Escolha (LIVRO UM) - EM REVISÃO

Manuela

Elas contam suas desgraças como se estivessem trocando figurinha, ou comentam por serem mais fortes do que eu, mas diante dos acontecimentos nenhuma atitude e reação irá me surpreender.

- Falei com o Gustavo e eu expliquei tudo o que sentia, o que achava e esperava. Ele disse que largaria a Ashley...

A Dani é a mulher mais versátil e liberal do mundo, quiçá da galáxia, mas ao ouvir palavras soltas sobre o que aconteceu entre eles me deixa um pouco triste, queria muito que ela fosse feliz com ele. Porém, esse relacionamento de cão e gato, amizade colorida como foi denominado por ela, só seguiu esse caminho por sua escolha e de mais ninguém.

- Ele faria qualquer coisa por você.

- Pois é, por mim e é isso que não quero. Eu quero ele inteiro, não por pressão, nunca fui de sentir ciumes, prender pessoas por isso, eu quero ele aqui comigo por livre e espontânea vontade. E se ele está feliz e foi o que me pareceu quando vi os dois agarrados, não quero estragar, ele merece toda a felicidade do mundo, assim como ele me proporcionou durante muito tempo essa felicidade.

- Mas vocês se amam.

- O amor nunca é como em livros e filmes, as pessoas fazem suas escolhas e eu fiz a minha. Desejei felicidade e que se ele quisesse uma consultora pra ajudar...

- Mas você sabe que ele não quer isso de você.

- Ele até tentou se justificar, mas em nenhum momento ele disse "eu te amo, vamos ficar juntos", então prefiro viver em paz e que se for pra ser sem ele, que seja. Vida que segue, eu amo o mundo e as pessoas e o sexo está aí pra suprir essa necessidade de ter alguém.

Ela é um ser tão evoluído que tudo se resume no sexo. Dependendo da transa, se é mais suave ou bruta, denomina a personalidade da pessoa, o tato é o "eu te amo e venero seu corpo", já estar dentro da pessoa é uma forma de sentir sua alma, fazer carinho após o sexo é dizer "estarei aqui com você" – o que é bem difícil de acontecer –, agora, se ficar de manhã e ainda rolar mais uma transa, é romance na certa.

É um pouco complicado de entender tal análise, mas para ela é tão certo, que quando o Gustavo apareceu foi tudo invertido – no sentido emocional – e ela acabou se embananando nisso tudo, como foi comigo.

- Mas, a única que soube dar o troco na medida foi você. Você sabia Manu, que a Julia jogou a chave do camaro do Enzo pela janela?

- Não. – respondo inerte ao assunto traição e término.

- Não só joguei a chave, como quebrei todos os vinhos caríssimos, transei com a Raquel, na cama e bem na fuça dele. Tá pra nascer homem que vá pisar em mim. – ela bufa, com deboche. – Não nasci pra fazer papel de idiota. – A Ju despeja as palavras de rancor, mas só depois se dá conta que eu fui a única idiota dentre nós três. Que além de ser traída, foi atrás, remoer mais a ferida. – Aí, me perdoa... Desculpa Manu.

- Alguém tinha que ser coerente nisso tudo. – respondo friamente.

- Pois é, eu aceitei a condição de que fui traída, mas homens tem aos montes. Só não sei se vou encontrar alguém à altura dele, que saiba fazer aquele rebolado gostoso em cima de mim, mas enfim... – ela ri. – E o Cris?

A Julia, depois de sua decisão desse ioiô com o Cris, resolveu ficar com um cara perverso e pervertido, em todos os sentidos. O cara usou e abusou da sua paciência, mas mesmo assim ela deu um voto de confiança, que resultou nessa tragédia grega, que ela mesma contou e que ela mesma escolheu. E por ser essa mulher ponderada, sensata e até sensível, deu no que deu.

Hoje vejo uma Julia mais fria, e sinceramente não a culpo.

Como ficará seu coração? Só ela sabe, mas se um dia ela confiar em outro alguém, – o que acho pouco provável – pode ter certeza que esse cara estará travando várias batalhas, quebrar esse gelo dela, será uma guerra.