Não posso dizer que estava feliz quando abotoei a camisa e vesti o casaco. Tinha trepado com Abigail pela última vez na vida, e ouso dizer que foi a melhor. A pobre mulher achava que eu sumiria com ela, por isso deu tudo de si na cama. Como ela podia acreditar que eu fugiria? Era tão estúpida assim?
Naquela mesma tarde enviei um recado a ela, pedindo que me encontrasse no saloon, como sempre. Entretanto, acrescentei que era para ela se preparar para não voltar mais. Tentei manter minha consciência limpa, e dizia a mim mesmo que não a havia enganado, afinal, eu dissera que ela não voltaria mais. Ela entendeu o que quis entender.
Fiquei ainda mais deprimido quando ela terminou de colocar sua roupa (meia calça por causa do frio, saia, blusa e casaco), e vi que ela pegou uma mala. Isso me partiu o coração. E para piorar ela ainda sorriu e beijou-me, feliz. Como eu pude fazer uma coisa daquelas? Naquela noite eu pensava um pouco nisso, mas logo deixava de me importar. Jovem daquele jeito, eu era inconsequente, e deixava de me importar rápido. Quer dizer, até hoje sou assim. Não gosto de pensar muito em coisas que me dão dor de cabeça. E ficar pensando se o que fazia era certo ou errado só dificultava tudo.
- Aqui – disse eu entregando-lhe um pedaço de papel, uma pena e um pequeno tinteiro portátil que trouxe de casa. – Escreva uma carta dizendo que está indo embora.
- Por que faria isso? – seu semblante demonstrou preocupação.
- Porque temos que dar a entender que não morremos ou fomos raptados. Temos que dar a entender que fomos embora conscientemente. – Expliquei o melhor que pude.
- Você também irá escrever uma carta? – ela já estava menos suspeita.
- Já escrevi. Está na minha cama. A essa altura Jenny já leu – pedi a Deus que ela acreditasse.
- O que você escreveu? – seus olhos brilhavam de deleite.
- Ande, vá escrevendo.
Ela se debruçou sobre o baú ao pé da cama e olhou para mim com a pena na mão.
- O que escrevo?
- Diga que está indo embora, pois está cansada da sua vida. Seu marido está ficando pobre mesmo – aventei. – Deve ser bom o suficiente para que todos acreditem.
Ela sorriu de novo e começou a escrever.
Enquanto ela trabalhava com a pena, pensei em Harold. Como e onde ele estaria? Será que ainda estava vivo? Eu sempre pensava que ele poderia ter arrumado uma briga e levado um tiro ou uma facada. Não imaginava Harold longe de problemas. Subitamente tive raiva de Eustace. Sentia falta de Harold e a culpa fora de Eustace Bource. O fato de eu concordar com sua ação não vinha ao caso. Tinha que achar um culpado por estar longe do velho desdentado.
- Terminei – ela anunciou feliz me esticando a folha. Li contente.
Basicamente ela disse que havia se cansado daquela merda de vida que levava. Abigail usou justamente essas palavras. Continuava dizendo que amava seu marido, mas que não podia continuar ali. Tentaria a sorte em outro lugar.
Escreveu o que eu queria que ela escrevesse.
- Muito bom – sorri. – Agora, quando estivermos saindo, vamos deixar isso em algum lugar perto do balcão de Steve, para que ele encontre e espalhe a notícia.
- Ninguém irá atrás de nós! – exclamou com deleite.
Nós nos abraçamos e ela me olhou de cima a baixo.
- Você não trouxe mala? – parecia desconfiada e decepcionada ao mesmo tempo. Seus cabelos estavam soltos, e ela usava um gorro grosso.
- Está junto com os cavalos – comentei vagamente.
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Um Caminho Para o Inferno
ActionEldred Butler é um velho pistoleiro a beira da morte, que conta como foi sua movimentada vida. Uma vida repleta de pecados, crimes, roubos e assassinatos. Filho de um perigoso fora da lei, Eldred foi se vendo cada vez mais envolvido com o crime no v...