O Garoto que gosta de preto (Hanna)

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*Skandar Keynes como Tooth*

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QANDO TORNEI A ACORDAR, estava em cômodo pequeno e empoierado, cuja única e tênue iluminação vinha de uma janela de vidro quebrada. Todos se movimentavam para despertar ao mesmo tempo, resmungandos coisas indistinguíveis. O cômodo estava vazio, exceto por umas vigas de madeira puídas caídas em um canto perto da janela. O cheiro era peculiar, mas nada bom. Demorei a distinguí-lo, até chegar a conclusão de que era mofo.

Me sentei, torcendo o nariz.

- Onde estamos...? - Finnie perguntou, mais para si mesma do que para mim.

- Eu não faço a menor ideia. - respondi - Só posso dizer que não estou gostando nadinha.

Finnie olhou-me. Estava inexpressiva, me avaliando como se eu tivesse dito algo de muito errado.

- Às vezes me esqueço de que você pode falar - disse, ríspida.

Não gastei muito tempo pensando no motivo pelo qual Finnie usara um tom tão seco ao se dirigir à mim. Na minha cabeça, tudo estava claro. Ela se lembrara dos anos em que vivera à minha sombra, sem conseguir se destacar pelos seus talentos. Se lembrara do desprezo constante com o qual sofria, e de quantas vezes terminou sozinha e aos prantos. Se lembrara do dia em que, pensando somente em mim, eu viajara para a Terra dos Metamorfos e a deixara, quase causando a sua morte... De que nem tudo era tão bonitinho quanto ela pensara.

As respirações tensas se misturavam ao ar rarefeito da salinha, e deixava a impressão de que todos morreríamos sufocados. Meu coração martelava no peito. Tudo estava tão confuso...

Foi nesse instante que surgiu na porta um rapaz, cujos cabelos negros e lisos estavam perfeitamente penteados, caindo sobre as orelhas e a testa, e os olhos eram escuros e misteriosos. Ele trajava preto; tanto a blusa de mangas, quanto a calça.

Assim que ele passou, fechou cuidadosamente a porta atrás de si e foi engolido pela penumbra, deixando à vista apenas o seu contorno.

- Quem é você? - disparou Phill - O que você quer?

A silhueta permaneceu imóvel.

- Descreva-o - Maky resmungou.

- Ah, sério? - Rogi arqueou as sobrancelhas - Então está bem. Um cara pálido que gosta de preto.

- Foi de grande ajuda, sr. Resumido - Maky falou, irônica.

Passos ecoaram pela sala, enquanto o rapaz se aproximava. Quando seu rosto entrou no meu campo de visão, eu constatei que ele era um rapaz bonito, e jovem demais para ser tão sério. Ele agia como se estivesse perto de nos matar...

- Olha, é melhor você falar logo quem você é! - exigiu Rethes - Eu sou uma dominante da natureza completa. Não vai querer mexer comigo!

O rapaz se sentou no chão, cruzando as pernas. Seus movimentos eram lentos e impassivos, aumentando o suspense.

- Meu nome é Tooth Osword - sua voz rouca e grave me fez estremecer - e eu também sou um dominante da natureza completo.

- O quê? - Stiven se pronunciou. - Como assim? Dominantes completos são extremamente raros! Em toda a minha vida, só conheci três completos; nem mesmo a Criatura Estúpida e a Hanna são.

O olhar de Tooth passeou entre nós.

- Samier e eu deveríamos ser os os escolhidos ao invés das gêmeas. - ele começou a explicar. - Nós éramos as crianças mais poderosas de nossas Terras, as crianças que Dill adoraria ter em seu jogo. Mas minha mãe, uma mulher desesperada para proteger o filho, fez um acordo com Myafa, a Pérola. Ela deveria proteger-nos, a mim e à minha amiga Samier, e em troca minha mãe daria à Myafa o que ela quisesse. Myafa não queria nada; ela sabia que quando Dill descobrisse, ele a puniria. Ela só pediu para que Samier fosse levada para longe de mim, e que nós fossemos soltos em florestas, porque assim ela conseguiria inventar uma boa desculpa para o que fez. Dill não nos tocaria, e ela teria feito a proteção unicamente para preservar nossas vidas na floresta.

- E eu suponho que não tenha dado muito certo - Maky falou amargamente.

Tooth a olhou demoradamente.

- Não deu. - afirmou - Dill teve que escolher outras pessoas ao invés de nós dois, mas ele não perdoou. Ele afastou Myafa do cargo de Pérola, e sua magia em torno de mim e de Samier desapareceu. Tenho vivido meses aqui, sem poder voltar, e convivendo com os Carinhas Invisíveis.

- Carinhas Invisíveis?! - exclamamos Finnie, Phill e eu ao mesmo tempo.

Tooth apoiou os braços em suas coxas, como quem medita. Seus olhos tremeluziram e ficaram totalmente castanhos e reluzindo a pouca luz proveniente da janela.

- Dill não ia ficar por baixo. - falou - Ele quis se vingar. Ele quis mostrar quem é que manda. Então ele simplesmente mandou esses assassinos invisíveis para me perseguir.

- O que são exatamente esses Carinhas? - quis saber Rogi.

- Eu não sei dizer direito - Tooth disse - só o que sei é que são resultado da mistura de raças. Eles têm talentos demais: podem ficar invisíveis, se teletransportar, mover coisas com a mente e, para piorar, são assassinos natos. - e então ele baixou o tom de voz até estar sussurrando - Eu vou resumir para vocês: estamos em uma ilha, mas ao invés de mar, temos um precipício infinito nos cercando. E aqui está cheio de Carinhas Invisíveis.

Rethes pareceu engasgar, e Phill soltou um xingamento. Eu simplesmente não tive qualquer reação, apenas fiquei ali, olhando para Tooth com a boca aberta e os olhos esbugalhados. Então William tinha falado a verdade - estávamos no lugar onde havia a rachadura. Isolados. Sem poder passar. E o mais assustador: presos com assassinos.

Se eu soubesse que esse seria o preço para que eu voltasse a falar, eu preferia ficar muda.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora