Julia

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Tenho que confessar que a cada dia venho me surpreendendo mais com o Enzo. Sua gentileza, otimismo e principalmente seu respeito, não só comigo, mas em seu trabalho e com os funcionários da Rivière, vem me ganhando a cada dia. 

O clima no escritório é excelente, se melhorar estraga. Não posso me queixar. O que é ótimo na minha desenvoltura para me tornar efetiva.   

Obvio que não me esqueci de tudo que ele aprontou comigo, mas sua regeneração tem sido verdadeira, conquistando não só a mim, mas como à todos.

Hoje sai a ordem do juiz sobre o caso que resolvemos juntos, que ocasionou a guerra e paz entre nós. Mas uma causa ganha não resolverá minhas finanças, nem me tornará em uma das milionárias do grupo Rivière. Então tenho que voltar minha atenção  em outros casos.

- Almoço? – Dou um sobressalto, quando a voz do Enzo invade minha mini sala.

- Não sei...

- Não venha com essa de "eu estou cheia de processos"....

- Mas eu estou.

- E eu mais ainda, mas para ganhar todos eles preciso me alimentar. Assim como você. – ele insiste.

- Enzo, não sei se é bom ficarmos saindo, tomando um café aqui ou ali.

- É um almoço de comemoração.

- Já saiu a ordem do juiz?

- Sim. E o nosso cliente se deu bem.

- Ai que ótimo. Seu tio... – Lembro-me que ainda estou no trabalho. – Dr. Carlos já sabe?

- Acabei de notificá-lo.

- Ainda não sei...

- Qual é Julia, – ele se desprende da porta e caminha até a poltrona e se senta. – Isso não é um jantar, não é um encontro, nem nada do tipo. Apenas quero que você almoce comigo. Aliás tenho fome de comida, não pretendo te comer. – Ele ri. Sei que isso surtiu um efeito nas entrelinhas, mas ignoro.

- Onde?

- É uma surpresa. Sei que as estagiarias sofrem com a pressão dos chefes, do trabalho. Então acho justo pagar um almoço em um lugar decente, pelo menos uma vez.

- Mas eu não sou sua estagiaria. – Eu o lembro.

- Não, mas você aprendeu alguma coisa comigo, assim como eu aprendi com você.

- Acho que não tenho como contestar.

- Pensei que levaria a juri.

- Pensando bem... – brinco. – Combinado, só me avisa um pouco antes. Você sabe...

- Maquiagem, cabelo...

- Exatamente. Não quero que digam que me visto mal, ainda mais estando com você.

- O que isso quer dizer? – Vejo seu interesse.

- Como sou da Rivière, não posso me permitir estar mal apresentável.

- Você nunca está.

- Obrigada, mas tenho que estar no minimo bonita.

- Tudo bem, afinal você vai estar comigo. – Eu o encaro de forma rude, às vezes vejo um resquício do antigo Enzo. – Brincadeira. O dever me chama. – Ele aponta para sua sala.

- Igualmente. – sinalizo para os papéis.

O vejo sair da sala mais confiante, com um brilho diferente. Como a minha sala é envolta de vidros, seu caminhar entrega o passo firme, deixando transparecer a alegria. Diria que é bem contrastante com o seu antigo eu. Mas prefiro essa versão.

Escolha (LIVRO UM) - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora