Manuela

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Abro só um olho e vejo a luz do sol que bate nas frestas da minha janela, as partículas minúsculas de poeira dançam no ar através da luz. Fecho o olho, inspiro fundo e finalmente abro os dois olhos e espreguiço-me. Viro-me e agora encaro o teto do meu quarto, minha cabeça está completamente vazia, nenhum pensamento. Apenas eu e o teto.

Depois de longos minutos, o primeiro pensamento a invadir a minha cabeça é a conversa com os meus pais, sobre a minha mudança.

- Manuela...

- Já estou descendo. – Grito. Minha mãe como sempre a última a dormir e a primeira a acordar e provavelmente já fez o café da manhã. "Ta aí" uma boa oportunidade, afinal estamos descansados e hoje é sábado... Família em casa.

Vou até o banheiro e escovo os dentes e desço as escadas feito um zumbi. O sábado de manhã é um dos dias mais preguiçosos.

- Bom dia filha. – Meu pai me dá um beijo na testa quando passo por ele, que estava indo se sentar.

- Bom dia pai, bom dia mãe. – Ela expõe o último item da mesa farta.

- Filha, comprei aquele queijo que você adora... Come com a torrada... – Só de pensar que no apê da Dani não terei essas mordomias, me corta o coração.

- Obrigada mãe. – Faço o que ela pede. – Preciso conversa com vocês. – Digo incisiva e meu pai agora me encara sob o jornal.

- Sobre o quê Manuela? – Meu pai diz um pouco severo.

- Que já estou grandinha o suficiente pra morar com vocês e preciso de independência, na minha vida pessoal.

- Por quê filha? – Diz minha mãe. Sou sua companheira e amiga, não vai ser fácil para ela.

- Mãe, eu irei morar com a Dani, vocês a conhece e é perto do meu serviço, lá terei mais liberdade. Obvio que irei ficar aqui quando quiserem, para visitá-los. – Mastigo a torrada e continuo. – Não é o fim do mundo, ainda vou estar dentro da capital. – Rio.

Os dois me encaram sem esboçar nenhum tipo de reação, como estátuas.

- Filha, dizer que amei sua ideia eu não vou dizer, mas se você acha que é preciso eu vou apoiá-la, a contragosto. – Ela tenta forçar um sorriso. Não pensei que seria difícil falar sobre isso com eles.

- Eu preciso mãe. As despesas não vão ficar pesadas, é perto do meu serviço e outra, sempre, sempre virei aqui. Aqui é minha casa e eu não vivo sem vocês.

- Você vai se mudar quando? – Meu pai diz ainda sério.

- Ainda não sei pai, queria primeiramente conversar com vocês.

- Bom... – Ele inspira e solta o ar e continua a falar. – Filha, se você quer isso o que mais posso fazer, a não ser a te ajudar? Mas prometa que qualquer coisa que aconteça, você volta para sua casa.

- Ok... Ok – Bato palmas, animada. Levanto-me e beijo meu pai e depois minha mãe. – Obrigada por me apoiarem nessa minha nova fase, por mais que isso não seja o que vocês queiram.

- Posso terminar meu café?

- Claro pai, açúcar ou adoçante? – Digo, tentando conter a animação.

- Puro. – Faço o que ele pede. – E você mãe?

- Suco.

- Ok, pra já. – E ficamos ali papeando sobre tudo, política, negócios, família.

- Eu contei para o seu pai que você foi viajar com aquele carinha motoqueiro... viu mocinha.

E minha mãe toca no assunto do Noah. Era tudo que eu menos queria. Cedo demais, literalmente, pra falar sobre ele.

Escolha (LIVRO UM) - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora