu tudo por igual, porque segundo ele, todos fizemos o trabalho igual, e sem um, o outro não sobreviveria. Concordei com ele, e admirei sua atitude nobre. Harold nunca fizera isso.

Não tinha do que reclamar. Já me considerava um homem rico, e cem dólares a mais, ou a menos, não fazia diferença na minha vida imediata. Estava apenas guardando dinheiro, como meu pai. Queria ter minha pequena fortuna.

Estávamos todos tão alegres com o dinheiro e a volta a atividade, que nem ao menos nos lembramos de Harold. Seu nome só foi citado alguns minutos depois, quando Eustace distribuía as cartas.

- O que será que Harold acharia do nosso trabalho? – perguntou ele a ninguém em especial.

- Ficaria furioso, certamente – assegurou Boca, olhando suas cartas. Ele sentava-se ao meu lado esquerdo. Eustace estava a minha direita, o mesmo lugar que Harold costumava ocupar. Os irmãos Whitaker preferiram ficar bebendo no balcão, de forma que apenas nós três jogávamos.

- Furioso? – indagou Eustace, abrindo uma carta na mesa.

- Sim, furioso. Pense bem, ele não gostaria de saber que tivemos sucesso. Acho que deseja nossa morte. – Boca retrucou. – Pelo menos deseja sua morte.

Eu ri.

- Certamente deseja sua morte. – Falei.

Eustace não pareceu gostar muito dessa verdade, mas depois deu de ombros.

- Onde será que ele está? – perguntou depois de abrir a terceira carta. Meu jogo estava uma porcaria. Desisti e deixei que seguissem apenas os dois.

- Isso só Deus sabe – disse Boca com ar sério. Deduzo que assim como eu, Boca também ficara entristecido com a partida de Harold.

Ficamos em silencio até aquela rodada terminar. Boca ganhou.

- Pensei em uma coisa – declarou Eustace.

- O quê? – quis saber Boca, analisando suas novas cartas.

- Estou pensando em roubarmos uma caixa de joias de uma velha, em Newhill – Eustace Bource falou.

- Dará dinheiro? – perguntei.

- Não tanto, acredito, mas o suficiente para nos deixar alegres.

- Não dará muito dinheiro? Então por que nos arriscaremos a sermos reconhecidos tão perto de casa? – Boca inquiriu.

A espelunca estava começando a encher. O piano começou a tocar uma música alegre, e senti-me mais confortável.

- Vocês sabem que Rob, o novo pianista é irmão de Steve, não sabem? – Contei.

- Sim. Veio lá de Dallas depois que a mulher morreu – explicou Eustace. Rob era uma massa de gordura sentada no banquinho em frente ao piano. – Steve o ajuda agora.

- Foda-se a porra do pianista! Quero saber por que iremos até lá roubar uma velha se não dará dinheiro? – Boca rosnou, no entanto não tirou os olhos das cartas que se abriam na mesa. – Somos em cinco. Muita gente para dividir o dinheiro.

- Exato. Por essa razão pensei em irmos apenas nós três – Eustace sugeriu, com os olhos nas próprias cartas.

- Somos um grupo – argumentei.

Um Caminho Para o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora